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Quem joga, sabe

The Evil Within quer que você apague a luz

Análise do jogo mais recente de Shinji Mikami, o mesmo criador da série Resident Evil

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Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

por Luiz Fernando Toledo

 Foto: Estadão

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Na medida em que os filmes de terror passaram a perder cada vez mais a graça, os games acompanharam a tendência. Com base em sustos para lá de repetidos (mas de novo o fantasma no espelho do banheiro?), o terror passou a à ação frenética e, não que os jogos fossem ruins, deixaram o arrepio de lado para dar lugar à adrenalina. Foi assim a partir de Resident Evil 4 (RE) , no Gamecube, e acabou na obra-prima The Last of Us (TLOU), para PS4. Eis que o mesmo criador de Resident, Shinji Mikami, retoma o posto com The Evil Within.

Desesperador é um bom termo para este survival horror. Mesmo para os"vacinados" contra o gênero, não é nada fácilestar na pele dodetetive Sebastian Castellanos, que investiga uma série de assassinatos em um hospital psiquiátrico. Prepare-se para andar por salas absurdamente sujas, escuras, detonadas e repletas de substâncias indecifráveis pelas paredes.

 Foto: Estadão

A história do game é bastante confusa, desenvolvida em uma série de flashbacks, além de idas e vindas em cenários que parecem não criar ligação entre um e outro. Isto pode desanimar o jogador mais determinado a compreender o enredo, que mais cria dúvidas do que amarra os episódios. Durante o game, você é perseguido por um fantasma misterioso que mais parece o herói de Assassin's Creed. Homens infectados com o rosto desfigurado, figuras demoníacas de olhos brancos e açougueiros matadores clichê são alguns dos inimigos que surgem na tela.

Ainda no aspecto enredo, outro ponto negativo é o próprio protagonista. Inexpressivo, as falas de Castellanos parecem não dialogar com o cenário grotesco em que ele se encontra. Aliás, ele quase não fala, só abre a boca para dizer amenidades - sempre no mesmo tom sóbrio e sem graça. Esqueça aqueles diálogos cinematográficos entre Joel e Ellie, que tornaram a experiência de TLOU brilhante. Aqui o enfoque está nas cores, na trilha sonora e nas perseguições que causam agonia a qualquer pessoa.

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A jogabilidade ajuda no quesito "alguém me tira daqui pelo amor de deus": ao contrário de outros jogos do gênero, quase não há munições. São poucas armas, nada efetivas contra os monstros. Nem tiro na cabeça mata o inimigo na primeira tentativa. O acervo também é breve - pistola, arpão (que pode receber munições variadas), shotgun e tochas acesas que incendeiam os monstros. E você é bastante frágil: nem tente sair no soco, pois na maioria das vezes terá uma morte nada agradável.

Os controles são bastante parecidos com RE4 e TLOU, mas com algumas falhas na câmera. É insuportável ter um inimigo na cola sem conseguir vê-lo direito nem atacá-lo com precisão. Se você não tiver seguido o meu conselho acima e tentar matar alguém com as mãos, pior ainda: não há "combos" físicos e a câmera não acompanha os golpes. Depois do terceiro soco, você não estará mais entendendo nada da batalha.

Os menus de troca de armas também ficaram um pouco confusos, mas nada que comprometa a jogabilidade depois de algumas horas jogadas - até porque você vai trocar poucas vezes de armamento. Há ainda a necessidade constante de coletar caixas de fósforo para incendiar o corpo dos inimigos que você matar - outro desafio que se soma à escassez de materiais.

 Foto: Estadão

Para compensar esta "fraqueza", o jogo dispõe de alguns upgrades no poder das armas, além do aumento de munição, vida, entre outros. A forma como se este upgrade é bastante peculiar: o jogador se senta em uma cadeira para lá de macabra, tem os braços presos e recebe um choque cerebral em um capacete no melhor estilo "Jogos Mortais".

Ah, isso tudo dentro de uma sala toda escura, com uma música assustadora e uma enfermeira fantasma atrás de você. Mesmo assim, na maior parte das vezes será necessário escolher com quem usar a arma. Outra possibilidade é matar inimigos na furtividade: chegue agachado por trás e arrebente o botao X para esfaquear a cabeça dos monstros.

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A sequência do game não é enjoativa, mas chega a cansar em alguns momentos pela tensão. Toda vez que desliguei o console, o fazia com certo tom de nervosismo, pensando: "chega por hoje". A dose é altíssima - muitas mortes bizarras. Você nunca se viu sendo cortado ao meio tantas vezes, ouassistiu ao seu crânio sendo esmagado com tanta frequência. Os chefões são desafiadores e com uma vida considerável.

Para piorar, há bombas e armadilhas espalhadas por todos os cantos, inclusive em baús que supostamente guardariam itens. Nada mais desesperador do que ser completamente despedaçado por uma bomba porque você não apertou o botão na hora certa - o que não é nada difícil de ocorrer.

Entre um cômodo e outro, os famosos puzzles dominam a cena - vai ser preciso achar muitas chaves, apertar botões corretos e fugir de armadilhas mortais.

 Foto: Estadão

Vale a pena?

Depois das primeiras horas jogadas, sem dúvida. Tive meus receios com a jogabilidade e o enredo, mas este aspecto "macabro" me fez querer revisitar o jogo inúmeras vezes. Chegar em casa e ligar o console para mais uma dose de nervos. É um jogo quase "masoquista" - quem é que gosta de repetir uma dose de algo que faz sofrer? Um sofrimento psicológico, é claro,daqueles que te fizeram ver "Albergue" até o fim. Se são estas as experiências que deseja testar, este é o seu jogo.

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The Evil WithinDesenvolvedora: Tango GameworksPublisher: Bethesda SoftworksPreço: R$ 199,00Plataformas: PC, PS3, PS4, Xbox 360 e Xbox One.Já disponível no Brasil

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