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Fim dos Fleets: usuários do Twitter fazem festa de despedida com ‘nudes’

Distribuindo ‘safadezas’, tuiteiros redescobriram o recurso de fotos autodeletáveis às vésperas do encerramento da ferramenta na terça-feira

Foto do author Guilherme Guerra
Por Guilherme Guerra
Atualização:
Twitter é alvo de pressão para disponibilizar ferramenta de denúncia contra publicações antivacina. Foto: Kacper Pempel/Reuters

Quem chegou desavisado ao Twitter no último domingo, 1.º, pode ter se assustado com tantas pessoas seminuas ou mesmo nuas nos “Fleets”, recurso de publicação de fotos que se autodeletam em até 24 horas, similar aos Stories do Instagram. A farra tinha motivo: era uma despedida à ferramenta, que será encerrada pela rede social do passarinho nesta terça-feira, 3, devido à “baixa adesão”, segundo o Twitter. 

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Como se fosse um Carnaval fora de época (e totalmente virtual, típico deste momento de pandemia), usuários aproveitaram a madrugada de sábado e todo o domingo para tentar dar uma chance ao recurso, que até então era visto como o “primo pobre” do Instagram por ser menos integrado com outras ferramentas. 

Em diversas publicações, que só podem ser visualizadas no topo da tela em dispositivos móveis (não há versão para quem navega na web), usuários postaram uma foto mais “ousada” com o seguinte texto: “Adeus, Fleets”. Muitas pessoas também aproveitaram o furor para compartilhar suas respectivas contas do Instagram ou usar a visibilidade extra para divulgar trabalhos. A maior parte, inclusive, declarou que era a primeira vez que utilizava a ferramenta.

A questão que fica, porém, é o que será dos Fleets, agora que todo mundo, de forma orgânica, descobriu a ferramenta.

Para o professor Edney Souza, diretor acadêmico da Digital House Brasil, a farra dos Fleets no último final de semana foi um clássico caso de amor de só uma noite.

“O Twitter replicou um formato de outras redes sociais, mas não fez um esforço de educar o usuário para usar os Fleets”, explica o professor, citando que o Instagram, por exemplo, ao lançar um recurso novo, turbina o algoritmo para incentivar a adesão. “Faltou estratégia da parte da empresa. Se houve, foi mal executada. E, sem adoção, faz sentido descontinuar.”

Segundo o professor, os Fleets poderiam estar melhor integrados ao grande trunfo do Twitter sobre outras redes sociais: o conteúdo em tempo real. “Faz mais sentido colocar os Fleets nos assuntos mais comentados (trending topics), com sugestões não só de pessoas que eu sigo, mas de desconhecidos. Isso poderia ter ressignificado o recurso."

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Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais, concorda e chama o fenômeno de “chuva de verão”. “O Twitter se esforça, mas não consegue fazer com que seus usuários adotem outras ferramentas que oferece. De Vine a Periscope, é difícil vermos as mudanças emplacarem”, afirma. 

Aqui jaz...

Com vida curta (foram lançados mundialmente apenas em novembro de 2020), os Fleets tinham o intuito de incentivar os usuários a aumentar o engajamento na plataforma – nos últimos anos, o Twitter tornou-se conhecido por propagar publicações “tóxicas”, devido a comentários ofensivos de desconhecidos, afastando tuiteiros com medo da exposição sem filtros e de escrutínio público.

O Brasil, porém, recebeu a novidade muito antes do resto do mundo: usuários do País foram escolhidos para testar os Fleets em março de 2020. A razão é simples: com dimensões continentais, o País é conhecido por ser altamente engajado nas redes sociais, o cenário perfeito para que as empresas testem soluções por aqui. Curiosamente, na comunidade brasileira do Twitter, já aconteciam eventos um tanto quanto ousados, como o Lingerie Day (em que usuárias postam fotos de peças íntimas) e o Pinto Awards (“competição” de pênis). 

A iniciativa de incentivar mais posts parece ter saído pela culatra. Em anúncio no dia 14 de julho, a empresa declarou que “não tivemos um aumento no número de novas pessoas participando de conversas com Fleets da forma que esperávamos”. Em outras palavras, “flopou”. 

Agora, após a farra do último final de semana, não se sabe se o Twitter vai mudar de ideia e manter os Fleets.

É ano de festa também para o Twitter

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2021 tem sido um ano de crise de idade para o Twitter, que completou 15 anos em fevereiro passado. Além dos Fleets, a plataforma lançou os Espaços, recurso “inspirado” no Clubhouse, com salas de conversação por áudio. Até agora, no entanto, a novidade parece não ter pegado por falta de planejamento.

“Os Espaços estão no mesmo caminho dos Fleets. Falta entender o que o Twitter quer que as pessoas façam com os Espaços. Dentro dessa lógica de tempo real da plataforma, poderia haver salas sobre assuntos quentes do momento nos Trending Topics, fazendo criadores ganharem visibilidade”, critica Souza.

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Além disso, o Twitter anunciou recursos exclusivos para assinantes pagos, em aceno para fisgar os produtores de conteúdo. O Instagram estuda fazer algo parecido.

Em testes, a empresa do passarinho pensa em lançar linhas do tempo exclusivas para amigos, trabalho e público geral, separando as diferentes “personas” dos usuários. Segundo o Twitter, o foco dos testes é sempre incentivar as pessoas a “se juntarem à conversação”.

“O Twitter anda atirando para tudo o que é lado. Alguém precisa chegar e falar igual se fala para um adolescente: ‘você não é todo mundo, então o que você tem de especial? Como você se torna mais especial naquilo que já é especial?’”, acrescenta o professor.

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