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Debate sobre corpo conectado domina a Campus Party

À medida que tecnologia cria aparelhos que ajudam a saúde das pessoas, cresce o debate sobre direito do indivíduo sobre seu corpo

Por Bruno Capelas
Atualização:
Acampamento. Campus Party reúne mais de 8 mil campuseiros no Anhembi até domingo Foto:

Um dos principais setores que estão sendo transformados pela tecnologia, a saúde foi destaque no segundo dia de Campus Party. O tema permeou as principais palestras do evento ontem, como a da ativista do software livre, Karen Sandler, e do pesquisador britânico, Aubrey de Grey. Eles discutiram a privacidade de dados e o controle que as pessoas têm sobre dispositivos de saúde, em especial os que podem ser implantados, e como a tecnologia pode ajudar os humanos a se tornarem imortais no futuro. 

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Para Karen, o assunto se tornou uma preocupação pessoal nos últimos anos. Ela sofre de um problema cardíaco que pode fazer seu coração parar de bater a qualquer momento. Por isso, tem um desfibrilador conectado a seu coração – se o órgão parar, ele recebe um choque para reanimá-lo. Em 2016, porém, Karen ficou grávida e começou a ter palpitações, um sintoma comum para algumas gestantes. O problema é que o desfibrilador disparou e ela levou choques no coração. “Quem desenhou o dispositivo nunca imaginou que uma grávida poderia usá-lo”, diz Karen, que chama a atenção para a falta de controle sobre aparelhos eletrônicos usados na área da saúde. 

“As pessoas estão conectando seus corpos à internet sem saber o que isso significa”, afirmou a advogada. “Todo dispositivo tem um software e todo software está sujeito a falhas ou invasões.” Em sua apresentação, Karen defendeu que dispositivos como o seu desfibrilador utilizem software livre, permitindo a qualquer usuário alterar ou personalizar um dispositivo. “Se a fabricante de seu dispositivo falir e ela usar um software ‘fechado’, você vai ter para sempre um aparelho no seu corpo que não pode ser modificado”, explicou Karen, em entrevista ao Estado. 

Já o pesquisador britânico Aubrey de Grey falou sobre como a tecnologia pode ser usada para tratar doenças e parar o envelhecimento. Em apresentação que se seguiu à de Karen, no palco principal da Campus, ele fez uma proposição ousada. “Qualquer ser humano que tem menos de 40 anos hoje poderá ver o desenvolvimento de tecnologias que vão lhe permitir se tornar imortal.”

Diretor da fundação Sens, focada no campo da gerontologia (popularmente como a ciência do envelhecimento), Grey mostrou um pouco sobre seu método para “parar o envelhecimento”, baseado na recuperação de tecidos por meio terapias e de uma melhor alimentação. Suas propostas, porém, são questionadas – em artigo recente em uma revista científica do Massachusetts Institute of Technology (MIT), defensores de suas ideias não conseguiram provar se elas, de fato, representam avanços científicos. 

Imaginação. Outro destaque de ontem na feira foi a participação de Walda W. Roseman, presidente da Fundação Arthur C. Clarke, criada em homenagem ao escritor de clássicos de ficção científica como 2001 – Uma Odisseia no Espaço e O Fim da Infância. Em sua palestra, Walda falou sobre a importância da criatividade para o mundo. “A ciência e a tecnologia são muito motivadas pelo raciocínio exato, mas essas áreas precisam lembrar do poder da imaginação como recurso para criar novas coisas”, disse ela ao Estado. 

Walda, Karen e de Grey, no entanto, são apenas uma parte da programação da Campus Party – a feira tem ao todo dez palcos. A sensação de quem participou do evento ontem é de que, apesar da infraestrutura simples, o interesse dos campuseiros pela programação estava em alta. 

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Em alguns palcos, havia apenas uma TV, um microfone para o apresentador e algumas cadeiras para o público. Mas isso parecia ser suficiente para prender a atenção dos visitantes a temas que vão de jogos de tabuleiro a plataformas para criar protótipos de eletrônicos, como Arduino e Raspberry Pi. 

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