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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Um mundo sem bancos?

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

A home page da SoFi, uma das startups de Fintech de maior destaque no mercado americano, afirma: "este é o início de um mundo sem Bancos".

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Quando a SoFi lançou sua primeira campanha para refinanciar os empréstimos estudantis dos alunos da Universidade de Stanford, há cinco anos atrás, a maioria dos estudantes não aderiu. Não porque as condições não fossem favoráveis, mas porque nenhuma startup ainda havia ousado competir com a credibilidade dos tradicionais bancos. Atualmente, esta barreira faz parte do passado e a SoFi já gerou até o momento U$8 bilhões em empréstimos estudantis. O número pode parecer grande, mas ainda é muito pequeno diante do tamanho deste mercado nos EUA, que é de U$1,3 trilhão. Para se ter um ideia, lá este segmento é maior do que os mercados de cartão de crédito e financiamento automotivo juntos.

A SoFi é uma das estrelas do segmento de Crédito, um dos que mais crescem em fintech no mundo todo. Estas startups avaliam o risco de crédito do cliente com base em critérios alternativos, diferentemente dos bancos, que usam os métodos tradicionais. Como uma plataforma de empréstimos online, a SoFi pode desafiar os processos normais de aprovação de crédito, levando em consideração fatores como a experiência profissional do cliente, as despesas e receitas mensais e a formação educacional. A empresa também não cobra nenhuma taxa de abertura de cadastro, nem as penalidades comuns neste mercado. Além de baixas taxas de juros nos financiamentos, os clientes da SoFi ainda contam com seguros e outros serviços adicionais, como aconselhamento de carreira, entre outros. Isto tudo com muita agilidade e facilidade, gerando uma experiência envolvente e agradável.

Ainda é cedo para se avaliar o impacto que a SoFi fará neste mercado. Mas a expectativa é de que baixe significativamente o índice atual de 9,1% de calote nos financiamentos estudantis após 2 anos de terminada a graduação. Isto porque um dos principais motivadores para o calote é o desemprego ou a diminuição da renda do devedor. No caso da SoFi, as mensalidades são automaticamente suspensas caso o devedor seja demitido de seu trabalho e ele só volta a pagar no momento em que suas finanças encontrem-se novamente equilibradas.

Após o sucesso no segmento de crédito estudantil, a SoFi resolveu expandir suas ofertas para financiamento imobiliário e empréstimos pessoais. Hoje já são quase 150 mil usuários se beneficiando de seu modelo de negócio inovador, gerando uma economia em taxas diversas de cerca de U$750 milhões. A empresa já recebeu quatro rodadas de investimentos e vale hoje quase U$2 bilhões de dólares.

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Entretanto, se compararmos os seus números com os dos grandes bancos norte-americanos, eles ainda são pouco significativos. E é exatamente por isso que eu aproveito para responder aqui uma pergunta que sempre me fazem em eventos e palestras: se as startups de fintech de maior sucesso ainda apresentam resultados pouco significativos em relação aos grandes bancos, será que é razoável supor que elas realmente representam uma ameaça? A resposta leva em consideração alguns pontos:

  1. 1- as startups têm uma cultura organizacional (mindset) que as permite criar produtos e serviços de forma mais rápida e barata que as grandes empresas;
  2. 2- esta mesma cultura organizacional dá espaço para a ousadia e tolera falhas, uma vez que elas são percebidas como parte de um processo de aprendizagem, diferentemente de uma grande organização, que precisa montar processos de avaliação de desempenho que priorizam a eficiência e cuja consequência é normalmente punir aqueles que falham. Sem falha não existe inovação. Consequentemente, estas startups conseguem ser mais inovadoras;
  3. 3- por terem estruturas muito menores, por muitas vezes não precisarem atender a regulamentações rigorosas e por construírem processos internos mais simples, o custo de se adquirir um cliente para uma startup é muitas vezes menor do que o de uma grande empresa. Com o passar do tempo, esta diferença poderá representar o sucesso de uma e o fracasso de outra;
  4. 4- por último, o usuário digital busca experiências cada vez mais simples e centradas no seu problema; por isso elas são cada vez mais fragmentadas, pois atendem a uma necessidade específica. O mundo digital permite isso, seja pela tecnologia disponível, seja pelo uso intenso de dados (analytics), que permitem ofertas cada vez mais personalizadas e relevantes. Neste item, é incomparável a experiência que uma startup de fintech oferece, em relação aos burocráticos, lentos, impessoais e pesados processos dos grandes bancos.

Em resumo, penso que a ameaça é real, sim, mas os grandes bancos têm nas mãos ativos muito valiosos, que podem lhes permitir mudar esta trajetória. E o caminho para isso passa inevitavelmente pela colaboração.

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