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Quem joga, sabe

Seu próximo game favorito pode ser chinês

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Por Bruno Capelas
Atualização:

Você pode nem saber direito quem é a Tencent - uma das principais empresas de tecnologia chinesas -, mas provavelmente já jogou (ou viu alguém jogar) um dos games dela. Não que a companhia, fundada em 1998 e conhecida especialmente pelo aplicativo de mensagens WeChat, seja uma grande desenvolvedora de jogos. Pelo contrário: a força da empresa está justamente em identificar grandes tendências dos games, e, aos poucos, construir um império pelas beiradas.

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Esse império ganhou mais um importante território na última terça-feira, 21, quando a chinesa adquiriu, por US$ 8,6 bilhões, a finlandesa Supercell, responsável por populares jogos de celular como Clash of Clans e Clash Royale. (Eu sei, você vai dizer que não joga joguinhos de celular, que isso é coisa de "jogador casual", mas no fundo, todo mundo esconde o Candy Crush nosso de cada dia).

A princípio, o investimento deve ajudar a Supercell a entrar no mercado chinês - um dos mais lucrativos para os jogos para dispositivos móveis. Com a aquisição, a Tencent-Supercell deve ter aproximadamente uma receita de US$ 13 bilhões este ano, controlando sozinha 13% do mercado de games do mundo, de acordo com a consultoria Newzoo - e essa avaliação exclui algumas peças importantes do quebra-cabeça da empresa.

Outro peça do mundo dos games dominada pela Tencent é o divertido Two Dots, que reúne puzzles com bolinhas coloridas, feito pela Playdots. Ok, você não joga games de celular? A Tencent também é dona da Riot Games, cujo jogo mais conhecido é o popular League of Legends, uma força não só dentro do mundo dos games online de PC, mas também do lucrativo mercado de eSports - que deve valer US$ 500 milhões este ano, segundo a consultoria Deloitte.

Já sei: você acha que ficar horas e horas lutando em uma arena com uma infinidade de "bonecos" é bobagem? Seu negócio são jogos de console, com games de tiro e partidas que duram horas e horas no sofá? Então tá: a Tencent também possui uma participação na Activision-Blizzard, que faz games como Call of Duty, Destiny e o novato Overwatch. Isso para não falar no fato que a chinesa também tem ações da Paradox Interactive - distribuidora europeia que tem os direitos de Knights of Pen & Paper, um dos jogos brasileiros mais bem-sucedidos comercialmente da história - e da Epic Games, desenvolvedora responsável por títulos como Unreal e Gears of War. E claro, nos inúmeros jogos online que a empresa possui voltados para o mercado chinês. Ufa...

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É difícil dizer se a Tencent "pretende" apenas faturar com participações em grandes empresas de jogos ou se isso é apenas um passo para aprender como se faz. Se a segunda resposta for o caso, a empresa seguiria um exemplo que outras companhias de tecnologia chinesas fizeram no mundo dos smartphones: antes associadas à produtos inferiores, hoje fabricantes do país asiático, como Huawei, Lenovo, Xiaomi e HTC são protagonistas no mercado mundial, ameaçando o poderio da dupla Apple e Samsung.

A previsão pode parecer esquisita para quem cresceu acostumado a jogar games desenvolvidos por japoneses, americanos e - vá lá -, europeus como a Ubisoft e a Rare. No entanto, o mundo dos games hoje está cada vez mais globalizado: pense no exemplo da Polônia, da Suécia ou até mesmo nos grandes jogos que o Brasil tem produzido. Nada impede que a China entre na brincadeira - e a Tencent parece ser a empresa com a faca e o queijo na mão para isso acontecer de forma maciça. Enquanto isso não acontece, ao menos o bolso da empresa está cada vez mais cheio com o dinheiro de seus investimentos em jogos "ocidentais" - e o seu jogo favorito, caro leitor, tem ao menos um percentualzinho chinês.

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