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Depois das baladas e dos shows, as redes sociais também chegaram à era da ‘pulseirinha VIP’

Por valores mensais, criadores de conteúdo criam espaços para compartilhar conteúdos exclusivos

Foto do author Bruna Arimathea
Por Bruna Arimathea e Giovanna Wolf
Atualização:
Bruno paga R$ 20 por mês para participar de um grupo exclusivo sobre quadrinhos no Facebook Foto: Alex Silva/Estadão

Para alegria de poucos e desgosto de muitos, shows e baladas consagraram a ideia da ‘pulseirinha VIP’. Ou seja, paga-se valores extras para teracesso a um espaço que oferece vantagens - e um certo ar de exclusividade - em relação a experiência padrão. Agora, a mesma lógica começa a se espalhar por perfis e páginas em redes sociais, com influenciadores e seguidores vendendo e comprando um espacinho no “camarote dos conteúdos”. 

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Em 2019, a influenciadora Virgínia Fonseca causou barulho quando anunciou a venda de “vagas” na sua seção de melhores amigos no Instagram por R$ 14,90, o que dava acesso a Stories exclusivos. Na época, a influenciadora, que hoje tem 36,3 milhões de seguidores, abriu 500 vagas — o que rendeu cerca de R$ 7,5 mil mensais. 

O que parecia uma proposta descabida, no entanto, acabou virando um modelo comum. Por meio de plataformas de pagamento ou até via Pix, influenciadores e páginas cobram um valor mensal para oferecer conteúdos extras ou mais intimistas — seja por Stories, no Instagram, grupos de WhatsApp ou Telegram ou lives e vídeos exclusivos no YouTube. O esquema é simples: Pagou, acessou. O cliente é expulso do camarote caso a assinatura não seja renovada. 

Com mais de 2,1 milhões de seguidores no YouTube, a WebTV Brasileiraé um dos canais que vive da adesão de seus seguidores aos planos mensais - o modelo é turbinado especialmente durante o Big Brother Brasil

“Descobrimos que os seguidores queriam consumir mais sobre a gente. A gente entrava em uma live depois do BBB falando nossas opiniões sobre as situações e as pessoas comentavam que queriam ver nossas reações em tempo real”, conta ao Estadão Tati Martins, que criou o canal com o marido Marcelo Carlos. 

O clubinho da WebTV Brasileira entrou no ar por R$ 7,99 em 2017 e tem hoje 15 mil membros. O casal afirma que a renda obtida apenas das assinaturas seria suficiente para se manterem — na prática, o hobby virou profissão e o clubinho virou salário.

“Com os anos, passamos a entender o que dá certo. Conseguimos criar um conteúdo muito legal para os membros, sem nos desgastarmos. O desafio sempre foi produzir sem tirar espaço do que já produzimos no canal para todo mundo”, afirma Tati.

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Oportunidades

Embora influenciadores com muitos seguidores tenham mais chances de angariar assinantes, o modelo de pulseirinha VIP também funciona com perfis menores. Roberta Saballa Dal Zotto, 26, é fotógrafa e começou a oferecer o esquema a partir de sua página no Instagram. Para pagar acessórios de cosplay — fantasias de animes e personagens de quadrinhos —Roberta compartilha bastidores dos trabalhos que faz e dá até spoilers das fotos que produz.

“É um acesso VIP a tudo que produzo. Posto o processo de produção, o que chega de novo, making off das fotos e as fotos prontas, antes de irem para o feed”, diz ela, que cobra taxas a partir de R$ 15 por mês. “Cosplay é um hobby caro e que, em geral, traz pouco retorno financeiro. Com o apoio, consigo comprar itens novos todos os meses”, diz.

Quem paga pelo “camarote” também vê vantagens. Bruno Maia Cherubini, 24, está no VIP de um grupo dedicado a histórias em quadrinhos. “Tenho acesso a grupo exclusivo de Facebook e sorteios mensais. Vale a pena. Gosto muito do conteúdo e queria poder ajudar de alguma forma”, conta ele, que paga R$ 20 por mês. 

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Para Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais, o VIP é mais uma forma de manipular as plataformas para necessidades do mundo offline. “É um bom exemplo de como usuários moldam as plataformas de acordo com seus próprios interesses. Os criadores de conteúdos que já conseguiram cativar uma comunidade conseguem monetizar essa fidelidade”, diz.

Camarote oficial

Até aqui, o VIP era uma prática extraoficial, que ocorria à margem dos sistemas das redes sociais. Mas isso também mudou: Facebook e Twitter entenderam que o camarote não é apenas uma fonte de renda além da publicidade: é também um elemento para reter influenciadores e usuários. 

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O Twitter criou o Super Follows, um plano por assinatura que permite que o usuário pague uma mensalidade para ter acesso ao conteúdo de um perfil. Segundo a empresa, a ferramenta permite que o criador de conteúdo tenha uma interação mais próxima com os seguidores e façam tuítes exclusivos - ele, porém, ainda não foi lançado globalmente, e está em testes nos EUA apenas para usuários de iPhone

Já o Instagram decidiu transformar a “venda de melhores amigos” em um produto. A rede social disponibilizou nos EUA o “Subscription”, plano de assinatura que dá direito a Stories e lives exclusivas para quem contribui mensalmente com os criadores de conteúdo. 

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Segundo a plataforma, o recurso está sendo testado “para ajudar criadores de conteúdo a ter uma renda mensal recorrente, oferecendo conteúdo e experiências exclusivas para seus seguidores mais engajados”. Ao Estadão, a empresa afirma que as assinaturas estão disponíveis apenas nos EUA, mas que espera disponibilizar o recurso para mais mercados “em breve".

Inagaki lembra que as ferramentas apenas aprimoram práticas já existentes. “A galera da geração Z tinha difundido o hábito de criar um segundo, terceiro, quarto perfil no Insta que era fechado só para amigos mais próximos. O ‘melhores amigos’ do Instagram, por exemplo, tornou essa prática obsoleta”. Ou seja: para quem esperava fugir dos espaços VIP de shows e baladas na internet, é tarde demais. A “pista comum” está esgotada. 

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