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Em Osasco, iPad quebra rotina de escola pública

Oficina de férias tenta explorar criatividade, mas atividade dura só duas horas por semestre

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Por Bruno Romani
Atualização:
Mão na massa. Dois mil alunos participaram de oficinas Foto: Gustavo Alvarenga/Planeta Educação

Embora tenha laboratório de informática, a escola municipal de ensino fundamental João Campestrini, em Osasco, está longe de ter um dia a dia conectado. No colégio, os alunos enfrentam outras dificuldades, como a ausência de chuveiros e torneiras ou a dependência da merenda como principal refeição do dia. 

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Por um único dia no semestre, porém, essas crianças têm acesso a ferramentas de última geração, como iPads que custam pelo menos R$ 2,8 mil ou o Apple Pencil, acessório que permite desenhar na tela do tablet e é vendido por R$ 750.

Isso porque a escola participa, ao lado de outras 19 instituições do município, de um programa da prefeitura que leva oficinas de tecnologia aos colégios durante as férias, em janeiro e em julho. 

Na edição deste ano, 2 mil alunos da rede pública de Osasco usaram o tablet da Apple para criar vídeos, desenhar e até mesmo criar seus próprios aplicativos. Muitos tiveram contato com um dispositivo do tipo pela primeira vez. 

“É muito difícil descrever a alegria de ver essas crianças explorando sua criatividade”, diz Terezinha Oliveira dos Santos, diretora da escola João Campestrini. “Muitos aqui vêm de uma realidade dura, com famílias carentes”, frisa a educadora. Não é força de expressão: a escola, no bairro periférico de Munhoz Júnior, fica a 400 metros de um dos pontos de uma chacina que deixou 20 mortos na cidade em 2015. 

O programa foi realizado pela empresa Planeta Educação, que ganhou licitação na cidade para promover oficinas educacionais – não só relacionadas a tecnologia, mas ligadas também a esporte e artes, por exemplo. 

Cada oficina dura duas horas, mas alunos e diretora gostariam que o tempo fosse maior. “Seria um sonho poder usar os iPads diariamente na escola”, afirma Terezinha. 

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As oficinas são uma experiência em linha com a realidade das escolas públicas brasileiras. Segundo a pesquisa TIC Educação 2017, realizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), apenas 43% das escolas  urbanas têm conexão acima de 3 megabits por segundo (Mbps), velocidade que permite apenas tarefas básicas, como abrir o e-mail. 

Além disso, 57% das escolas urbanas não oferecem redes Wi-Fi aos alunos – essencial para que cada estudante possa usar o próprio dispositivo, algo considerado básico para uma “educação tecnológica”. 

Potencial. Ainda que curta, a experiência mudou a rotina de diversos alunos da escola. Um caso que chamou a atenção de Terezinha foi de uma aluna de 10 anos, diagnosticada com espectro de autismo. Segundo a diretora, durante o ano passado a menina teve dificuldades para escrever, além de questões de concentração e coordenação.

Quando entrou em contato com o iPad, porém, ela desempenhou com desenvoltura as atividades que envolviam escrita, usando o Apple Pencil para rabiscar a tela do tablet. “Desenhei, escrevi meu nome, fiz vídeos e tirei fotos da escola”, diz ela. “Foi legal.” 

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