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Inovação e tecnologia no mundo das startups

Brasileiros miram o Vale do Silício

Cresce o número de startups que vão para o principal polo de tecnologia do mundo fazer negócios e atrair investimentos

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

De São Francisco

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Há uma cena brasileira em construção no Vale do Silício. A meca das empresas de tecnologia tem recebido em número cada vez maior um tipo específico de turista brasileiro: os empreendedores de startups, como são chamadas as novas empresas de tecnologia. Além de visitar a sede de companhias famosas e observar as novidades no maior polo de inovação do mundo, eles também estão indo fazer negócios, contatos e atrair investidores.

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Um sinal deste movimento pôde ser visto no início do mês, quando os principais investidores, empreendedores e organizações atuantes no ecossistema de startups do Brasil foram até a Califórnia construir uma agenda brasileira no eixo São Francisco - Vale do Silício ao longo de uma semana.

Primeiro, participaram do TechCrunch Disrupt, um dos principais eventos de startups do mundo, onde o Brasil teve a maior delegação, com cerca de 40 startups (veja algumas empresas abaixo).

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Depois, uma série de eventos, palestras, oficinais e encontros com investidores foram organizadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), pelo Sebrae, pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap) e pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Um movimento até então inédito.

 

"Venho para o Vale do Silício desde 2009 e antes não existia ninguém fazendo essa conexão ou falando de pitch (nome dado à apresentação curta que startups fazem a investidores) para empreendedores", disse o presidente da ABStartups, Gustavo Caetano, fundador da Sambatech. "Agora que estamos organizando a participação brasileira, tem cada vez mais gente querendo vir. Queremos mostrar que os brasileiros também fazem inovação e coisas boas."

A ABStartups avalia que existam dez mil startups no Brasil. O evento da associação em São Francisco, para troca de experiências entre empreendedores, teve 110 participantes.

"Se fizesse um evento desses no Brasil há quatro anos, não teria 200 pessoas. E agora reunimos mais de cem pessoas nos EUA", comemorou Felipe Matos, diretor de operações do programa Start-­Up Brasil, do governo federal. "Finalmente o brasileiro está empreendendo por oportunidade."

EducaçãoO momento é bom para a atrair investidores estrangeiros para startups o Brasil. Segundo Caetano, após um "boom" de investimentos em e­commerce entre 2010 e 2011, esses investidores estariam interessados em novos negócios de áreas como B2B (negócios entre empresas) e educação.

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O indiano Ramesh Krishnan, diretor da organização sem fins lucrativos TiE, que apoia startups no Vale do Silício, recebeu um grupo de brasileiros em sua sede. "Esse é um ambiente integrado e estar no Vale é importante porque a união de todos pode gerar um impacto maior. O Brasil tem competência para gerar startups de qualidade", disse.

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A brasileira Bedy Yang, que faz parte da aceleradora de empresas americana 500 Startups, uma das mais reconhecidas nos EUA, treinou alguns brasileiros para falar com os investidores. "O Vale tem um formato que permite o acerto e o erro. Vir para cá pode ser um atalho para o empreendedor aprender e conseguir muita coisa."

O presidente da aceleradora Outsource Brazil, Robert Janssen, concorda. "O Vale é o equivalente à série A do futebol. Para as startups brasileiras é importante vir aqui e ver como as coisas funcionam para voltar a replicar o modelo no Brasil."

Conheça algumas das startups que estiveram em São Francisco e no Vale do Silício recentemente

Winker: 'troca de ideias' com o concorrente

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O empreendedor Mateus Xavier é um entusiasta de comunidades. É síndico do prédio onde mora há três anos, e a vontade de melhorar a comunicação com os vizinhos o estimulou a criar a startup Winker, plataforma voltada para a gestão de grandes condomínios residenciais. Ainda assim, ele ficou surpreso com o senso de comunidade do Vale do Silício. "O diretor de operações da Nextdoor, empresa concorrente nos EUA, aceitou me receber e compartilhar dados sobre o negócio sem animosidade", diz. "No Brasil, os empreendedores são mais fechados."

A conversa ajudou Mateus a repensar estratégias da sua startup. "Quero investir cada vez mais no poder do coletivo, baseado no que a Nextdoor faz nos EUA", diz. E a passagem no Vale rendeu conversas com três fundos de investimentos brasileiros e potenciais parceiros. "O Vale do Silício é uma experiência que todo empreendedor deveria ter. Ir para lá foi importante paraeu ter uma visão mais apurada do que está acontecendo no mundo e fazer contato com brasileiros que trabalham há anos com startups por lá. Não fazia ideia que existiam esses brasileiros."

PinMyPet diz ter conquistado mais credibilidade

 

Marcos Buson já é um veterano do Vale do Silício. Há um ano, sua startup PinMyPet, desenvolvedora de uma medalha de identificação personalizada para animais de estimação que pode ser rastreada pelo celular, foi escolhida para integrar o programa de aceleração da 500 startups. Ao fim do programa, achou melhor voltar ao Brasil. "O custo de ficar nos EUA seria alto e eliminaria minha margem de erro, me obrigando a acertar tudo de primeira", explica.

A startup mostrou durante o TechCrunch Disrupt seu novo hardware, que funcionará como uma espécie de Fitbit para animais de estimação, acumulando dados sobre atividade física, como o número depassos dados. Durante a passagem pelos EUA também negociou com um fabricante local a produção do produto. "Fizemos uma parceria com a mesma empresa que faz protótipo de produtos para a Apple e Google. Eles vão fabricar as primeiras unidades", diz Buson. A primeira leva dos produtos será vendida na internet por meio de uma campanha de crowdfunding. A startup busca agora uma rodada de investimento para que possa vender o produto de forma subsidiada, com custo mais baixo, associado ao pagamento de uma assinatura mensal pelo serviço. "Consegui contatos com fundos e potenciais parceiros. Quando um investidor brasileiro vê você com um estande montado em um evento fora do País, te olha com outros olhos", diz.

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inCast negocia investimento com banco

 

Antes de empreender, a brasileira Vera Kopp morou em Los Angeles por mais de 15 anos, onde trabalhou como modelo da Ford Models e atriz em produções como o seriado CSI Miami. Em 2013 mudou-se para Palo Alto para estudar na Universidade de Stanford e na semana em que a missão brasileira esteve no Vale inaugurou oficialmente a inCast, plataforma que conecta profissionais de entretenimento com produtoras. "O TechCrunch Disrupt foi ótimo. Um contato inesperado com uma pessoa de um grande banco de investimento americano ocorreu no corredor tedioso do último dia do evento. Estou negociando um possível investimento", diz Vera.

Apesar de viver nos EUA, a empreendedora tem como foco o mercado brasileiro. Atualmente ela faz parte do programa Startup Rio. "Empreender nos EUA é muito mais viável por causa da cultura do empreendedorismo. Mas no mercado de entretenimento aqui já existem negócios estabelecidos. A escolha de ir para o Brasil surgiu para atender a uma indústria carente de um marketplace para profissionais da economia criativa, entretenimento e mídia."

Blogo planeja abrir escritório em São Francisco

 

Amure Pinho era empreendedor e investidor-anjo no Brasil até vender seu negócio e começar tudo de novo com a startup Blogo, uma plataforma para gerenciamento de blogs. A crença de que o negócio tem potencial global o levou a fechar uma parceria com a Apex para usar gratuitamente o escritório da agência em São Francisco até novembro. Essa é a sexta vez dele na Califórnia. Nos EUA ele procura investidores para uma rodada inicial de investimento de US$ 450 mil e contatos que o ajudem a abrir um escritório na região no ano que vem.

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"Tenho a ajuda dos brasileiros daqui. Quanto mais sucesso eles fazem, mais as portas ficam abertas para outras startups. Há vários brasileiros que já descobriram o caminho das pedras por aqui", diz. "Esse ecossistema de brasileiros ajuda muito porque eles me conectam a várias pessoas sem que eu corra o risco de procurá-las e bater a cara na porta", diz. Na opinião dele, o TechCrunch Disrupt não foi tão produtivo com investidores estrangeiros. "Já tem tantas startups saltando aos olhos deles que eles não dão tanta bola para quem está começando", explica. Por outro lado, rendeu boas parcerias. "Falei com Evernote, Hootsuite e estou tendo conversas bacanas com a Rackspace", diz. A plataforma Blogo foi lançada há um mês e tem 5 mil clientes pagantes.

(Matéria publicada também na versão impressa do caderno Economia & Negócios de 28 de setembro de 2014)

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