PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Por dentro das inovações em serviços financeiros

Os bastidores da venda do banco mais inovador da Europa

Por Guilherme Horn
Atualização:
   

Há dois anos atrás, uma negociação envolvendo um centenário banco francês e uma inovadora fintech sacudiu o mercado europeu. O alemão Fidor, fundado por Matthias Kroener, era uma unanimidade entre os especialistas: foi premiado inúmeras vezes e considerado um dos três bancos mais inovadores do mundo por anos consecutivos. Virou benchmark de banco digital.

PUBLICIDADE

Por isso, foi uma grande surpresa, em 2016, o anúncio da venda para o BPCE Bank of France. O BCPE surgiu da fusão de dois grandes bancos franceses, ambos com cerca de duzentos anos de existência. Não é difícil imaginar, portanto, que, por mais que o C-level do BCPE estivesse comprometido com a transformação digital, haveria grandes desafios na incorporação do Fidor ao conglomerado francês. Choque de cultura entre os países, entre as empresas, governança, indicadores de desempenho, estratégia. Se detalharmos, a lista será imensa.

Pois a aquisição aconteceu e pouco se falou sobre o Fidor nestes dois anos. Na semana passada, finalmente, veio a bombástica notícia de que as partes estarão desfazendo a aquisição. Os termos do negócio não foram divulgados e nem são a parte mais relevante. O que importa, de fato, é o aprendizado que podemos tirar do ocorrido. As partes apenas divulgaram uma nota fria e superficial, sem detalhes. Um artigo do inglês Chris Skinner, renomado autor especializado em Fintech, deu um pouco de luz sobre o ocorrido.

Publicidade

Ele cita em seu blog algumas suposições que explicariam a situação. A primeira é a chegada do Chief Digital Officer do BCPE após a aquisição. Em momento nenhum ele se sentiu o comprador do Fidor e não teria então feito muito esforço para que a empreitada fosse um sucesso. A estratégia de Transformação Digital do BCPE também se mostrou muito mais ousada no papel do que na prática. O banco não incorporou de verdade um novo mindset e continuou priorizando ações mais alinhadas com o jeito antigo de pensar. Consequentemente, isto se refletiu nos indicadores de desempenho, perseguidos pelos executivos da tradicional instituição financeira.

Em resumo, a aquisição de uma fintech por um grande banco, assim como de uma startup por uma grande empresa, deve estar inserida num contexto maior, em que a iniciativa de Inovação e Transformação Digital esteja alinhada com a estratégia da empresa. E, nesta linha, é importante estar presente o tripé de sustentação da Inovação: Governança, Mindset e Incentivos. Na Governança, a empresa vai definir objetivos, iniciativas e como vai se medir o seu sucesso (KPIs). no item Mindset, a empresa precisará estar de mente aberta para pensar diferente (transformação cultural não é algo que se decide e acontece, é um processo lento e gradual). E, por último, Incentivos: as áreas da empresa e os executivos devem ter os indicadores de desempenho de Inovação em suas metas,seu bônus deve depender também destes indicadores, para que não se tenha a ilusão de que as pessoas mudarão apenas por uma orientação do top management: os incentivos funcionam como um importante agente de mudança.

Enfim, sem estas condições (e outras mais que não cabem aqui citar), a experiência prática tem demonstrado que aquisições como a do Fidor podem virar uma enorme dor de cabeça para ambas as partes, sem que se atinja os resultados esperados.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.