PUBLICIDADE

Conhecendo o mundo, de olho na tela do celular

A indústria do turismo não perdeu tempo e correu para tirar proveito da coqueluche do game Pokémon Go

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:
 Foto:

A esta altura, só alguém que tenha passado os últimos dois meses na lua ainda não ouviu falar da febre do Pokémon Go. O game para smartphones, que sobrepõe elementos de realidade aumentada a lugares do mundo real, já foi baixado cerca de 100 milhões de vezes só na loja de aplicativos Google Play. Os usuários caçam seus personagens favoritos em “pokéstops” e os põem para travar batalhas em Ginásios Pokémon. Há monstrinhos que a pessoa só encontra em certas partes do mundo. Por isso, quem leva a sério o mantra “tenho de pegar todos eles” precisa viajar.

PUBLICIDADE

E a indústria do turismo mostrou que não é de dormir no ponto. Sem aviso, estabelecimentos comerciais e pontos turísticos foram invadidos por multidões com celular em punho, caçando pokémons. Num primeiro momento, bares e cafés que tiveram a sorte de serem designados como pokéstops puseram-se a adquirir “iscas” – uma ferramenta do game que permite aos estabelecimentos atraírem mais pokémons (e, por conseguinte, mais jogadores). Agora o setor resolveu ir fundo na coisa: o turismo pokémon é a sensação do momento. 

Para despertar o interesse dos turistas, várias cidades passaram a anunciar, entre as atrações que oferecem, sua concentração de pokéstops e Ginásios Pokémon. Algumas agências organizam “pokétours”, excursões com guias que levam os turistas para caçar monstrinhos raros. E há hotéis fazendo propaganda de que, em seus quartos, o hóspede não precisa nem sair da cama para capturar um Bulbasaur. Já se tem notícia até de pessoas que alteram seus planos de viagem para incluir sessões de caça a pokémons.

A trabalho. Para os viajantes corporativos, essa onda toda não parece ter importância, a menos que eles (ou seus filhos) se animem com a possibilidade de capturar um monstrinho diferente numa viagem ao exterior. Mas analistas acreditam que o segmento de viagens de negócios deveria adotar o tipo de funcionalidade de que o game faz uso.

O Pokémon Go combina gamificação, geolocalização e realidade aumentada de uma maneira que, com adaptações, poderia facilitar a vida de quem viaja a trabalho. O fato de que os criadores do game tenham associado tantos lugares do mundo real a locais virtuais é digno de nota. Uma pessoa que joga o game enquanto viaja não está apenas colecionando itens num mundo de fantasia, mas também visitando e interagindo com lugares reais. Não há novidade nisso. 

Quem tem boa memória vai se lembrar dos esforços feitos pelo Foursquare para gamificar o “geotagging” (atribuição de referências geográficas a fotos, vídeos ou posts em redes sociais): o aplicativo permitia que os usuários se tornassem “prefeitos” dos estabelecimentos em que realizavam grande número de check-ins. Quem for capaz de recuar ainda mais no tempo talvez guarde alguma lembrança do entusiasmo gerado pelos aplicativos de realidade aumentada, como o Layar, que permitiam ao usuário ver os nomes de empresas e pontos turísticos sobrepostos virtualmente na tela do celular. Em momento nenhum, porém, essas inovações tiveram impacto comparável ao despertado pelo Pokémon Go. O game talvez seja pouco mais que uma moda passageira, mas pode estimular a criação de aplicativos mais úteis, que permitam aos viajantes interagir com os locais que visitam.

Inspiração. Um exemplo possível seria um assistente virtual de viagens corporativas, capaz de usar a localização da pessoa, sua agenda e camadas sobrepostas de realidade aumentada para orientar suas andanças pelas ruas de uma cidade desconhecida, ajudando-a a ir de uma reunião a outra e chegar ao lugar certo, na hora certa, munida das informações necessárias para que sua presença ali seja produtiva. 

Publicidade

As mesmas ferramentas que servem de base para o Pokémon Go poderiam ser utilizadas para exibir tudo isso na tela de um smartphone. As redes sociais também poderiam entrar no jogo, permitindo ao viajante apontar o celular para determinado lugar e ver o que as pessoas estão falando a seu respeito. Dessa forma, seriam criadas oportunidades para que os executivos que vivem com o pé na estrada ampliassem suas redes de contatos profissionais e compartilhassem informações.

Mas, como cautela não faz mal a ninguém, é importante lembrar também que esse tipo de inovação já foi alvo de várias experiências. O Google Glass é a mais famosa das malsucedidas tentativas de revolucionar o modo como as pessoas interagem com o mundo a sua volta. Ainda assim, o fenômeno do Pokémon Go mostra que há mercado para os aplicativos de realidade aumentada, ainda que o sucesso do game pareça dever muito à eliminação das características mais úteis da tecnologia, fazendo da coisa nada mais que uma brincadeira. De qualquer forma, ao que parece, no futuro veremos ainda mais gente andando pelas ruas de olho grudado na tela do celular.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.