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Inovação e tecnologia no mundo das startups

Feito por mulheres: Carol Rossetti

Conheça o trabalho da ilustradora que ganhou fama com a série de desenhos Mulheres, que mostra estereótipos do universo feminino e promove a auto-estima

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

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A ilustradora mineira Carol Rossetti, de 27 anos, ganhou fama pelas redes sociais no ano passado, quando algumas ilustrações que ela fez de forma despretensiosa caíram no gosto do público. Nos trabalhos, Carol retratava estereótipos em torno de mulheres de diferentes idades, como os padrões de beleza, o machismo e o preoconceito racial. Não demorou para os desenhos chamarem a atenção de mulheres em outros países e começarem a ser traduzidos para diversos idiomas.

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Desde então, Carol precisou reorganizar sua vida. Continuou o trabalho como designer em uma agência, mas abriu mais espaco na agenda para produzir mais ilustrações com foco na valorização da auto-estima feminina. "Eu trabalhava e de repente tinha um projeto demandando mais tempo do que eu imaginava", diz.  Os trabalhos da série "Mulheres"acabam de ser organizados em um livro com o mesmo nome lançado pela editora Sextante. A publicação é um reconhecimento ao impacto das ilustrações de Carol, que atraíram mais de 265 mil fãs para a sua página no Facebook e foram exibidas no TEDXWomen, na Califórnia, em maio deste ano.

Em entrevista ao Start, Carol falou mais sobre seu processo criativo, o desfio de profissionalizar um projeto pessoal e a importância do debate sobre o feminismo. A entrevista é a última da série Feito por Mulheres, que conta a história de mulheres que usam a tecnologia para mudar suas vidas, criar projetos inovadores e ganhar dinheiro. A premissa da série é mostrar mulheres que estão assumindo a liderança na web e no mundo da tecnologia para inspirar uma nova geração de empreendedoras. Confira os principais trechos:

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O que te motivou a começar esse trabalho nas redes sociais? Foi muito espontâneo. Eu estava querendo praticar umas técnicas e sempre gostei muito de desenhar mulheres. Fui fazendo uns desenhos pontualmente e colocando umas mensagens legais. Eu já tinha uma página no Facebook onde publicava meu trabalho, mas era mais minha família que acompanhava. Mas aí a primeira ilustração foi super compartilhada, eu continuei desenhando e o projeto se desenvolveu por si só.

Você fez sucesso nas redes sociais e foi convidada para uma conferência TED. A reação ao seu trabalho te surpreendeu de alguma forma? Surpreendeu demais. Não esperava nada disso. Então, eu fiz outra (ilustração), e mais outra e comecei a ter muita repercussão com o público brasileiro. Então, meus amigos no exterior perguntaram o que estava acontecendo, eu expliquei e fiz algumas versões em inglês. Aí bombou. Não deu duas semanas e apareceu uma menina de Israel que queria traduzir para o hebraico e aí a coisa explodiu. No começo, estava adorando, mas estava muito complicado, eu trabalhava e de repente tinha um projeto demandando mais tempo do que eu imaginava. Precisei de tempo para me adaptar. Mas foi tudo muito bacana, fiz várias viagens, eventos e tive muitas oportunidades.

O projeto foi só uma forma de testarum novo tipo de desenho ou a forma como as mulheres eram representadas te incomodava de alguma forma e você já tinha planos de fazer algo mostrando isso?Eu já lia sobre feminismo e percebia coisas que me incomodavam, especialmente quando diziam o que a gente pode ou não vestir. Minha primeira ideia era mandar uma mensagem positiva, depois deixei o trabalho mais abrangente. Minha ideia era dar a mensagem geral de não criticar o próximo.

O quanto o seu trabalho reflete as suas experiências pessoais? Você já sofreu algum tipo de preconceito? Sou muito privilegiada porque não vivi muitas das coisas das quais falo, mas já elas acontecerem com muitas pessoas do meu lado. São 130 ilustrações e acho que todo mundo se identifica com alguma. Inicialmente, as histórias tinham relação com o que eu via, presenciava, observava. Mas depois passei a receber histórias de gente do mundo todo, sobre coisas que eu nem imaginava que eram questões para as mulheres.

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CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Quais as ilustraçòes com as quais você mais se identifica? Eu gosto da Marta, que é uma mulher que não gosta de usar sutiã. Eu sempre me senti muito incomodada com sutiã. Já fiquei super incomodada com celulite e teve uma época na qual nem queria usar biquini.

Por que precisamos falar sobre feminismo hoje? Essas questões relacionadas a gênero têm que ser percebidas e discutidas porque a maior parte do incômodo é a gente nem falar sobre. E no fim do dia há várias coisas que você não fez por pressão social relacionada ao gênero. Acho que ficamos atrasadas em relação a alguns países. Hoje vemos muito o movimento feminista nos EUA e na Europa, mas nós vivemos uma ditadura militar quando outros países viviam uma segunda onda de feminismo. Nós não vivemos isso (essa segunda onda feminista) direito. Isso está acontecendo agora. Na minha adolescência eu não sabia o que era feminismo.

Qual o papel dos homens nessa discussão? Eu não falo pelo feminismo porque é um movimento muito plural e com muitas vertentes, algumas mais fechadas ou abertas para os homens. Minha abordagem é inclusiva. Sou a favor de abrir os braços para quem quer lutar do nosso lado. Acho que é importante lutar por igualdade e conversar sobre isso. Os homens são metade da população do planeta. Se queremos mudar o mundo, essa outra metade precisa estar junto. E é importante que eles se informem sobre isso também e entendam o impacto que o feminismo pode ter na vida deles.

Há quem se queixe de um um exagero na defesa do feminismo hoje em dia. Como você enxerga essas críticas e que tipo de questionamento você acredita ser necessário na nossa sociedade hoje? A nossa parte não é exagero não, sabe? As pessoas têm medo da palavra feminismo, acham que é algo agressivo ou ruim. A situação de gênero ainda é muito séria. O que o pessoal chama de cultura do estupro é muito real e séria.Não é exagero. Tem muita mulher que se sente intimidada e não consegue fazer as coisas da mesma maneira que o homem faz por se sentir intimidada. Essa questão de padrão de beleza para mulher ainda tem resultados muito devastadores. Mas é necessária uma certa dose de boa vontade para entender algumas coisas quando a pessoa nunca parou para pensar sobre isso. Não julgo quem é assim, porque durante muito tempo eu não tinha parado para pensar nessas coisas.

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O que esse trabalho mudou em você? Eu já estava lendo e discutindo bastante sobre feminismo, mas o projeto realmente abriu muitas possibilidades e me fez saber de muitas coisas. Conversando um dia com o pessoal que fazia traduções na Índia, soube que lá o estupro dentro do casamento não é considerado crise, mas um direito do marido. Conversei com mulheres de outros países e foi muito enriquecedor.

O seu trabalho ficou amplamente conhecido pela internet. Como o meio digital tem ajudado a empoderar mulheres e na luta pelo feminismo? É muito bom porque na internet a difusão do seu trabalho é rapida e eficiente. Claro que não para todas as camadas da população, mas ficou muito mais fácil ter acesso a algumas discussões que antes seriam mais complicadas de acessar. Mas tem muito ódio na internet também e gente que quer xingar tudo.

Quais os próximos passos da sua carreira? Quero continuar fazendo trabalhos autorais de ilustração. O projeto Mulheres acabou e agora estou começando um novo que ainda está em formação. Vai ser um projeto para o público infantil, mas não só para ele. É algo para todas as idades.

Quais mulheres te inspiram? A Marjane Sartapri. Ela é quadrinista e fez quadrinhos sobre a infância dela enquanto muçulmana (trabalho que pode ser conferido no livro Persépolis). Tem a Amanda Palmer, que é cantora e escreveu um livro sobre a arte de pedir (A Arte de Pedir, editora Intrínseca), com o qual aprendi muito. Ela também tem sua própria maneira de fazer protestos contra essa questão da indústria do padrão de beleza. Tem a Roxanne Gay, autora do livro Bad Feminist (Feminista Ruim, em tradução literal), que eu tiveo prazer de conhecer durante a conferência TED. O livro dela é maravilhoso. A própria J.K. Rowling, do Harry Potter, tem uma ótima construção de personagens femininas. No Brasil tem a Aline Lemos, que tem um trabalho incrível com aquarela. Ela é minha grande guru feminista.

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DICAS DA CAROL

Como organiza o seu dia? Eu trabalho em casa, o que é muito bom. Eu gosto muito de trabalhar e tenho que tomar cuidado para não exagerar. Tento dormir bem, 7 horas por dia, comer direito e cozinhar. No fim de semana eu faço um tanto de comida e deixo congelada. Eu acho importante valorizar isso. Não é fácil. É uma questão de organização e de vontade. Para comer bem e dormir bem eu sempre consegui me organizar, mas para fazer atividade física é mais difícil. Eu moro no décimo nono andar e fiz uma promessa de que no dia em que não fizer nenhuma atividade física eu não posso usar o elevador. Eu, meu marido e cunhada gostamos de jogar Badminton e tentamos nos encontrar três vezes na semana para jogar.

Você é ligada em internet? Quais rede sociais usa? Eu fico o dia inteiro na internet, porque trabalho como designer gráfico e todo meu trabalho foi muito pautado nas redes sociais. Eu tenho que administrar isso bem. Antes eu ficava muito tempo no Facebook, mas agora não consigo mais, uso só como objeto de trabalho.

Quais as suas dicas de sites e livros para mulheres? Esse da Amanda Palmer é muito importante. Chama A Arte de Pedir. Nesse livro, ela fala sobre a forma dela de lidar com o público e tocar a vida profissional. Ela tem um contato mais direto com o público dela e isso é muito legal. Recomendo muito o blog Escreva, Lola, Escreva, da Lola Aronovich. Éótimo e ela é muito didática, fala de feminismo de um jeito muito gostoso de ler. Tem também o Blogueiras Negras, que fala sobre feminismo e racismo. Aprendi muito com esse blog. Tem um site que vejo mais pela página no Facebook que chama Mulheres nos Quadrinhos e reúne trabalho de quadrinistas mulheres.

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Quais as suas dicas para mulheres que também sonham em tocar algum projeto pessoal como você? Eu recomendo fazer, porque na verdade a gente espera o projeto estar pronto e perfeito para colocar no ar, mas na verdade as coisas vão se formando à medida em que vão se desenvolvendo. Ao menos comigo foi assim. Postei um negócio autoral, sem expectativa, e à medida que foi acontecendo, o projeto foi se formando. Com o tempo mudei a tipografia, depois resolvi fazer tradução. Não pode ter medo de fazer. Acho que nunca as coisas ficam redondas e perfeitas. Estão sempre mudando.

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