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Ruptura polêmica

Conceito de "inovação de ruptura", criado por Clayton Christensen, é questionado

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Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

O dilema da inovação, publicado em 1997 pelo professor de Harvard Clayton Christensen, é um dos livros de administração mais influentes das últimas décadas. O conceito de inovação rompedora ("disruptive innovation", em inglês) acabou se tornando um dos mais celebrados no mundo dos negócios, dos empreendedores do Vale do Silício a gestores de áreas como saúde e educação. Na edição mais recente da revista New Yorker, a historiadora Jill Lepore critica o conceito e o autor.

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Basicamente, Christensen mostrou, em seu livro, que algumas empresas podem enfrentar problemas por fazer as coisas certas, como sempre fizeram, ao deixarem de perceber que o mercado mudou. O professor classificou como inovações rompedoras produtos, serviços ou processos que destroem o mercado antigo e criam um novo. Como os smartphones e tablets fizeram com os microcomputadores.

Jill Lepore começa com críticas ao uso exagerado do conceito de ruptura. Existem atualmente cursos de ruptura em universidades de administração nos Estados Unidos e eventos dedicados a esse assunto. "Disruption" virou um mantra nas startups americanas. Novos trabalhos - como Big Bang Disruption, de Larry Downes e Paul Nunes, resenhado neste espaço - ampliam e atualizam o conceito.

Ela passa a criticar o conceito em si, dizendo que ele serve para estudar o passado, mas não para fazer previsões sobre o futuro. Segundo a historiadora, só dá para saber se uma inovação é rompedora posteriormente, depois de conhecer a mudança que ela trouxe ao mercado.

E então ela aponta problemas nos próprio método utilizado por Christensen. Lepore questiona os casos escolhidos por ele, a classificação que ele faz de empresas que seriam rompedoras e até o fato de ele ter escolhido alguns casos específicos para justificar o conceito.

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Entre as críticas feitas pela historiadora ao autor, está o fato de ele ter previsto que o iPhone seria um fracasso, na época do lançamento. Christensen respondeu às críticas em uma entrevista à BloombergBusinessweek. Sobre o iPhone, ele disse que interpretou o celular da Apple como uma inovação sustentadora (que traz melhorias incrementais) aos aparelhos da Nokia, então líder de mercado.

Ele admitiu não ter percebido que o iPhone era uma inovação rompedora em relação ao notebook. "E isso realmente me ajudou com a teoria, porque tive de descobrir: quem você está rompendo?", afirmou o autor.

Christensen rebateu as acusações de Jill Lepore. Segundo ele, muitas das críticas feitas por ela são respondidas em trabalhos posteriores. O professor de Harvard disse que ela não poderia ter escrito o que escreveu sem ter lido mais que o primeiro livro. "Eu poderia enumerar 10 ou 15 problemas com a teoria de ruptura que realmente precisam ser atacados e entendidos", argumentou.

Destruição

A origem da teoria da ruptura pode ser encontrada na "destruição criativa" definida pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, em que a chegada de um novo ciclo tecnológico destrói empresas líderes e cria novos gigantes. Para Schumpeter, esse movimento é inerente ao capitalismo, fazendo com que recursos que eram empregados de forma ineficiente sejam liberados para fomentar uma nova onda de crescimento.

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Mudança

Christensen disse à BloombergBusinessweek que sua teoria da ruptura mudou bastante desde a publicação de O dilema do inovador, e que está em constante evolução: "Eu poderia enumerar todos os tipos de problemas que precisam ser resolvidos, porque a teoria é desenvolvida num processo, não num evento". Assim como Christensen, Jill Lepore é professora em Harvard.

No Estado de hoje ("Ruptura polêmica", p. B11).

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