Foto do(a) blog

Informações sobre tecnologia

Segredos de negócio

O Brasil tem boas regras de defesa de segredos de negócio, mas, na prática, elas não funcionam

PUBLICIDADE

Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

Nem tudo que a empresa desenvolve é patenteado. Existem informações que são mantidas como segredos de negócio, e podem ser desde uma tecnologia ou processo até a estratégia de lançamento de um produto. Recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um estudo em que compara a proteção legal de segredos de negócio em 21 países, incluindo o Brasil.

PUBLICIDADE

O Brasil ficou em 14º lugar no Índice de Proteção de Segredos de Negócio, abaixo da média mundial, mas à frente de Índia, Rússia e China. As contradições típicas do País aparecem, no entanto, quando damos uma olhada nos componentes do índice. O Brasil ficou em sétimo lugar em "definição e cobertura". Ou seja, nas regras gerais a respeito do tema. E ficou em último em "funcionamento do sistema e regulação relacionada". Ou seja, na maneira como essas regras são colocadas em prática. Como acontece em outras áreas, temos uma boa legislação que na realidade não funciona.

As regras sobre segredos de negócio no Brasil estão no capítulo que trata de concorrência desleal na Lei de Propriedade Industrial (9.279/1996). "O arcabouço jurídico é bom", afirmou, em conversa por telefone, Diana Jungmann, coordenadora do Programa de Propriedade Intelectual da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Fazer acontecer o que está na lei ainda é difícil."

Entre as definições de concorrência desleal trazidas pela lei está a divulgação, exploração ou utilização, sem autorização ou por meios ilícitos, "de conhecimentos, informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços". As estratégias de negócio também entram nessa definição, como, por exemplo, a forma como a empresa organiza sua cadeia de fornecimento.

Alguns problemas estão nas próprias empresas. Caso haja vazamento de segredos de negócio, cabe à companhia detentora da informação provar na Justiça que a informação era protegida. Um instrumento importante são contratos de confidencialidade, que devem ser assinados pelas pessoas que têm acesso àquela informação. Outros são proteções físicas, como o controle de acesso ao local onde documentos são guardados, e lógicos, como sistemas criptográficos para manter a informação protegida.

Publicidade

A dificuldade em se cumprir as regras que protegem os segredos de negócio pode estar limitando investimentos no País, principalmente na área de pesquisa e desenvolvimento. O investidor precisa ter garantias de que sua propriedade intelectual será respeitada. "Acredito que várias empresas pensam duas vezes antes de fazer o investimento", disse Diana Jungmann. "Quem vem fazer pesquisa no Brasil verifica uma lista de itens e, com certeza, proteção à propriedade industrial é um deles."

Opção

Mas por que uma empresa opta por manter alguma coisa como segredo, no lugar de registrar uma patente? Quando fiz entrevistas para meu livro O desafio da inovação, lançado em 2011, alguns entrevistados justificaram a opção. "O registro de patentes no Brasil demora tanto que, se a tecnologia não for óbvia, se o concorrente não conseguir descobrir como funciona simplesmente olhando, prefiro manter como segredo industrial", disse um deles. O registro de uma patente pode levar oito anos.

Prazo

Outro motivo está no prazo de duração da patente, de 20 anos. Uma empresa de refrigerantes, por exemplo, espera que seu produto fique no mercado muito mais tempo que isso. Então, acaba optando por manter sua fórmula como segredo de negócio, sem registrar patente, para que ela não caia em domínio público em duas décadas.

Publicidade

No Estado de hoje ("Segredos de negócio", p. B10).

Siga este blog no Twitter: @rcruz

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.