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Relevância e jornalismo cidadão

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Por Renato Cruz
Atualização:

Não lembro onde eu li que o problema da internet é que ela tem mais gente querendo falar do que querendo ouvir. O chamado jornalismo cidadão, feito por pessoas que não são jornalistas profissionais, promete democratizar a comunicação. Marcos Matamorros, do blog A Torre de Marfim, comenta notícias do serviço VC no G1:

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"São as maravilhas da interatividade. É a velha crença de que as pessoas têm coisas interessantes para contar. Acredite: não têm. A maior parte das pessoas é desinteressante e tem vida desinteressante, cujos pontos altos são ver o cantor do Araketu jogando bola em Itajubá ou assistir ao desfile de sete de setembro em Quixeramobim. Para quem mora em Itajubá ou Quixeramobim, é provável que a participação do cantor do Araketu numa pelada ou o desfile de sete de setembro são o máximo de excitação, mas mesmo assim eu me admiro com a necessidade que as pessoas têm de compartilhar essas experiências."

O escritor de tecnologia Nicholas Carr, em seu blog Rough Type (em inglês), trata de um estudo do Project for Excellence in Journalism, que analisou por uma semana os sites Reddit, Digg e Del.icio.us, em que os leitores escolhem as notícias importantes e votam nelas.

Os temas que receberam destaque na grande imprensa mal apareceram nos sites em que o usuário é o editor. Ao mesmo tempo, o Del.icio.us e o Reddit deram links para uma história sobre frutas e vegetais que comem uns aos outros em fotos modificadas digitalmente. E o Digg e o Reddit linkaram um site que mostrava fotos tiradas com uma câmera presa a uma pipa.

Carr escreve:

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"Os tecno-utópicos têm acreditado que o jornalismo cidadão oferecerá um antídoto à mudança em curso de hard news (sobre os fatos mais importantes do dia) para notícias mais leves, e irá compensar a tendência de notícias-como-entretenimento e entretenimento-como-notícia. Mas a indicação até agora é precisamente o oposto. Quando editores profissionais são substituídos por uma multidão ou uma rede social, acontece na verdade a aceleração do emburrecimento do noticiário. As notícias se tornam um fluxo de pedaços de junk-food. As pessoas que eram chamadas de audiência podem se tornar as pessoas que eram chamadas de informadas."

Uma questão importante é que as pessoas que costumavam ser a audiência também querem se expressar e a tecnologia permite isso. Não sei se é certo esperar que esse conteúdo tenha relevância para um grande número de pessoas, como aquele gerado pelos meios tradicionais. Ou ainda esperar que ele venha no formato de notícias. É ótimo deixar as pessoas falarem, desde que eu não seja obrigado a ouvir.

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