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A internet consome menos energia do que você pensa

Alertas a respeito do dano ambiental causado pela tecnologia são exagerados, dizem pesquisadores americanos

Por Steve Lohr
Atualização:
A mineração de criptomoedas exige aparelhos de intensa capacidade Foto: Andrey Rudakov/Bloomberg - 18/3/2021

As gigantes da indústria da tecnologia, com suas centrais de processamento de dados do tamanho de estádios de futebol famintas de energia, não são as vilãs ambientais que redes sociais e outros lugares retratam às vezes.

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Ou seja, desligar sua câmera durante chamadas de Zoom ou diminuir a definição de transmissão da sua conta de Netflix não ocasionam nenhuma grande economia de energia, ao contrário do que afirmam alguns. Mesmo o impacto ambiental previsto para o bitcoin, que, sim, requer bastante trabalho computacional, tem sido consideravelmente exagerado por alguns pesquisadores.

Essas são as conclusões de uma nova análise de Jonathan Koomey e Eric Masanet, dois importantes cientistas do campo de tecnologia, uso de energia e meio ambiente. Ambos trabalhavam como pesquisadores do Laboratório Nacional de Lawrence Berkeley. Koomey é atualmente um analista independente, e Masanet é professor da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara (Masanet recebe financiamento de pesquisa da Amazon).

Eles afirmaram que sua análise, publicada na quinta-feira como artigo opinativo na revista científica Joule, não tem objetivo de ser necessariamente reconfortante. Em vez disso, afirmaram eles, o texto pretende injetar uma dose de realidade na discussão pública a respeito do impacto da tecnologia no meio ambiente.

Os cientistas dizem que o aumento na atividade digital ocasionado pela pandemia de covid-19 alimentou o debate e provocou assustadores alertas a respeito de danos ambientais. Eles estão preocupados com a possibilidade de alegações distorcidas, com frequência amplificadas pelas redes sociais, moldarem comportamentos e políticas.

Alegações exageradas, afirmaram eles, são com frequência esforços bem intencionados de pesquisadores que fazem considerações que parecem constatações racionais. Mas esses pesquisadores não estão familiarizados com as rápidas mudanças na tecnologia computacional - processamento, memória, armazenamento e redes. Ao fazer previsões, eles tendem a subestimar o ritmo das inovações que poupam energia e a maneira como os sistemas funcionam.

O impacto da transmissão online de vídeos no consumo de energia da rede é um exemplo. Uma vez que uma rede está pronta e operando, a quantidade de energia que ela usa é muito parecida quando grandes ou pequenas quantidades de dados trafegam. E constantes melhorias na tecnologia diminuem o consumo de energia.

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Na análise, os autores citam duas grandes operadoras de rede internacionais, Telefónica e Cogent, que divulgaram informações de tráfego de dados e uso de energia em 2020, durante a pandemia de covid-19. A Telefónica registrou um salto de 45% na quantidade de dados que passaram por sua rede e nenhum aumento no uso de energia. O uso de eletricidade da Cogent caiu 21% mesmo com o tráfego de dados aumentando 38%.

“Sim, estamos usando muito mais serviços de dados e transmitindo uma quantidade muito maior de dados pelas redes”, afirmou Koomey. “Mas também estamos ganhando bem mais eficiência muito rapidamente.”

Outro problema, afirmam os autores, é olhar para um único setor em alto crescimento na indústria da tecnologia e assumir que o uso de eletricidade está aumentando proporcionalmente e que isso representa a totalidade da indústria.

Os centros de processamento de dados computacionais são um exemplo. Os maiores data centers, nos quais consumidores e trabalhadores utilizam serviços e softwares na internet, consomem, sim, uma grande quantidade de eletricidade. Os chamados centros de processamento de dados em nuvem são operados por empresas como Alibaba, Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft.

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De 2010 a 2018, a carga de dados hospedados pelos centros de processamento de dados em nuvem aumentou 2.600%, e o consumo de energia elevou-se em 500%. Mas o consumo de energia total de todos os centros de processamento de dados aumentou menos de 10%.

A complexidade, o dinamismo e a imprevisibilidade do desenvolvimento de tecnologia e dos mercados do setor, afirmam os autores, tornam suspeitas previsões para mais de dois ou três anos. Eles criticaram um artigo sobre energia e bitcoin que projetava décadas, com base no que eles disseram ser dados antigos e hipóteses simplificadas - uma abordagem qualificada por Masanet como “extrapolar até o Apocalipse”.

Mas os cientistas dizem que o bitcoin é algo diferente - e uma preocupação. As tendências de eficiência energética de outros setores da indústria da tecnologia são limitadas porque o especializado software do bitcoin consome cada vez mais ciclos computacionais à medida que mais pessoas tentam criar, comprar e vender a moeda digital.

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“Isso é um ponto que precisa ser acompanhado muito atentamente e poderia ser problemático”, afirmou Masanet.

Há muita coisa desconhecida a respeito de mineração de criptomoedas e consumo de energia. O mecanismo usa software e hardware especializados, e os grandes centros de criptomineração de China, Rússia e outros países são cercados de segredo.

Então, estimativas a respeito da pegada energética do bitcoin variam amplamente. Pesquisadores da Universidade de Cambridge estimam que a mineração de bitcoin consome 0,4% da energia produzida em todo o mundo. Pode não parecer muito. Mas estima-se que todos os data centers do mundo (sem contar os que mineram bitcoin) consomem 1% da eletricidade do planeta.

“Acho que é um bom uso, altamente valorizado, desse 1%”, afirmou Koomey. “Não estou certo se isso é verdadeiro em relação à cota do bitcoin.” / Tradução de Augusto Calil

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