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Por dentro das inovações em serviços financeiros

E se a Amazon fosse um Banco?

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

A Amazon começou como uma livraria digital e hoje é uma das maiores plataformas de varejo do mundo. Foram muitas tentativas, até que se chegasse a este modelo.

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Uma plataforma é um modelo de negócios onde múltiplos parceiros podem se conectar facilmente e onde a interação entre os participantes gera valor. Trazendo para a prática, na Amazon o usuário encontra produtos de diversos fornecedores, que "competem" com a própria Amazon, se beneficiam do seu imenso tráfego e da sua credibilidade, e esta concorrência acaba trazendo melhores preços para o usuário final, que pode avaliar os produtos e fornecedores no momento da decisão de compra, lendo os comentários de outros compradores e checando inúmeras avaliações sobre produto, entrega, embalagem, etc. Por trás dos bastidores, a Amazon tem a AWS (Amazon Web Services), que provê toda a infraestrutura tecnológica necessária ao parceiro, para que ele tenha todas as facilidades para se plugar de forma incrivelmente simples na plataforma.

Este modelo de negócios já é aplicado em outros segmentos, com muito sucesso, como é o caso do Uber ou do AirBnb, para citar apenas dois dos mais famosos aqui no Brasil. Agora imaginem este modelo aplicado ao setor bancário. Um banco poderia montar uma plataforma em que várias empresas parceiras (startups de fintech) pudessem acessar sua base de dados (ou parte dela), para prover serviços específicos aos clientes atuais e potenciais. Por exemplo, crédito para aqueles que têm o crédito negado pelos bancos, análises de investimentos utilizando robôs e inteligência artificial, meios de pagamento com dispositivos vestíveis (wereables), aplicativos que agregam despesas e investimentos e fazem recomendações de melhoria da saúde financeira. E, além disso, parceiros de outros segmentos, que resolvem problemas do dia-a-dia das pessoas, como serviços de transporte (Uber, por exemplo), reservas de restaurantes, entrega de comida para animais domésticos, imobiliárias, registros de documentos e por aí vai. Tudo isso integrado numa só plataforma, através de um único login e senha. Por que não?

Em 2013, a Harvard Business Review publicou um artigo que dizia que, para uma plataforma ser bem sucedida, ela precisaria de três elementos:

1- ser uma imã, que atraia tanto os parceiros corretos para oferecer produtos e serviços, quanto os clientes com o perfil adequado;

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2- atuar como um elo que une estes parceiros aos seus clientes, incentivando os negócios e fazendo com que seja efetivamente mais intessante para o cliente usar esta plataforma integrada do que utlizar os serviços isolodamente;

3- oferecer as ferramentas certas para que os parceiros se pluguem de forma simples e rápida.

Para os grandes bancos brasileiros, os três itens acima são grandes desafios, pois representam mudanças significativas do ponto de vista cultural e tecnológico. Para os bancos pequenos e médios, talvez estejamos diante de uma oportunidade única, pois eles não têm o alto custo fixo das redes de agências, processos tão maduros e difíceis de modificar, infraestrutura de tecnologia e sistemas robustos, que ao mesmo tempo que configuram vantagem competitiva, são barreiras que aumentam a complexidade de implementação de uma visão avançada do mundo digital. Os bancos pequenos e médios que enxergarem esta oportunidade precisarão contratar pessoas com novas habilidades e que compartilhem esta visão, definir uma estratégia que reforce suas fortalezas, muita resiliência dos gestores para encarar as dúvidas diárias que a inovação suscita e paciência para um longo período para se atingir o ponto de equilíbrio (break even).

A Amazon precisou de 20 anos para chegar ao modelo atual, mesmo sendo uma empresa nativamente digital, que tem facilidade para mudar sua estratégia com rapidez e implementar mudanças sem preconceitos. Todo o seu aprendizado e de tantas outras plataformas em diferentes segmentos devem contribuir para que os que se aventurarem nesta jornada consigam encontrar seus atalhos.

Em serviços financeiros, há sempre o verdadeiro argumento do sigilo dos dados, da criticidade das operações e da pesada regulamentação. Não receber um livro em casa na data prometida dificilmente será tão grave quanto seria aparecer um saldo inferior na sua conta do banco. Mas isto não pode virar desculpa pra não inovar. Pois inovar não é mais uma opção estratégica, é uma questão de sobrevivência.

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