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Em Pequim, nenhum atendente sabia usar o cartão de crédito

Deduzi que tinha entrado em um lugar mais moderno no país de Mao. Engano.

14/07/2019 | 05h00

  •      

 Por Eduardo Rodrigues* - O Estado de S. Paulo

Na China, é comum fazer pagamentos com QR code pelo smartphone

Reuters

Na China, é comum fazer pagamentos com QR code pelo smartphone

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Foi só pisar na China para eu perceber que meu cartão de crédito poderia ter um papel bem mais relevante do que bancar minha conta de hotel ou de um restaurante. A surpresa chegou com a minha primeira refeição. Logo percebi que nenhum atendente, mesmo os poucos que arranham algo em inglês, fazia ideia de como usar aquele objeto de plástico com chip e tarja magnética que eu carregava na carteira.

Deduzi que tinha entrado em um lugar mais moderno no país de Mao. Engano. Nos dias seguintes, vi que, até mesmo naqueles restaurantes que exibem uma maquininha sobre o balcão, ninguém mais parece saber ao certo como operá-la. Tudo é pelo celular.

Enquanto turistas desavisados como eu aguardavam o pagamento na maquininha ou se esforçavam para contar as notas do dinheiro asiático, a fila de pagamento pelos consumidores chineses seguia sem parar. Munidos com seus smartphones, jovens, idosos, crianças – sempre muitos deles, afinal, é a China – apenas miravam as câmeras para os códigos espalhados nas paredes, mesas e nas ainda existentes contas de papel. Tudo pago, em dois ou três segundos.

Nos pontos turísticos, a vantagem competitiva de quem já usa a tecnologia é ainda mais gritante. Enquanto via os chineses apenas fotografando os códigos exibidos em grandes outdoors na frente dos palácios e museus, eu dividia as filas arcaicas com os estrangeiros, para chegar até o balcão de uma bilheteria.

Táxis, máquinas de bebidas e lanches, barraquinhas de rua, lojas de luxo, templos budistas e, claro, bicicletas e patinetes que já viraram mania funcionam hoje na base do click com o telefone. “Até os mendigos aceitam”, me disse um guia. Tentei encontrar algum. Mas não se vê muitos pedintes pelas ruas de Pequim. 

*É REPÓRTER DO ESTADÃO

Sucesso na China, códigos QR devem mudar pagamentos

Comércio eletrônico, startups e bancos têm se dedicado ao formato, muito mais barato que sistema tradicional e, hoje, acessível a todos

Para fazer pagamento, basta apontar a câmera do celular e seguir comandos na tela; mais de dois terços da população chinesa já adotou esse meio

Yuyang Liu/The New York Times

Para fazer pagamento, basta apontar a câmera do celular e seguir comandos na tela; mais de dois terços da população chinesa já adotou esse meio

Às vezes, grandes apostas da tecnologia para revolucionar a vida das pessoas podem parecer simples. Que tal um conjunto de quadradinhos brancos e pretos, aparentemente dispostos ao acaso, mas que guardam consigo um mundo de informações? Surgidos nos anos 90, os códigos QR (ou QR Codes) não são exatamente novidade. Já tiveram ascensão e queda, chegando a ser considerados um ícone da inovação sem propósito. Mas isso mudou: impulsionados por ventos chineses, têm sido considerados como capazes de mudar a indústria de meios de pagamento. 

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No país asiático, os QR Codes deram poder de pagar e fazer transferências instantâneas a uma população equipada com smartphones. Até os modelos mais simples de celulares conectados à internet e com uma câmera decente podem realizá-los em qualquer lugar, até mesmo por meio de aplicativos de mensagem como o WeChat – uma espécie de WhatsApp chinês, do grupo Tencent. Lá, pagar sua parte no bar dos amigos como quem manda bom dia no grupo de família já é parte da realidade (leia mais abaixo). No Ano Novo chinês de 2017, quando as pessoas costumam trocar presentes entre si, mais de US$ 2 bilhões foram enviados no país dessa forma. 

O exemplo inspira empresas por aqui: gigantes de tecnologia, como o Mercado Livre, e startups, como a Movile, já usam plataformas do tipo. Elas não estão sozinhas, já que os grandes bancos também estão acompanhando de perto essa tendência. 

Evolução

Criados pela fabricante de autopeças japonesa Denso para rastrear seu sistema de produção, os códigos QR são uma evolução dos códigos de barra tradicionais. O funcionamento é simples: o sistema usado em boletos bancários usa apenas uma dimensão para guardar dados – a largura de cada barra determina um número específico. Já os QR Codes usam duas dimensões (largura e altura) para armazenar esses dados. No mesmo espaço físico, eles podem guardar centenas de vezes mais informações. 

Para funcionar, no entanto, a tecnologia precisa de sistemas de leitura adequados, capazes de decodificar esses dados. Foi por isso que a primeira grande onda de uso dos QR Codes no Ocidente, há pouco mais de uma década, não deu certo: poucos celulares tinham câmeras boas e conexão à rede capazes de entregar as informações – uma propaganda, um texto de museu ou um vídeo online. 

“A tecnologia vem em ondas”, afirma a professora Pollyana Notargiacomo, especialista em tecnologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Às vezes são necessários períodos de maturação até que se entenda quais são os melhores usos para cada inovação.” 

Na China foi diferente: ao chegar lá alguns anos depois, os QR Codes encontraram um ecossistema pronto para suas necessidades: celulares massificados, internet móvel e a necessidade de mudar o sistema de pagamento, ainda muito calcado em papel-moeda. Além disso, gigantes de tecnologia, como Tencent e Alibaba, buscavam formas de lucrar com a busca do consumo pela crescente classe média. Hoje, segundo dados do governo chinês, mais de dois terços da população já usam os códigos QR para pagamentos. 

Eles têm vantagens tecnológicas na comparação com sistemas atuais, como transferências bancárias e cartões de crédito: os pagamentos ocorrem em tempo real e não têm o custo para que redes diferentes se conectem no momento das transferências de recursos, como acontece atualmente. “Hoje, uma transferência bancária só é feita em horário comercial”, diz Alexandre Pinto, diretor de novos negócios da empresa de tecnologia financeira Matera. “No novo sistema, isso será instantâneo e custará poucos centavos.”

Adaptação

Mas será que o sucesso na China pode ser replicado no Brasil? “Aqui tem muita gente desbancarizada, mas todo mundo tem smartphones”, afirma Pinto. “É o cenário perfeito.” Para Álvaro Machado de Assis, especialista em redes de tecnologia da Unifesp, o consumidor brasileiro não terá dificuldades em fazer a transição, por ser entusiasta da tecnologia. Além disso, os principais programas de trocas de mensagens usados no País – WhatsApp e Telegram – já fazem experiências para adotar sistemas de pagamentos. 

Haverá, porém, diferenças em relação ao país asiático. “A China partiu do zero, enquanto aqui há uma figura mais formal dos bancos”, diz Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Também será preciso convencer as partes – incluindo os usuários, que não veem empecilhos no uso do cartão de crédito. “A adoção do QR Code só vai dar certo se as partes envolvidas virem benefícios nisso, como o cashback (retorno de parte do valor da compra)”, diz Dan Faccio, diretor financeiro da Zoop, braço financeiro da Movile. / COLABOROU MARIANA LIMA

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Código agiliza fila de alunos da cantina da escola

Por meio de aplicativo, crianças pagam lanche usando QR Code; nova função permite ainda 'adiantar' o pedido para gastar menos tempo no intervalo

 

Se depender da startup brasileira Nutrebem, o dinheiro do lanche e o troco em balas e chicletes – que não raro se transformam em cáries – estão com os dias contados. Fundada em 2014, a empresa é dona de um sistema de carteira digital escolar. Com ela, 150 mil crianças compram seu lanche diretamente em uma máquina localizada nas cantinas de seus colégios – o sistema da empresa está disponível em mais de 200 escolas no País. 

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Desde junho, além de pagar com cartão de crédito ou um sistema de login e senha, os usuários mirins também podem optar por realizar seus pagamentos em QR Codes. Segundo Henrique Mendes, o uso dos códigos quadriculados deu agilidade aos pagamentos – evitando filas. A criança também pode passar mais tempo do intervalo brincando ou conversando com amigos. 

Henrique Mendes, presidente executivo da startup Nutrebem, que oferece serviço de pagamento em cantinas escolares

Nutrebem

Henrique Mendes, presidente executivo da startup Nutrebem, que oferece serviço de pagamento em cantinas escolares

Além disso, uma função no aplicativo também permite que a criança peça, com antecedência, o que deseja comer no intervalo ou no almoço. Depois de fazer o pedido, o app gera um código QR, que pode ser lido pela máquina da Nutrebem na cantina – quando isso acontece, o sistema da startup identifica o pedido e, ao mesmo tempo, realiza o pagamento. “A proposta da tecnologia é trazer agilidade à fila do recreio”, afirma Henrique Mendes, presidente da Nutrebem. “Como o pedido já está feito, a criança fica apenas três segundos na cantina.” 

As crianças não usam o dinheiro sozinhas, no entanto: todos os meses, os pais colocam uma quantia determinada na conta dos filhos, com a ajuda de um aplicativo. Ao longo do período, os responsáveis podem limitar gastos, acompanhar os produtos que a criança está comprando e até mesmo bloquear a aquisição de um doce ou salgadinho industrializado, por exemplo. “Não somos só uma fintech, mas também nos preocupamos com a saúde”, afirma Mendes. 

Entre os 23 funcionários da startup, dois são nutricionistas – eles acompanham o hábito de consumo das crianças e podem notificar os responsáveis caso a dieta não esteja adequada. Além disso, toda semana, um e-mail é enviado aos pais da criança com orientações para melhorar o hábito alimentar de seus filhos. Já as crianças podem receber dicas pelo aplicativo que também usam para pagar e fazer pedidos. Além de informações sobre alimentação saudável, há conteúdo sobre educação financeira. “Quando dá mais tempo às pessoas, o QR Code também vira um aliado”, diz Mendes. 

Desde sua fundação, a empresa recebeu R$ 15 milhões em investimentos. Para sustentar o negócio, a Nutrebem cobra mensalidade de R$ 450 da empresa que cuida da cantina da escola, além de uma fatia de 3% das transações. Já a escola não paga nada pelo serviço. Pais e alunos, por sua vez, só gastam com o que consomem.

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