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Inovação e tecnologia no mundo das startups

O empreendedor desconhecido mais famoso do mundo

Kees Koolen, fundador do Booking.com, investe em startups e grandes projetos no Brasil de forma discreta

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Quando esteve no Brasil pela última vez no fim de novembro, para participar do evento de tecnologia The Next Web (TNW), Kees Koolen, de 49 anos, foi apresentado à plateia como "o empreendedor desconhecido mais famoso do mundo". É uma boa definição para o holandês de olhar tranquilo e fala firme que por trás do traje social e do currículo de empreendedor experiente esconde um piloto que nas horas vagas treina para o Rally Dakar, uma das competições mais difíceis do automobilismo (enquanto você lê esta matéria, Koolen participa da edição 2015 do Rally Dakar, que está sendo devidamente documentada em seu Twitter @KeesKoolen).

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Presença frequente em terras brasileiras, Koolen é fundador da gigante do turismo Booking.com, vendida por US$ 135 milhões para o grupo americano Priceline.com em 2005. Hoje ele faz parte do conselhoda empresa que ajudou a criar, e se associou a empresários brasileiros bem-sucedidos, como Rodrigo Borges, cofundador do Buscapé, e Guga Stocco, ex-Microsoft e Buscapé, para criar o fundo de investimentos Koolen & Partners, que possui 10 startups brasileiras em seu portfólio - no geral, sites e aplicativos da área de serviços. Apesar disso, seu nome é pouco conhecido por quem não é do mercado de tecnologia.

Entre as empresas que receberam investimento do fundo de Koolen estão as startups Hotmart, Gympass, Peela, Loggi, Men's Market, DemocrArt e Boa Consulta.  "Nós queremos expandir, mas tudo depende dos resultados dos nossos investimentos atuais", me contou em sua passagem pelo País em novembro. Para 2015, a meta é trabalhar na criação de um novo fundo no valor de US$ 100 milhões.

Seu mais novo projeto ambicioso é criar fazendas autossustentáveis no Brasil por meio da empresa AgriBrasil, que pretende produzir 1 milhão de litros de leite por dia no primeiro ano de operação - o projeto é tema de uma matéria em parceria com a repórter Nayara Fraga, que você lê na seção Economia e Negócios do Estadão de hoje. Além dele, Koolen está envolvido com mais uma iniciativa gigante: ele é uma espécie de conselheiro da expansão internacional do Uber, o aplicativo que conecta motoristas e passageiros e que hoje é a mais valiosa entre as novas empresas de tecnologia do mundo, com valor de mercado de US$ 41 bilhões. Originalmente ele havia sido contratado para assumir o cargo de diretor de operações, mas dificuldades com o processo de migração para o Vale do Silício o fizeram mudar de ideia.

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O currículo de Koolen acumula ainda uma série de outras startups e investimentos ao longo da história. O segredo para dar conta de tudo isso? "Eu tomo todas as decisões com extrema rapidez, o que também me faz cometer mais erros. Por isso, escuto quando as pessoas me apontam algum problema. Eu não tenho a menor vergonha de errar", diz.

 

O Booking.com é um exemplo da sua persistência e ousadia. O holandês afirma que ficou dez anos sem salário para manter o negócio criado sem o apoio financeiro de investidores no ar. Nos momentos de tensão em que faltava dinheiro para pagar os funcionários, Koolen oferecia mais ações de forma a convencê-los a ficar. "Vendi (o site) porque estava quebrado", diz, afirmando que uma semana depois o negócio começou a decolar. Em 2013, o faturamento total do grupo Priceline.com foi de US$ 6,8 bilhões, sendo a Booking.com parte considerável dessa fatia. Hoje, uma média de 750 mil diárias são reservadas pelo site diariamente, em 212 países.

Koolen hoje dedica grande parte do seu tempo às funções de investidor e conselheiro e tem no Brasil um dos seus mercados favoritos. Só em 2014 esteve por aqui 14 vezes. "O Brasil é um País com muitos recursos e com muitas pessoas. É um grande mercado, com muitas oportunidades e a maioria delas ainda não está desenvolvida. Se você faz algo para o mercado local e você é bom, você pode se tornar muito grande muito rápido" diz.

Interessado em investir em mais negócios em 2015, faz sua análise sobre o mercado de startups brasileiro. "Vocês ainda estão no jardim de infância. Têm que se preparar para brigar", diz. Ao que parece, ele está disposto a ajudar nesta briga.

Confira abaixo os principais trechos da minha conversa com Koolen em sua última passagem pelo Brasil, em novembro.

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Temos um mercado bem difícil no Brasil. O que torna o País e as startups daqui tão interessantes para você?O Brasil é um País com muitos recursos e com muitas pessoas. É um grande mercado. Tem muitas oportunidades e a maioria delas ainda não está desenvolvida. Eu acredito que isso acontece porque o Brasil se fecha muito para outros países, com um sistema complicado de exportações e importações. Então, se você faz algo para o mercado local e você é bom, você pode se tornar muito grande muito rápido. Já nos EUA e na Europa, mesmo que você faça algo bom terá muita concorrência. É como no futebol. No nível mais alto todo mundo é meio igual. Se destacam aqueles que trabalham mais.

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O que outras empresas podem aprender com negócios bem-sucedidos de tecnologia como o Booking.com? Se você pegar o Booking.com como exemplo, verá que as agências de turismo passaram por tempos difíceis. Algumas eram grandes, tinham muitos escritórios e enfrentavam muita burocracia. Se você quer construir um novo tipo de empresa, você tem que ser muito criativo e fazer muitos testes. E para as grandes empresas é difícil fazer isso. Um bom caminho é tentar se antecipar. O criador do carro desenvolveu o produto quando ninguém pensava em ter um veículo motorizado, em uma época em que as pessoas estavam felizes com os seus cavalos. Se você perguntasse a elas o que elas gostariam de ter na época, elas responderiam apenas um cavalo mais rápido. Se você é uma empresa de táxi e não acredita no mercado mobile, você tem um problema.

Muitas grandes empresas brasileiras estão fazendo parcerias com startups. Esse é um bom caminho para inovar? Acredito que sim. Eu acho que as empresas precisam pensar em como dar liberdade para seus funcionários experimentarem. Nem sempre as soluções geram lucro ou é claro o que precisa ser feito. Se você realmente der a liberdade de uma startup para as pessoas experimentarem coisas, você terá resultados bons. Eu dei muito espaço para os meus funcionários no Booking.com fazerem experimentos. Se uma pessoa erra trabalhando para mim, não a demito. Eu tento entender o motivo pelo qual ela errou e depois conto para todos na empresa, para evitar que o erro possa se repetir.

Todos criticam o mercado brasileiro por não valorizar a falha. Você enxerga esse ou algum outro problema em específico nas startups daqui?Há muitas pessoas com boas ideias, mas o Brasil foi um dos países mais complicados para abrir uma operação da Booking.com por causa da burocracia. Se foi complicado para nós, como grande empresa experiente, será difícil também para as startups. Eu acho que as empresas daqui gastam muito tempo com burocracia. Na Holanda eu abro um negócio pela internet pagando 99 euros e em uma hora. Depois, posso me concentrar no meu negócio. Aqui no Brasil, se eu invisto na sua empresa e você não paga os salários de alguém, eu como seu investidor vou ser cobrado. Isso torna as coisas mais difíceis. Nos EUA eu não sou responsável pelo que você faz por investir em você. Por isso, muitos investidores não permitem aos empreendedores tomarem riscos. Os empreendedores brasileiros estão fazendo o melhor que eles podem. Por isso eu invisto aqui.

No caso do Uber, você acredita que a empresa está aprendendo com seus próprios erros? Muita gente critica a postura da empresa e alguns pediram na internet que o CEO Travis Kalanick fosse demitido depois do escândalo  de que a empresa teria interesse em investigar a vida privada de jornalistas... Eu não sei exatamente o que aconteceu. Pode ter sido uma discussão. Ou de repente você me deixa bravo e eu digo em resposta algo como "eu te mato" (insinuando, pelo tom da voz, algo em tom de brincadeira) e você depois escreve que aquilo foi dito como uma sentença. Como lidar com isso? Eu não sei o que aconteceu. Você não sabe. Nós não estávamos lá. Eu acho que muitos jornalistas escrevem coisas apenas para vender mais matérias e eu não gosto disso. E se você escreve um artigo dizendo várias coisas ruins sobre mim e eu sou conhecido, vai vender bastante. Eu acho que o ponto em muitos casos é esse. O Uber, por sua vez, também quer aparecer em matérias e muitas vezes a empresa procura desafios, polêmicas, e vai um pouco além dos limites para isso.

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