A tecnologia é boa ou ruim?

Para colunista, tecnologias farão com que as pessoas se sintam mais conectadas e um pouco menos solitárias

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Por Agências
Atualização:

NYT

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Por Nick BiltonTHE NEW YORK TIMES

Como colunista de tecnologia há muito tempo, já vi o lado escuro do setor. Já escrevi sobre os campos minados da privacidade no Facebook e outras redes sociais. Já vi como a câmera dos nossos celulares pode nos transformar em narcisistas.

Também já fui testemunha de como a tecnologia permitiu que os terroristas espalhassem sua mensagem de ódio e incitassem o medo.

Todas essas desvantagens me fazem pensar se esses avanços tecnológicos valem a pena. Talvez estivéssemos melhor sem os smartphones, redes sociais, computação na nuvem e aplicativos como Snapchat, sem os quais aparentemente não conseguimos viver.

É uma pergunta que tenho me feito enquanto reflito sobre o assunto – minha última coluna para o New York Times, depois de 14 anos trabalhando no jornal. E foi durante esse momento contemplativo que recolhi alguns conselhos de uma fonte improvável: David Carr, antigo colunista de mídia daqui, morto no ano passado.

Quando busco inspiração ou algo que me faça sorrir, algumas vezes me vejo entrando na página de David no Twitter (@carr2n) para ler suas velhas postagens cheias de pepitas de sabedoria, tiradas de humor ou frases com reviravoltas espertas.

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Da última vez que fiz isso, também percebi que eu ainda o seguia. Assim como outras 455 mil pessoas, mesmo que seu último post seja de 12 de fevereiro de 2015, e dirigido a mim depois de uma pequena brincadeira que fiz com meu querido amigo e mentor. “@nickbilton me deixou uma MV (mensagem de voz) porque pensou que, na verdade sou velho o suficiente para ouvi-la. Mordi a isca. Ai. #gotyermessage (#entendisuamensagem).”

Ele vai publicar mensagens de novo? Não. E mesmo assim milhares de pessoas (e alguns robôs) ainda o seguem. Isso acontece porque a tecnologia ainda nos conecta com David.

Num certo sentido, é isso que a tecnologia sempre fez. É verdade com aviões, trens e automóveis. E com celulares, redes sociais e mecanismos de busca. Eles e outras tecnologias nos conectam com pessoas que não estão conosco, geograficamente ou fisicamente, e fazem com que nos sintamos menos solitários neste imenso mundo confuso.

Pegadas digitais. David Carr não é o único morto que continua a ser uma luz para mim. Minha mãe, que faleceu em março de 2015, ainda está salva como favorita em meu iPhone, e imagino que permanecerá para sempre.

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Eu ainda a sigo no Facebook. Seus e-mails estão na minha caixa de mensagens (apesar de me sentir culpado por não ter respondido a alguns), assim como um vídeo que ela me mandou dois Natais atrás explicando como fazer seu famoso bolo de chocolate.

Felizmente, por causa daquela câmera frontal, posso percorrer fotos que ela mandou ao longo do tempo.

Nos anos 1800, era comum fotografar aqueles que haviam acabado de falecer, geralmente em um retrato de família, como uma maneira de capturar um último momento com a pessoa amada. Hoje, vivemos em uma era em que, graças à tecnologia, podemos reviver um sem número de momentos com as pessoas que amamos depois que se vão ou partem para longe.

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Fazemos isso por meio das pegadas digitais que deixamos no Facebook e no Twitter, das fotos nos nossos celulares e de todos os termos escritos em mecanismos de busca. A tecnologia permite que nos conectemos.

Bem ou mal. Então o bom ultrapassa o mal? Para mim, sim. E acho que será assim também no futuro, à medida que novas tecnologias nos forcem a enfrentar dilemas éticos ainda maiores.

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Por exemplo, os carros sem motorista, que eu acredito terão um impacto imenso, desconhecido na sociedade. Quando essa tecnologia for amplamente adotada – alguns dizem que vai acontecer em dois anos; outros em 20 – muitos vão lamentar os pontos negativos. Entregadores de pizza, motoristas de caminhão e de táxi e várias outras pessoas podem perder seus empregos. Hackers e terroristas serão capazes de transformar carros sem motoristas em armas. Os adolescentes não terão mais a alegria de tirar a primeira carteira de motorista.

No entanto, também haverá muitos pontos positivos. As estradas podem ser convertidas em parques. Encontrar vaga para estacionar se tornará uma coisa do passado (como as multas por parar no lugar errado). O tempo perdido dirigindo talvez seja usado para atividades mais produtivas ou prazerosas, como ver um filme, fazer exercícios ou dormir.

Além disso, os carros sem motorista podem ser mais seguros, salvando a vida de milhões de pessoas todos os anos. E talvez consigam nos conectar de uma maneira que ainda nem imaginamos.

As mesmas situações pró e contra vão aparecer com outras tecnologias, entre elas drones, realidade virtual, big data, impressoras 3D, medicamentos, computadores de vestir e, claro, inteligência artificial.

Vamos nos preocupar com essas novas tecnologias. Vamos questioná-las. Vamos pedir mudanças. E devemos.

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Mas, no final, mesmo que as pessoas usem as tecnologias para prejudicar os outros, haverá um número muito maior de momentos em que elas serão utilizadas para o bem. E, mais importante, em que elas farão com que a gente se sinta mais conectado e um pouco menos solitário.

#gotyermessage

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