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P2P e cultura digital livre

Da poeira aos holofotes, 38 anos depois, graças à internet

Pirataria? Para a banda, colocar o disco online gerou lucro

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Era para ter sido um show qualquer num fim de tarde de domingo no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no mês passado. Banda afinada, plateia cantando todas as músicas, bis e fãs pedindo para tirar fotos com os músicos no final.

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Só que a banda que havia se apresentado lançou seu único disco há exatos 38 anos - e ele durou apenas quatro meses nas lojas, até que foi recolhido pela censura. Permaneceu, como tantas outras obras, em uma obscuridade forçada.

O Ave Sangria teve uma passagem efêmera pela cena cultural pernambucana nos anos 70 - do mesmo jeito que apareceu, fugaz e explosivo, desapareceu, quando a banda desanimou após ter seu disco proibido. Parte do grupo foi acompanhar Alceu Valença, outros membros partiram para outros caminhos. Não ganharam um tostão com a banda.

Viveram as suas vidas cotidianas por décadas - a única lembrança do Ave Sangria foi o relançamento do disco, já nos anos 2000, mas em uma tiragem pequena e cara. Até que alguém digitalizou o álbum e o jogou na internet.

Marco Polo, o vocalista, diz não saber exatamente quando o disco caiu na web pela primeira vez. O que ele sabe é que, por volta de 2007, vários estudantes começaram a ir atrás da banda. "Começaram a aparecer convites de entrevistas, shows, documentários", conta. "Eu percebi que era coisa da internet".

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E era. O disco foi postado em blogs de música alternativa e começou a ser replicado. A base de fãs se multiplicou. Marco Polo diz que um amigo estima que o disco tenha sido baixado 30 mil vezes. Aposto que o número é muito maior.

Começaram a aparecer os convites. O Ave Sangria reuniu os membros remanescentes e começou a fazer shows em Pernambuco. Mas as experiências mais marcantes, diz Marco Polo, foram naquele dia, no Sesc Belenzinho, e em 2011, em um festival no sul do País. "Foi violento. Pelo menos 400 pessoas sabiam cantar. E era tudo gente jovem".

Em São Paulo, o público gritava e pedia bis. Um desavisado nem imaginaria que aquela banda permaneceu na obscuridade por tanto tempo. "Aquele trabalho se tornou atemporal. Consegue interessar ao pessoal jovem de hoje tanto como interessava ao pessoal daquela época", filosofa o vocalista.

A banda nunca ganhou nada com direitos autorais. Nem com o disco físico, lançado em 1974 por uma gravadora relativamente grande. Pirataria? Essa nunca foi uma preocupação para eles. Afinal, se levassem a lei de dirieitos autorais ao pé da letra e quisessem impedir sua obra de ser digitalizada e circular, eles provavelmente continuariam tocando em poucas vitrolas, ou esquecidos em alguma estante empoeirada. "Eu sou totalmente a favor da liberdade da internet. Houve uma mudança de paradigmas, do conceito de arte", diz Marco Polo. Ele acredita que é o público que tem que decidir se vai pagar, e quanto vai pagar. E acha graça quando vê um disco pirata da banda em algum camelô. "A gente é tão famoso quanto o Calypso", brinca.

Documentários completos online O Fulldocumentary.com é um repositório de documentários completos em streaming. Ele lista títulos em várias plataformas, como o YouTube e Vimeo. Para tentar evitar problemas com direitos autorais, o site avisa que nenhum filme está hospedado ali - eles apenas dão os links para outras fontes. O acervo tem obras como o recém-lançado George Harrison: Living in a Material World.

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Estudantes, os novos soldados antipirataria Deu no Torrent Freak: além dos planos globais, as grandes gravadoras estão buscando alternativas para coibir a pirataria em pequena escala. E uma delas, disse um informante anônimo, é contratar estudantes para caçar quem compartilha arquivos em fóruns online, blogs e redes como BitTorrent. A empresa alemã, chamada proMedia, teria contratado 35 estudantes para a função.

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