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Por dentro das inovações em serviços financeiros

O banco da Amazon

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Por Guilherme Horn
Atualização:
 

Esta semana, mais uma vez, circulou no mercado o boato de que a Amazon estaria para fechar a aquisição do Capital One, um dos maiores bancos norte-americanos, com mais de U$300 bilhões em ativos. Não se sabe se o boato tem algum fundo de verdade, porém indiscutivelmente faria todo sentido.

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O Capital One é uma referência em banco digital. Nasceu com cartão de crédito e cresceu rapidamente com processos simples, transparência nas taxas e uma experiência fantástica para o usuário. Hoje é um banco completo, com mais de 700 agências, 20 cafés e 2.000 caixas automáticos; e o cartão de crédito ainda responde por mais da metade de sua receita. O banco inspirou diversas iniciativas no mundo, entre elas o Tinkoff na Rússia e o Nubank no Brasil.

O Capital One é um dos maiores clientes globais de serviços financeiros da AWS (Amazon Web Services), a empresa da Amazon que oferece serviços de infraestrutura na nuvem. E está presente nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

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A Amazon, por sua vez, já oferece alguns serviços financeiros em diversos países, como pagamentos e crédito. O Amazon Payments está presente na América do Norte e na Europa, inclusive para pagamentos de impostos, seguros e viagens, além do e-commerce próprio e de terceiros. E o Amazon Lending está presente nos EUA, Reino Unido, Europa e Japão, e já emprestou a fornecedores do seu marketplace mais de 1,5 bilhão de dólares. Os empréstimos contam com toda a inteligência na análise dos dados que a Amazon possui a respeito destas empresas, permitindo que o gigante do e-commerce faça uma análise de risco bem mais apurada que os tradicionais motores de credit score das instituições financeiras.

Num segmento que ainda apresenta ineficiências, baixa transparência no relacionamento com o consumidor e uma experiência aquém daquela proporcionada por empresas digitais, como a própria Amazon, este parece ser um movimento natural e, na minha opinião, representa a maior ameaça que os bancos possam enfrentar, muito mais do que aquela vinda das fintechs. E, para a Amazon, pode representar também uma estratégia defensiva contra os gigantes chineses de tecnologia, como TencentAli Baba e Baidu, que já entraram em serviços financeiros e estão expandindo para outras geografias. A Tencent é a companhia por trás do WeChat, um aplicativo similar ao WhatsApp,  com mais de um bilhão de usuários, no qual se faz praticamente tudo atualmente, desde chamar um Uber, ver um filme no Netflix, pagar uma conta ou transferir dinheiro para um amigo. Há dois anos, criou o WeBank, um banco sem agências ou escritórios que, em três meses, já tinha mais de 2 milhões de clientes. A Ali Baba é dona do AliPay, que, desde 2013, desbancou a PayPal, tornando-se a maior plataforma de pagamentos do mundo. Juntas, Tencent e AliPay movimentaram, em 2016, 3 trilhões de dólares. A Ali Baba também criou em 2013 o Yu'e Bao, um fundo de investimentos para remunerar o dinheiro que os fornecedores do seu marketplace deixavam parado na conta. Em menos de 1 ano, este fundo atingiu 100 bilhões de dólares sob gestão. Hoje possui 280 milhões de cotistas, sendo o terceiro maior fundo do mundo. E a Baidu, o Google da China, já lançou diversos serviços financeiros, entre eles uma empresa digital de gestão de fortunas, para atender aos novos milionários chineses.

Como se vê, o Amazon Bank soa como uma evolução quase natural para um player que já atua em áreas como educação, entretenimento, imprensa, alimentos e outras mais. Os bancos que pensam que, em serviços financeiros, será diferente por conta da regulamentação, serão os que terão mais dificuldade para entender o impacto que a Amazon poderá causar no segmento.

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