
Renato Cruz
Círculo completo
19/01/2014 | 10h00
Por Renato Cruz
Qual é o efeito das redes sociais nas nossas vidas? Na sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que vai limitar a ação da Agência Nacional de Segurança de seu país (NSA, na sigla em inglês), que teve, no ano passado, suas atividades de espionagem denunciadas por Edward Snowden.
Mas, além da espionagem, enfrentamos o problema da evasão da privacidade. Informações pessoais são divulgadas voluntariamente, em troca de serviços gratuitos na internet, de visibilidade e da participação em uma comunidade maior, em que os relacionamentos consistem em curtidas em informações compartilhadas, publicações de poucas palavras, participações em grupos nos quais as pessoas não estão realmente interessadas e recomendações de quem nem se conhece de verdade.
No romance The Circle (que a Companhia das Letras planeja publicar por aqui no segundo semestre), o escritor americano Dave Eggers mostra como esse cenário, aliado à concentração crescente do acesso à informação nas mãos de poucas empresas, pode levar à criação de um ambiente de vigilância global, em que governos são controlados por interesses privados, e cidadãos viram usuários. A mentalidade de linchamento que muitas vezes predomina nas redes sociais passa a ser a regra, e a determinar decisões que seriam de política pública.
O Círculo do título é uma empresa que teria, num futuro muito próximo, substituído companhias como Google, Facebook e Twitter e assumido uma posição dominante em buscas, redes sociais, pagamentos eletrônicos e outros serviços importantes da rede. O romance conta a história de Mae, uma jovem contratada para a área de atendimento a clientes do Círculo, e mostra a sua ascensão na empresa, acompanhada do afastamento da família e dos amigos.
Mercer, um ex-namorado de Mae, chega a alertá-la: “Quer dizer, todo esse negócio em que você está envolvida, é tudo fofoca. É gente falando de outras pessoas pelas costas. É isso a grande maioria da mídia social, todas essas avaliações, todos esses comentários. Suas ferramentas elevaram a fofoca, o boato e a suposição ao nível de comunicação válida e dominante”.
Uma das principais novidades lançadas pelo Círculo depois da entrada de Mae na empresa é uma câmera pequena e barata chamada SeaChange. Com esse dispositivo espalhado por toda parte, o Pequeno Irmão – ameaça à privacidade surgida a partir dos celulares com câmera que todos carregamos nos bolsos – é levado às últimas consequências. Em nome de uma pretensa “transparência”, o Círculo passa a adotar lemas como “segredos são mentiras” e “privacidade é roubo”. Para Mae, as consequências são trágicas, mas, de tão envolvida por essa ideologia, ela mal percebe.
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