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DMs do Instagram podem ser esgoto de misoginia para mulheres famosas

Relatório identificou uma enxurrada de assédio a celebridades, inclusive imagens pornográficas e ameaças de violência física e sexual

Por Daniel Victor
Atualização:
Instagram pode ser palco para enxurrada de assédio, imagens pornográficas e ameaças de violência para mulheres, segundo relatório Foto: Dado Ruvic/Reuters - 11/3/2022

Uma análise das mensagens diretas (DMs) de cinco mulheres famosas no Instagram mostrou uma enxurrada de assédio, inclusive imagens pornográficas e ameaças de violência física e sexual, embora os criminosos costumem enfrentar pouca ou nenhuma consequência, de acordo com um relatório divulgado recentemente.

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O relatório do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês), organização internacional sem fins lucrativos, não é o primeiro a identificar a necessidade urgente das gigantes das redes sociais tomarem mais medidas para coibir o assédio em suas plataformas. Muitas mulheres que usam o Instagram – sobretudo aquelas com muitos seguidores – declararam não se sentir seguras e os defensores dizem que o assédio implacável ameaça reduzir o número de mulheres em uma das plataformas online mais populares do mundo.

Mas ao revelar suas milhares de mensagens recebidas para pesquisadores, as cinco mulheres com destaque nas redes permitiram uma análise profunda da misoginia que enfrentam fora do alcance dos olhares do público e como uma empresa de tecnologia lida com isso. Imran Ahmed, CEO da organização sem fins lucrativos, escreveu que a Meta, empresa controladora do Instagram e do Facebook, “criou um ambiente onde agressão e conteúdo nocivo são autorizados a se proliferar”.

“O efeito desejado da agressão e do trauma pelo constante bombardeio [de mensagens] é simples: afugentar as mulheres das plataformas, da vida pública e marginalizar ainda mais suas vozes”, disse ele.

Em comunicado, o Instagram contestou as conclusões do relatório e chamou a atenção para as medidas tomadas pela empresa para limitar o assédio. Os usuários podem filtrar palavras específicas de DMs e comentários, desabilitar a opção de estranhos enviarem DMs ou ocultar comentários e DMs de usuários que não os seguem ou passaram a seguir recentemente. As imagens enviadas por DMs por pessoas que não lhe seguem ficam desfocadas, iniciativa que visa ocultar imagens sexuais indesejadas e eliminar uma grande variedade de conteúdo abusivo.

“Embora discordemos de muitas das conclusões do CCDH, concordamos que o assédio às mulheres é inaceitável”, disse Cindy Southworth, chefe de segurança feminina da Meta, em um comunicado. “É por isso que não permitimos ódio baseado em gênero ou qualquer ameaça de violência sexual, e no ano passado anunciamos proteções mais fortes para figuras públicas femininas.”

Segundo o relatório, as políticas do Instagram não foram capazes de proteger as cinco mulheres de uma grande variedade de casos de misoginia e ameaças.

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As mulheres representavam um conjunto de figuras públicas, famosas em setores como entretenimento, ativismo e jornalismo. Amber Heard, atriz, tem 4,1 milhões de seguidores, enquanto Jamie Klinger, ativista que cofundou o grupo Reclaim These Streets depois do assassinato de Sarah Everard em Londres no ano passado, tem aproximadamente 3.500 seguidores. O grupo também incluía Rachel Riley, apresentadora de um programa de TV na Grã-Bretanha; Bryony Gordon, jornalista e escritora; e Sharan Dhaliwal, fundadora da revista de cultura sul-asiática Burnt Roti.

Quando mensagens são enviadas por alguém que você não segue, elas ficam armazenadas em uma pasta diferente chamada “Solicitações”. Para as mulheres que são figuras públicas, essa pasta tende a ser um esgoto.  

O relatório descobriu que entre as 8.717 DMs analisadas, cerca de uma a cada 15 violavam regras do Instagram sobre violência e assédio, incluindo 125 exemplos de imagens sugestivas de abuso sexual.

“No Instagram, qualquer um pode enviar de modo privado algo que seria ilegal”, disse Rachel Riley no relatório. “Se eles fizessem essas coisas nas ruas, seriam presos.”

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Ao analisar as contas que enviaram mensagens abusivas, 227 de 253 permaneceram ativas por pelo menos um mês após terem sido denunciadas. Quarenta e oito horas depois de serem denunciadas, 99,6% das contas continuaram online.  (O Instagram disse que as contas são excluídas após três ataques e perdem a capacidade de enviar mensagens diretas após um primeiro ataque.)

O relatório defendeu uma regulamentação mais firme, acusando as empresas conhecidas como gigantes da tecnologia de serem incapazes de regular a si mesmas. As promessas delas para deter o assédio eram ineficazes e ficavam abaixo do objetivo de obter lucro, segundo o relatório.

Enquanto isso, fica a cargo das mulheres criar suas próprias estratégias para lidar com o problema. Algumas optam por ignorar as mensagens diretas, mas Jamie Klinger disse que isso não era uma opção para ela, pois às vezes ela recebe por DM convites da imprensa para falar a respeito de seu ativismo.

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Amber Heard disse que a experiência e a incapacidade de fazer algo de verdade em relação à questão aumentaram sua paranoia, indignação e frustração.

“As redes sociais são como nos conectamos uns com os outros atualmente e esse meio está quase proibido para mim”, disse ela no relatório. “Esse é o sacrifício, a promessa e o acordo que fiz pela minha saúde mental.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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