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Riqueza na base da pirâmide

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Por Renato Cruz
Atualização:

Em 2005, quando o professor Stuart Hart (foto), da Universidade Cornell (Nova York), publicou um livro intitulado Capitalismo na Encruzilhada, houve quem perguntasse a ele: "Você não acha esse título um pouco forte?" Depois da crise financeira mundial, já não fazem essa pergunta, garante Hart. Apesar do nome pouco otimista dado ao livro, Hart enxerga uma oportunidade no que outros podem ver problemas: uma população global de quatro bilhões de excluídos e um planeta varrido por problemas ambientais criados pelo homem. Para ele, as empresas podem transformar excluídos em consumidores, contribuir com a preservação do ambiente e ainda ganhar dinheiro no processo.

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Ele criou um método batizado Protocolo da Base da Pirâmide, para que empresas consigam criar negócios sustentáveis em parceria com a comunidade local, gerando ao mesmo tempo renda e consumo. Hart participa hoje da 10.ª Conferência da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), em Curitiba. Na semana passada, ele conversou com o Estado, por telefone.

Quais oportunidades o senhor identifica no Brasil?

O Brasil é amplamente urbanizado. Existem muitas pessoas de baixa renda em favelas e comunidades urbanas. Obviamente existe a Amazônia, que é uma história diferente. Acho que o desafio da urbanização é o maior do Brasil. Como transformar as favelas em construções mais sustentáveis? Existe uma oportunidade de fazer isso, de dar um salto adiante, na direção da sustentabilidade.

O Brasil tem um programa de habitação em andamento, sem muita preocupação com a sustentabilidade.

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É uma oportunidade perdida. A ideia do salto verde é que muitas dessas tecnologias funcionam melhor de maneira distribuída. Seja na água em escala residencial, na energia solar distribuída, na energia eólica de pequena escala, nos novos materiais e biomateriais. A maioria delas é mais bem aplicada em construções novas. É mais difícil transformar um edifício antigo numa construção sustentável. O problema nos Estados Unidos, apesar de o presidente Obama ter falado em colocar desempregados para tornar os edifícios existentes mais verdes, é que o melhor que se pode fazer é instalar algum isolamento térmico.

Na sua opinião, por que as construtoras não adotam essa ideia?

Ainda existe a percepção de que construções sustentáveis são mais caras, de que elas são para ricos. Mas podemos apontar exemplos que mostram ser possível dar um salto na direção da sustentabilidade, com um custo muito parecido ao de uma construção convencional e com um custo de manutenção bem abaixo. Um bom exemplo nos EUA é uma fundação chamada Make It Right, em Nova Orleans, criada pelo ator Brad Pitt. Um ano depois do furacão Katrina, a região de Lower 9th Ward, uma das mais pobres da cidade, estava praticamente igual a uma semana depois do furacão. Nada estava acontecendo. A Make It Right desenvolveu um novo padrão de construção, que permite construir edifícios autossustentáveis do ponto de vista da energia, que capturam a maior parte da água que usam, e que são resistentes a tempestades. Ao mesmo tempo, são bastante confortáveis. O projeto chegou a um ponto em que consegue fazer construções como essas a um custo equivalente ao de construções convencionais.

Onde o Protocolo da Base da Pirâmide está sendo usado?

Um exemplo recente é uma empresa iniciante no México com que estou envolvido, chamada The Water Initiative (TWI), que desenvolveu um sistema residencial de purificação de água. O maior problema no Norte do México não é a contaminação por micro-organismos, mas por flúor e arsênico. Não há boas maneiras de retirar esses produtos de forma centralizada, que é extremamente cara. Nós criamos uma maneira residencial de retirar o arsênico e o excesso de flúor da água. Parceiros locais desenvolveram sucos de fruta, molhos, sopas e outros produtos que usam a água purificada pela TWI, que vendem por conta própria. A ideia é muito maior do que vender um filtro de água.

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No Estado de hoje ("'A riqueza está na base da pirâmide', para assinantes, p. N5).

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