Mudança em algoritmo pode ampliar notícias falsas no Facebook

Em países onde mudanças similares no algoritmo foram testadas, imprensa perdeu atenção dos leitores para sites sensacionalistas

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Por Sheera Frenkel , Nicholas Casey e Paul Mozur
Atualização:

Numa manhã de outubro do ano passado, os editores do ‘Página Siete’, terceiro maior site de notícias da Bolívia, notaram que a audiência que vinha do Facebook estava despencando. A publicação havia sido atacada por hackers havia pouco tempo e os editores tinham receio de que o site estivesse no alvo de aliados do governo do presidente Evo Morales. Mas não havia sido culpa do governo de Morales e sim do Facebook.

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A maior rede social do mundo estava testando uma nova versão de seu feed de notícias, na qual ela retirava os sites de notícias da página que as pessoas normalmente veem para deixá-las em uma nova aba, chamada Explore. A Bolívia havia se tornado a cobaia da rede social, que tentava se reinventar.

A Bolívia é um dos países perfeitos para os testes do Facebook, com sua população online crescente. Contudo, mudanças como essas podem ter consequências significativas no país latino-americano, como limitar o acesso a informações em sites não governamentais e até mesmo amplificar o fenômeno nas notícias falsas.

Na última quinta-feira, 11, o Facebook anunciou planos de fazer alterações similares em seu feed de notícias global. A empresa diz que tenta aumentar as “interações significativas” no site, ao mostrar mais postagens de amigos e familiares, ao mesmo tempo em que diminui a relevância de notícias e postagens de empresas. As mudanças são feitas num momento em que o Facebook está envolvido em um debate amplo sobre seu papel na distribuição de notícias falsas e influência nas eleições dos Estados Unidos e de outros países.

Segundo o Facebook, as alterações não são idênticas as que a rede social vem testando desde outubro na Bolívia e em outros cinco países. As duas alterações, porém, favorecem conteúdo de amigos e família em vez de veículos de comunicação. Em outubro, a rede social havia afirmado que não tinha planos de liberar a alteração para todos os seus usuários no mundo. O que aconteceu nesses seis países, porém, ilustra bem as consequências inesperadas que uma mudança desse porte em uma plataforma usada por mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo.

Na Eslováquia, onde nacionalistas de direita tomaram perto de 10% do Parlamento em 2016, editores dizem que as mudanças ajudaram a promover as notícias falsas. Com os veículos de comunicação obrigados a gastar dinheiro para impulsionar suas publicações, a distribuição de notícias na rede social ficou a cargo dos usuários.

“As pessoas usualmente não compartilham notícias com assuntos entediantes”, disse o editor de mídias sociais do site Denník N, Filip Struharik. Após as mudanças, o site teve uma queda de 30% no engajamento dos leitores na rede social. Por outro lado, Struharik notou um aumento no engajamento em sites que publicam notícias falsas ou sensacionalistas.

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Uma história falsa que se espalhou em dezembro na Eslováquia ilustra bem o problema: ela dizia que um muçulmano agradeceu um bom samaritano por entregar sua carteira perdida e o alertou sobre um ataque terrorista programado. A história fabricada circulou tanto que a polícia teve de negar o rumor em nota. Ao compartilhar o alerta no Facebook, porém, eles perceberam que a postagem não teria o mesmo alcance do boato, já que seria publicada por uma página na rede social.

TRADUÇÃO DE CLAUDIA TOZETTO

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