Contra Facebook, redes sociais de nicho usam ‘paixão’

Crescimento de comunidades para fãs de discos de vinil, livros e receitas mostra que há espaço para sites menores e mais específicos

PUBLICIDADE

Foto do author Matheus Mans
Por Matheus Mans
Atualização:
Rômulo Troian e Lucas Stavitski criaram a Luvnyl, para amantes dos antigos "bolachões" Foto:

A maior paixão do estudante de engenharia Lucas Mello, de 22 anos, são os discos de vinil. O fã de rock dos anos 60 e 70 até tentava discutir com os amigos sobre seus álbuns favoritos no Facebook, mas as postagens acabavam se perdendo entre fotos de amigos e vídeos engraçados. “Hoje, a Luvnyl é a minha rede social preferida”, diz. “Gosto mais do que de Facebook e Instagram.”

PUBLICIDADE

Com apenas 3 mil usuários, a plataforma para amantes de discos de vinil não está no radar de Mark Zuckerberg, já que a rede social mais popular do mundo reúne mais de 1,7 bilhão de usuários. Mas o surgimento de redes sociais voltadas a nichos específicos mostram que há um lugar cativo para outros sites de relacionamento além do Facebook.

A Luvnyl aposta na paixão dos fãs de discos de vinil para crescer em relevância no Brasil. Criado em janeiro deste ano, o site não funciona de forma tão diferente de redes sociais generalistas: é possível adicionar contatos e acompanhar as novidades mais recentes dos amigos, mas as pessoas usam o espaço só para falar de suas experiências com o vinil, comentar sobre os mais de 15 mil discos cadastrados na plataforma e opinar sobre as melhores capas.

“A Luvnyl surgiu de uma paixão minha com os discos de vinil”, afirma o cofundador da rede social, Rômulo Troian. “A ideia sempre foi fazer com que os amantes desse formato tivessem um lugar para discutir sobre o tema, achar lojas que tivessem aquele disco que você sempre procurou, compartilhar fotos da sua coleção.”

A rede social ainda não gera lucro para Troian e seu sócio Lucas Stavitzki, mas já dá sinais de que a paixão pelo “bolachão” pode ser um filão interessante. Para ganhar dinheiro, eles ignoraram a publicidade – base do modelo de negócio do Facebook – e apostaram no comércio eletrônico. Em meio a um comentário e outro, os usuários podem comprar e vender discos para os amigos. “Faço muitas compras lá, em vez de usar o Mercado Livre”, diz Mello.

No futuro, a rede social de fãs de vinil ganhará uma porcentagem sobre vendas feitas dentro da rede. “Além do e-commerce, também pensamos em criar uma rádio dentro do site”, diz Troian. “Queremos ganhar dinheiro com algo que tenha a ver com a paixão dos usuários.”

Paixão antiga. Redes sociais de nicho mais velhas já entenderam como crescer e ganhar dinheiro. O Skoob foi a primeira rede social a conquistar um público específico: os viciados em livros. Lançada em 2009, ela começou como um hobby dos fundadores Lindenberg Moreira e Viviane Lordello. Em pouco tempo, o site cresceu e hoje tem mais de 3,5 milhões de pessoas cadastradas.

Publicidade

“Nós surgimos como um complemento ao Facebook”, afirma o cofundador da plataforma, Lindenberg Moreira. “É uma rede social só para as pessoas que querem falar sobre livros e que não querem ser atrapalhadas pelas notícias de outras redes e de outros assuntos que circulam por lá.”

Ao contrário da Luvnyl, a empresa começou a ganhar dinheiro logo ao partir para a publicidade, mas atualmente explora outras opções para tornar a rede social rentável. No ano passado, o site passou a sortear livros entre os usuários. Isso se tornou uma ferramenta de divulgação para as editoras, que pagam para ter contato com o público ávido por livros. “Queremos criar um serviço para os usuários escreverem os próprios livros”, afirma Lindenberg.

A Pip, uma outra rede social para pessoas que curtem gastronomia, também surgiu da paixão que o criador da plataforma, Guido Jackson, pela gastronomia. Em um primeiro momento, ele fundou uma empresa de software que estava desenvolvendo um sistema de inteligência artificial para substituir o caixa de supermercado. A ideia não foi para a frente, e Jackson acabou apostando em uma plataforma de gastronomia e receitas para redes sociais. 

“Tudo o que tem a ver com receita gera interesse”, conta o criador da Pip. “Pensamos em criar, então, um Instagram onde, além da foto, a pessoa possa postar e compartilhar suas receitas.”

Agora, a rede social está explorando novas formas de ganhar dinheiro. “Em breve, vamos permitir que as pessoas cliquem nos itens de uma receita e sejam redirecionadas para um site de comércio eletrônico”, conta o fundador.

Na opinião do analista de mídia da consultoria Nielsen, José Calazans, o grande desafio dessas redes é manter o usuário engajado. “Elas precisam fazer com que ele retorne, use mais o serviço. Oferecer pequenos serviços pode ser uma estratégia rentável para essas empresas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.