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Inovação e tecnologia no mundo das startups

Feito por mulheres: Jout Jout, Prazer!

Conheça a youtuber Júlia Tolezano, a Jout Jout, um dos fenômenos da internet em 2015; ela estreia a seção semanal Feito por Mulheres, que vai mostrar casos de mulheres empreendedoras de sucesso na web e na tecnologia

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Reprodução

 

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Lembro até hoje da cena: estava navegando na internet quando uma amiga me chamou para uma conversa no programa de mensagens Gtalk. "Você precisa ver esse vídeo!", ela disse, ao me encaminhar um link de um vídeo no YouTube intitulado: "Não tira o batom vermelho" (veja abaixo) . Quando abri, me deparei com uma menina de cabelos cacheados e jeito despojado que falava sobre os sinais de que um relacionamento amoroso abusivo. O jeito original e o tom assertivo de cara me conquistaram. Fiquei curiosa para saber quem era aquela tal garota que se dizia chamar Jout Jout e tinha colocado esse vídeo em um canal próprio no YouTube.

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Bastou eu entrar na página do canal para encontrar muitos outros vídeos e descobrir que Jout Jout era capaz de falar com a mesma naturalidade sobre coletores menstruais, a arte de fazer cocô quando se está com o namorado e sobre como aceitar momentos tristes na era em que todo mundo é feliz no Facebook.

Foi dessa forma que eu e milhares de outros internautas descobrimos o canal Jout Jout, Prazer, que tranformou a jornalista fluminense Júlia Tolezano, de 24 anos, em um dos principais fenômenos da internet de 2015. O video "Não tira o batom vermelho", que já soma mais de 902 mil visualizações (and counting), gerou até mesmo uma campanha no Twitter contra relacionamentos abusivos. "Muita gente veio falar comigo (depois do vídeo), um monte de grupo de feminismo e foi um susto. Não esperava. Eu comecei fazendo vídeos de forma super despretensiosa, para os amigos", diz.

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Já são 225 mil inscritos no canal e ela se tornou uma das novas queridinhas das marcas na internet: fechou acordos comerciais que vão desde divulgar um neutralizador de odores de banheiro até viajar para Nova York e entrevistar as atrizes da série "Orange is The New Black" a convite da Netflix. Também tem uma coluna em uma revista feminina e já foi convidada para palestrar em um TEDx. O que começou como uma brincadeira, virou negócio sério para Jout Jout, que largou um emprego em uma editora e trabalhos como jornalista freelancer para viver do YouTube.

O mérito de Jout Jout está em usar uma linguagem mais natural nos vídeos e falar sobre temas cotidianos e espinhosos de forma simples e divertida, contrastando com o mar de tutoriais e canais de humor que são hoje a principal audiência do YouTube no Brasil. Mas ela não faz sucesso sozinha. Seu namorado Caio também ganhou fama por estar sempre por trás das câmeras fazendo algum comentário nos vídeos, mas sem nunca mostrar o rosto.

Jout Jout foi a escolhida para estrear uma nova série semanal aqui no Start que vai contar a história de mulheres que usam a tecnologia para mudar suas vidas, criar projetos inovadores e ganhar dinheiro com eles. São empreendedoras de diversas áreas: youtubers, desenvolvedoras de games, criadoras de startups, ativistas e muitas outras. A premissa da série Feito por Mulheres é mostrar meninas que estão assumindo a liderança na web e no mundo da tecnologia para inspirar uma nova geração de empreendedoras.

Bati um papo por Skype com Jout Jout para falar sobre como ganhar dinheiro no YouTube, a fama repentina, e dicas para outras mulheres que sonham em criar conteúdo na web e transformar esse projeto em negócio ou profissão. Confira os principais trechos:

Como era sua carreira antes de começar a fazer vídeos?Sempre trabalhei em editoras de livros. Era assistente editorial. Depois de um tempo eu saí disso e fiquei no jornalismo, quicando em vários lugares diferentes. Eu me formei nisso, mas não era o que eu queria fazer. Resolvi fazer um curso de redação publicitária, mas também falei não depois de um tempo. Durante o curso eu tinha que fazer vídeos e amava, mas odiava os outros trabalhos.

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Você e o Caio já sabiam editar vídeos antes de você criar o canal? Quais ferramentas vocês usam? A gente filma juntos e eu edito depois. Eu não sabia editar antes, mas comecei a aprender no iMovie (programa do sistema iOS, da Apple). Apertava todas as teclas e via o que elas faziam. A edição eu fui incrementando com a prática, quando descobri novos botões no iMovie. Viajamos recentemente para Nova York e compramos um troço de captar som, tripé, câmera e luz.

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Quando você abriu o canal, já pensava em torná-lo uma fonte de renda?Eu comecei fazendo vídeos de forma super despretensiosa, para os amigos. Conforme (o canal) foi crescendo, eu deixei rolar. Sempre quis ter uma empresa minha, porque sou da geração Y e a gente adora abrir uma empresa... mas o canal cresceu naturalmente.

Como você se organiza atualmente para fazer os vídeos? Depois que o canal cresceu você pensa em estratégias? Faz algum planejamento?(Ri alto) Estratégia é otimo... não sei nem como fazer isso. Se eu escrevo estratégia em um papel, embaixo não consigo colocar mais nada. Eu ainda não consegui me organizar. Minha estratégia é fazer vídeos duas vezes por semana (os vídeos vão ao ar no canal às terças e quintas-feiras, às 10h), conseguir responder os e-mails que chegam e tocar projetos paralelos. Eu não tenho nenhum plano.

Quais são suas influências no YouTube?Eu descobri que poderia ter um canal com a Grace Helbig. Ela foi a primeira (youtuber) que eu vi. Tem também a Hannah Hart, a Laci Green e a Jenna Marbles. Elas são muito naturais. A Jenna tem mais de 14 milhões de inscritos no canal dela e está cagando. Os vídeos dela são muito mal feitos, com uma luz péssima, tudo ruim, mas ela não está nem aí. Ela vai falando do que ela gosta e vai ficando ótimo. Eu gosto muito da Grace porque ela é muito natural, parece que você está conversando com ela nos vídeos. Hoje as pessoas falam pra mim: "Jout Jout, parece que somos amigas há um ano". Eu acho legal, porque é essa a ideia.

O que mudou na sua vida depois que o vídeo "Não tira o batom vermelho" se popularizou?Quando o canal estourou, eu coloquei para monetizar no YouTube e comecei a ver que poderia viver disso. Depois apareceram marcas querendo anunciar e entendi que poderia ser uma profissão.

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Você esperava fazer sucesso com esse vídeo especificamente? O que ele te ensinou sobre criação de conteúdo? Não sei. Ele é tão parecido com os outros. Todos têm a mesma linguagem, só muda o tema. Mas eu nunca esperonada de nenhum vídeo. Só faço e me preocupo em colocar no ar. Caio que olha mais os números. Muita gente veio falar comigo (depois do vídeo), um monte de grupo de feminismo e foi um susto. Eu já não consigo responder todo mundo. Antes eu não ia dormir sem responder todos os e-mails. Hoje eu respondo 15 dias depois que a pessoa me mandou.

Como você negocia com as marcas que querem aparecer no canal?Sou muito cuidadosa com isso, meu método de escolha é totalmente intuitivo. Se eu sinto um formigamento gostosinho no coração eu faço, se não eu nego. Eu não minto no canal, sou sincera e honesta e pessoas levam muito a sério o que eu falo, por isso eu não quero falar de coisas que eu não gosto.

Dá para viver do YouTube? E qual a principal fonte de renda, as visualizações dos vídeos em si ou os negócios que os vídeos geram?Estou conseguindo e acho muito mais tranquilo do que trabalhar em escritório, porque eu fico feliz ao ar livre. Eu já fazia isso (os vídeos) de graça, então se hoje eu ganho um dinheirinho com isso está perfeito. É muito mais tranquilo do que eu imaginava.

Quais são as coisas boas e ruins que você gostaria de ter ficado sabendo antes sobre abrir um canal no YouTube e que ninguém te contou?Eu descobri que para fazer um vídeo não é preciso de grandes produções. Importa mais o que você fala do que as coisas que aparecem no fundo. Muita gente diz: "quero criar algo, mas antes tenho que ter uma arte maravilhosa no meu canal feita por um designer" e vai colocando empecilhos. Eu fui fazendo tudo cagado, mas de um jeito que eu gostava. A capa do YouTube mesmo, eu fiz durante uma aula de Photoshop daquele curso de publicidade que eu te falei. Tem dias que eu estou sem a câmera e gravo do computador mesmo. E também me falaram que era muito difícil viver de YouTube, mas eu estou achando tranquilinho, só tem que se organizar um pouco e ir colocando vídeos com frequência, que é o mais importante. Não precisa das Networks (empresas que gerenciam canais no YouTube) para viver. Quando eu comecei a monetizar o canal, deu muita coisa errada e eu fiquei desesperada atrás de uma Network. Como o vídeo "Não tira o batom vermelho" gerou muitas visualizações, o YouTube achou que eram robôs e bloqueou minha conta, mas aí eu consegui falar direto no Google e resolvi sozinha. Tem umas coisas boas de ter Network, mas não precisa.

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Você já enfrentou algum preconceito ou resistência por ser uma mulher no YouTube falando sobre assuntos tabu e feministas ou já superamos esse tipo de preconceito?Eu nunca enfrentei nada negativo. Tem muito pouco comentário ruim no meu canal. Os que têm são de fãs decepcionados com algum vídeo específico. Já teve, claro, em matéria que saiu sobre mim comentários ruins, mas esse tipo de coisa você não lê.Ah, e uma vez um menino comentou que eu estava usando sutiã em um vídeo e que isso era um milagre.

Você se preocupa com a forma como se expõe na internet, seja com aparência ou com as coisas que vai dizer ?Visualmente eu caguei mil por cento. Se eu for me preocupar com isso eu não faço vídeo. Foi essa a cara com que vim ao mundo e tá ótimo. E sobre o que eu vou falar, eu digo que não vamos fazer discurso de ódio ou machucar ninguém. Eu falo o que eu acho. Mas eu não me preocupo com o que vão achar, porque se eu me preocupar não tem vídeo.

Quais são as líderes femininas que mais te inspiram? Beyoncé e Rihanna. Elas me inspiram demais porque elas vão e fazem o que querem fazer, não estão muito aí para ninguém.

Muita gente já te comparou com a Lena Dunham, o que você acha dessa comparação?Acho que isso acontece porque a gente fala umas coisas sobre as quais as pessoas não falam, mas eu acho que ela é mais tristinha. Eu tento falar as coisas de um jeito que anime a galera, uma coisa mais:"Vamos ficar felizinhos, porque o resto não importa". Ela é mais na linha: "Estamos sofrendo juntos essa humilhação", aí você lê e pensa: "Eu ja fui humilhada assim!". Mas é uma grande honra ser comparada a ela.

Qual a sua relação com a internet? Ela nos propiciou acesso a muito conteúdo, mas ao mesmo tempo nos colocou em meio a uma avalanche de vídeos, comentários e conteúdo nas redes sociais. Como você lida com isso?Eu não posto nada nas redes sociais. Tinha que ser melhor nisso, mas eu sou muito ruim em fazer posts. Não é natural. Não acho interessante mostrar, tipo: "olha o que eu tô fazendo agora". Você come uma comida gostosa, posta uma foto, mas e aí? Eu coloco coisas que eu acho esquisitas. E consumo muito vídeo de gato e cachorro fazendo algo também.

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Recentemente, você publicou um vídeo sobre as perguntas que as pessoas deveriam fazer quando conhecem alguém e que não sejam sobre o que a pessoa faz da vida. Qual a pergunta que você gostaria que fizessem para você e que ninguém nunca faz? Ai, essa é difícil! Caio, me ajuda? Deixa eu pensar.... acho que gostaria que as pessoas falassem mais: "Jout Jout, quer um abracinho?" do que "Jout Jout, vamos tirar uma fotinha?". Tem gente que chega, tira uma foto comigo na rua e sai andando. Eu prefiro quem me abraça e depois conversa. É mais significativo.

Como é um dia na vida de Jout Jout?Minha rotina é tão bagunçada. Cada dia é uma loucura. Tem dias em que acordo nada inspirada, mas olho para um prego na parede, penso algo e gravo, porque o vídeo é algo que tem que acontecer. Escrevo uma coluna para a revista Cosmopolitan todo mês e vou fazendo as coisas. Eu estou numa de viver o agora, sem pensar no amanhã. Eu trabalho em casa e agora estou morando com o Caio e mais um casal de amigos, então temos os afazeres domésticos para cuidar. Uma dica: se você trabalha de casa e tem um negócio para tocar de casa, você precisa lembrar de tirar o pijama, senão no fim do dia você está com aquele ranço, dá uma confusão na cabeça.

DICAS DA JOUT JOUT

Como você organiza sua agenda para dar conta de todos os projetos? Eu tenho um caderninho onde anoto tudo e uso o bloco de notas do celular. E eu tenho um calendário da Mafalda na parede, onde coloco uns post-its e fica ótimo.

Quais apps você usa? Eu uso o básico. Whatsapp, o do YouTube para ver as coisas do canal, Facebook, Twitter e do banco, para ver a minha conta. Também uso o Google Maps, um app para pedir táxi, calendário e Gmail. Não sou muito de baixar apps.

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E redes sociais? Quais são suas favoritas? Eu compartilho demais minha vida pelos vídeos, mas no dia a dia não acontece muita coisa interessante. Eu tenho Facebook, Instagram, Twitter e um canal no YouTube. Está ótimo. Tem gente que me pede para criar Snapchat. Mas vou fazer o quê? Gravar eu assistindo séries no computador? Pra que isso?

Quais os livros que você indica?Eu estou lendo um livro da Marie Kondo (mostra a capa de A Mágica da Arrumação), uma japonesa que ensina a colocar ordem na sua casa e na sua vida. Ela ensina coisas que você não pensava. Por exemplo, ela diz que em vez de guardar suas blusas uma em cima da outra no armário, você deve colocar uma do lado da outra, para conseguir ver todas melhor. Quando você organiza sua casa, sua vida fica mais organizada. Eu ainda não arrumei tudo, mas estou chegando lá. Tenho também o da Lena Dunham (Não sou uma dessas), mas ainda não comecei a ler.

Quais sites você lê todos os dias?Eu vejo os canais das YouTubers que mencionei anteriormente (Grace Helbig, Hannah Hart, Laci Green e Jenna Marbles) e vejo Netflix, mas não todo dia. Eu não fico muito conectada.

Quais os melhores softwares e ferramentas que todo youtuber deve usar?O meu canal é bem rústico, não tem muitos incrementos. Eu uso o iMovie, do Mac, para editar os vídeos e acho maravilhoso. Tem musiquinhas que dá para usar sem pagar direitos autorais, dá para o gasto. Tem um app do YouTube chamado Creator Studio onde você vê os ganhos estimados para o mês, quantos inscritos no canal. É bom para acompanhar números.

Quais as dicas que você daria para quem quer criar algo novo na internet?Não fique pensando muito nas coisas senão você não faz. Ah, uma coisa importante: taróloga. E mapa astral. Vai jogar tarô. Uma vez por ano está bom, mas tem que fazer porque é muito importante para saber como está o seu ano, os momentos certos...

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Funciona com você?Totalmente! Vou na taróloga e batata! Ela fala tudo certinho.

Foi assim que você descobriu que deveria fazer um canal no YouTube?Ela conta as coisas... mas a gente tem uma vozinha dentro da gente que fala as coisas, temos que aprender a escutar. Eu escutava essa vozinha desde que vi o primeiro vídeo no YouTube, mas fiquei uns quatro anos ignorando.

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