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Silvio Meira, investidor

Por Renato Cruz
Atualização:

"A minha visão de mundo é mais ou menos a seguinte: tudo vai dar errado", afirma o professor Silvio Meira (foto). Para quem não o conhece, ao ouvi-lo dizer isso, fica difícil imaginar que se trata de alguém que já fez tanto. Silvio Meira criou o polo de tecnologia do Recife. É claro que não foi sozinho. Mas a cidade não teria se transformado numa referência nacional em software sem o trabalho dele.

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"Se você fizer os planos imaginando que tudo vai dar errado, daí terá de trabalhar 24 horas por dia para que dê certo", explica Silvio Meira. "Daí um bocado de coisa dá certo, e você só tem surpresa boa. Não é uma posição derrotista. É uma visão racional e inclusive otimista do mundo."

O professor criou e coordenou o programa de doutoramento em ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na década passada, ao perceber que seus alunos acabavam indo trabalhar em outras cidades, ele resolveu, ao lado de colegas do departamento, criar em 1996 o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), uma organização de pesquisa e desenvolvimento que começou a gerar empregos e empresas de tecnologia na cidade.

Em 2000, Meira foi um dos fundadores do Porto Digital, que transformou o centro histórico do Recife - que enfrentava uma decadência de drogas e prostituição - num parque tecnológico onde empresas locais são vizinhas de multinacionais como IBM, Microsoft, Motorola e Samsung. O polo, que completa 10 anos, reúne 130 empresas, emprega cerca de 4 mil pessoas e faturou cerca de R$ 450 milhões no ano passado.

"Para que a gente possa dizer que um polo tecnológico deu certo, é preciso esperar 25 anos", diz Silvio Meira, que acaba de completar 55 anos e que se aposenta da universidade em 2011. Para garantir os próximos 15 anos do polo, o professor já começou a trabalhar no projeto que irá tocar depois da aposentadoria: uma rede de investidores em empresas de base tecnológica.

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"Na verdade, não vou me aposentar", diz Meira. "Estou trocando de capa como um camaleão. Vou me retirar de um bocado de coisas para fazer um outro conjunto de coisas com a mesma intensidade. A rede de investimentos já tem nome, gente e dinheiro, mas só começa a operar formalmente no ano que vem. Já tem envolvimento com duas empresas. Uma está operando e outra em fase final de negociação. Atualmente ela está naquele modelo que no Vale do Silício é chamado de stealth, que são aqueles aviões indetectáveis pelo radar."

Até agora, Meira não atuou como investidor. "Sou acionista de várias empresas onde eu entrei por causa do meu conhecimento, e não por causa do meu dinheiro. Há empresas de ex-alunos e de colegas meus em que fui chamado para participar como consultor. Como o meu preço de consultoria era impagável para eles, acabei recebendo em ações. Sou acionista de várias empresas sem nunca ter botado um tostão nelas."

Três delas já foram vendidas. "Uma compensou muito. Não ganhei nada com as outras duas. Faz parte", afirma Meira. "O apartamento em que eu moro hoje foi comprado com a venda de ações de uma dessas empresas. Se não, eu estava morando num imóvel alugado até hoje. Vivo do meu trabalho de professor e de palestras. O refinamento do meu paladar para vinhos acaba em R$ 100 a garrafa. Não preciso de dinheiro para comprar um Chatêau Pétrus, e acho desnecessário."

Foto: Divulgação

Mais informações no Estado de hoje ("Ele criou um polo de software", p. N7).

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