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P2P e cultura digital livre

Os piratas no Brasil

Quase metade dos brasileiros que usam a internet consomem conteúdo ilegalmente, diz Ipea

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

41% dos brasileiros conectados à internet são piratas. E, em geral, quem consome pirataria no Brasil tem um bom nível educacional e socioeconômico. É o que diz um relatório divulgado na quinta-feira, 10, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em geral, os dados revelam que a maior parte do público que baixou filmes ou músicas piratas se concentra nas classes A e B. A maioria dos entrevistados entre 16 a 34 anos admitiu ter baixado conteúdo nos últimos três meses. A pirataria também predomina entre o público masculino: 58% dos homens baixaram conteúdo, contra 45% das mulheres. Além disso, a concentração de piratas é maior no nível superior: 59% dos entrevistados com esse nível de escolaridade fizeram downloads.

"O consumidor preferirá o produto legítimo quando seu custo de aquisição for inferior ao custo de transação de se adquirir um produto pirata", diz o estudo Foto: Estadão

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Segundo o Ipea, a pirataria "raramente é vista como não ética pelos usuários, visto que não há percepção de ganhos monetários".

"Identifica-se que quanto maior o nível de instrução, maior a porcentagem de usuários que fazem download de música ou vídeo", diz o estudo. Em geral, os usuários dão mais importância à conveniêndia do que à qualidade - por isso, a falta de um modelo de negócios satisfatório é um dos estímulos que fazem os usuários consumirem produtos ilegalmente.

"Um preço alto de um produto legítimo, ou sua indisponibilidade em determinado mercado estimulará o consumo de produtos piratas. Por exemplo, a ausência de salas de exibição de filmes em mais de cinco mil municípios no país tende a incentivar o consumo de filmes piratas", diz o relatório. "A maior parte dos modelos de negócio de distribuição de música online no Brasil ainda continua sustentada na venda de faixas individuais. A oferta de modelos alternativos, baseados em publicidade ou assinatura, pouco se desenvolveu neste período. Ainda assim, o mercado conserva-se em estágio incipiente, carecendo de indícios suficientes para prognosticar o modelo que prevalecerá".

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O Ipea diz que novos modelos de negócio têm surgido - alguns deles baseados em princípios livres - mas, no Brasil, o mercado ainda não acordou. Só no fim de 2011 que grandes empresas da área de conteúdo online, como Netflix e iTunes, chegaram ao mercado brasileiro.

"No Brasil, a realidade das ruas mostra que a pirataria parece ser tolerada por grande parte da sociedade, e os números aqui apresentados comprovam esta suposição. Até muito recentemente, a oferta de conteúdo online não fugia ao modelo tradicional, sem adicionar novas funcionalidades que ajudassem a capturar consumidores, como aqueles pertencentes a comunidades de fãs. Os modelos freemium têm a vantagem de incorporar na equação de receita uma grande parte do mercado que não pode ou não está disposta a gastar em conteúdo", diz o Ipea.

Mas baixar conteúdo ilegalmente nem sempre significa prejuízo. Apesar da pirataria reduzir em 45% a possibilidade de comprar um CD, ela também aumenta em 35% a possibilidade do consumidor ir a um show, diz um estudo recente citado pelo Ipea."O estudo sugeriu que o download está negativamente correlacionado à pirataria por meio de mídia física, e, consequentemente, as estimativas que não levam em conta este fato podem ser tendenciosas", diz o relatório.

O estudo foi baseado na Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2010, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

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