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Existe um segredo para o sucesso no Instagram?

Depende do que você entende por “segredo” – e também por “sucesso”

Por John Herrman
Atualização:
Ter uma fórmula de postagem no Instagram pode garantir o sucesso da conta Foto: Dado Ruvic/Reuters

Em outubro do ano passado, Rachel Reichenbach, artista e estudante universitária da área da Baía de São Francisco, recebeu um e-mail do Instagram – mais especificamente, de um ser humano do Instagram — que estava se oferecendo para ajudá-la a expandir seu público. Ela ficou intrigada.

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Reichenbach tem mais de 78 mil seguidores na rede social – um público considerável, mas longe dos milhões que seguem as maiores estrelas da plataforma. De repente, do nada, alguém estava oferecendo conselhos individuais. Ela topou a conversa. 

“Aí ele começou toda uma lengalenga”, disse Reichenbach sobre sua chamada com o representante do Instagram. “Basicamente, ele só falou sobre os Reels e como você pode usá-los para melhorar seu alcance”.

Que o Instagram queria que as pessoas usassem os Reels, um recurso de vídeo no estilo TikTok, lançado em agosto, não foi uma surpresa. Mas Reichenbach se surpreendeu com a especificidade do conselho. Ele falou que a meta era “quatro a sete Reels por semana”, disse ela. Parecia algo mais do que uma orientação geral, então ela começou a fazer perguntas.

Quantas fotos ou vídeos ela deveria postar no seu feed principal? (Três por semana, foi a resposta). Com que frequência ela deveria postar stories? (Oito a dez vezes por semana, mas de preferência pelo menos duas vezes por dia). E vídeos mais longos no IGTV? (Um a três por semana). A consistência era crucial, enfatizou o representante.

Reichenbach, que se dedica em “tempo integral e mais um pouco” a vender sua arte, encontra a maioria de seus clientes por meio do Instagram, mas não se considera uma influenciadora. “Meu negócio é o seguinte: desenho sapinhos fofinhos que gostam de cometer crimes e coisas do tipo”, disse ela. Ela vende gravuras, broches, botões e outras mercadorias. E está no Instagram para promover seu trabalho.

Ainda assim, seus amigos e colegas ficaram curiosos com o que ela tinha ouvido. “Senti que, de repente, sabia de todos os segredos”, disse Reichenbach. A notícia de sua conversa se espalhou e logo ela se viu soterrada por mensagens em grupos de artistas no Discord e em outros lugares. Ela escreveu sobre a experiência no seu blog – principalmente, ela disse, para facilitar o compartilhamento com as pessoas que a procuravam. E ilustrou a postagem com um sapinho ansioso.

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A postagem viralizou em poucos dias e foi vista quase 200 mil vezes. Reichenbach ficou surpresa com algumas das reações. “No Instagram, a maioria das pessoas dizia, ‘muito obrigada, isso é útil’”, disse ela. “Já no Twitter, as pessoas diziam: ‘Quero tocar fogo no Instagram e no Facebook’”.

O evangelho segundo um otimizador

Assim que qualquer plataforma demonstra um mínimo potencial social ou econômico, surgem subculturas dedicadas à otimização e ao crescimento.

No YouTube, contas com milhões de assinantes se especializam em compartilhar os “segredos” do crescimento de assinantes. No TikTok, as pessoas afirmam ter algum conhecimento secreto sobre como aparecer nas páginas “Para você” geradas automática e individualmente no aplicativo. Informações de conversas semelhantes às de Reichenbach rapidamente se tornam evangelho. Às vezes é difícil separar os conselhos úteis e da mera agitação do enriquecimento rápido, mas muitos criadores de conteúdo profissionais não podem se dar ao luxo de ignorar essas coisas completamente.

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De acordo com Jackson Williams, que ajuda a supervisionar a divulgação e o desenvolvimento de talentos no Instagram, o conteúdo da postagem de Reichenbach estava, em linhas gerais, correto, assim como seu relato sobre a conversa com o representante da plataforma.

Williams disse que uma “grande equipe global apoia nossos parceiros numa variedade de verticais”, fazendo divulgações semelhantes no Instagram, mas não revelou quantas pessoas trabalhavam nessa equipe, nem quantas conversas parecidas foram realizadas durante determinado período de tempo. Reichenbach foi informada de que ela recebera o convite para conversar com um representante porque essa equipe vira alguns de seus Reels de sucesso. Os instagrammers “muito populares”, disse Williams, têm relacionamentos de “alto contato” com representantes da empresa.

“Isso não é segredo”, disse Williams. “É o mesmo tipo de coisa que falamos em nossas apresentações abertas” em eventos de influenciadores, como a VidCon. De diferentes maneiras, para públicos diferentes, as informações da postagem de Reichenbach já haviam sido compartilhadas e intuídas.

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Mas Williams questionou algumas das reações.

Ele rebateu, em particular, a ideia de que o Instagram estava punindo os usuários que não se engajavam com seu mais novo recurso. “Não há penalidade por não usar os Reels”, disse ele. “Em termos gerais, é um tipo de prática recomendada do Instagram”. Um representante depois acrescentou: “Os outros conteúdos não estão sendo rebaixados em favor dos conteúdos dos Reels”.

Assim como a maioria das plataformas sociais, o aplicativo do Instagram nunca escondeu as suas prioridades. No início, as plataformas sociais tendem a ser francas sobre o que importa, cunhando novas moedas com curtidas ou compartilhamentos, comentários ou repostagens, seguidores ou alcance. À medida que as plataformas sociais amadurecem, ficando mais lotadas e mais importantes na vida de alguns usuários, pode ser mais difícil sustentar o crescimento. A competição é maior. As preferências do usuário mudam. As próprias plataformas também mudam o quanto querem, deixando os usuários de longa data sem saber muito bem como reencontrar o rumo.

Atualmente, os Reels estão na frente e no centro. E, assim como os Stories, inspirados no Snapchat, esse novo recurso recruta os usuários para uma batalha que é mais do Instagram do que das pessoas (desta vez, contra o TikTok).

Mais feeds, mais conteúdo

Victoria Ying, outra artista admirada por Reichenbach, recentemente fez um balanço de sua presença nas redes sociais. “Entrei no Instagram em 2012, quase uma década atrás”, disse ela. “Foi meio esquisito olhar para trás e ver um feed cru, cheio de qualquer coisa que eu queria postar. Naquela época, não tinha algoritmo para enfrentar. Ou, se tinha, não era uma coisa com que eu me preocupasse”.

No início, Ying, que tinha um emprego estável como artista no Disney Animation Studios, não precisava usar o Instagram para trabalhar. Quando embarcou numa carreira “mais nebulosa” como professora e escritora de graphic novel, ela decidiu correr atrás de um número maior de seguidores. “Fiquei chocada, era muito difícil”, disse ela. “Já se passaram mais de cinco anos e não vi nenhum crescimento significativo no número de seguidores” (Ying tem mais de 70 mil seguidores).

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“Mesmo que eu tenha tentado construir meu Instagram e seguir todas as ‘regras’ de engajamento, ainda não vi nenhum crescimento significativo”, disse ela. “É um exercício frustrante. Eu tentei tudo o que estava ao alcance para alguém que tem que produzir arte em tempo integral, debaixo de acordos de não divulgação”. É preocupante ter tão pouco controle sobre algo que se tornou tão importante em termos profissionais, disse ela. “Meu Instagram é citado por quase todos os meus clientes”.

Quando leu a postagem de Reichenbach, ela viu a mesma coisa que muitos outros viram: segredos revelados, demandas feitas, uma empresa dizendo a uma colega artista que o Instagram a recompensaria se ela tratasse as postagens na plataforma como um trabalho em tempo integral – e que ela poderia ficar para trás caso não se adaptasse.

“Depois de ler a postagem, tudo começou a fazer sentido”, disse ela. “A plataforma quer criadores totalmente dedicados ao trabalho de serem artistas do Instagram”, disse ela. “Tenho certeza de que é uma maneira nova e viável de criar uma carreira nas artes, mas não é meu objetivo pessoal”. A postagem, disse ela, deu uma sensação de alívio. “Eu estava dando o meu máximo para a plataforma e agora sei que nunca será o suficiente, então ficou mais fácil desencanar”, disse ela. /Tradução de Renato Prelorentzou

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