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IGTV: uma TV em busca de um formato para chamar de seu

Para quem cresceu em frente à TV, pode ser difícil se acostumar com a “nova ordem vertical”. Mas ela tem suas vantagens. A principal delas é ser realmente mais confortável para quem assiste ao vídeo no celular, em movimento

Por Bruno Capelas
Atualização:
IGTV é boa ideia, mas ainda precisa de execução melhor – na imagem, Kevin Systrom (à direita), o presidente executivo do Instagram, durante o lançamento da plataforma Foto: Reuters

Assistir à programação da IGTV pela primeira vez, seja no aplicativo próprio ou na aba dedicada à plataforma dentro da Instagram, pode ser uma experiência anacrônica. Tudo começa com um ruído e uma imagem chuviscada, tão marcantes que podem até fazer um incauto querer colocar Bombril na ponta do celular para ver se o aparelho “acha” logo o sinal. Logo depois, porém, o que surge na tela do celular são vídeos exclusivamente no formato vertical – um tipo de conteúdo simbólico para uma geração que talvez nem tenha idade para se lembrar dos tempos de antena com palha de aço na ponta. 

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Para quem cresceu em frente à TV, pode ser difícil se acostumar com a “nova ordem vertical”. Mas ela tem suas vantagens. A principal delas é ser realmente mais confortável para quem assiste ao vídeo no celular, em movimento – quando eu estava no metrô ou no trem, a IGTV foi uma boa companhia para espantar o tédio. Mais curioso foi perceber que nem mesmo o ritmo constante de notificações atrapalhava o fluxo das imagens. Alguém chamou no WhatsApp? Um meme novo no Twitter? Era só pausar, responder e voltar à programação. 

Quando tentei reproduzir a experiência em casa, deitado na cama ou estirado no sofá, a IGTV já não funcionou tão bem. Muitos dos vídeos pareciam lentos ou pouco produzidos para reter minha atenção por um período mais longo – não foram poucas as vezes em que toquei no canto direito do celular, tentando mudar de vídeo, como se estivesse usando o recurso Stories.

Não é a única semelhança com a outra popular função recente da rede social de fotos: muitos dos vídeos produzidos até aqui para a IGTV parecem apenas Stories mais longos. Outros são apenas versões “cortadas” na vertical de vídeos feitos originalmente na horizontal – o Porta dos Fundos, por exemplo, fez isso com uma esquete. O resultado foi esquisito: havia closes demais e cenários de menos.

Líder do YouTube no Brasil, o diretor de clipes KondZilla fez o mesmo – o que fez o vídeo de Cheia de Marra, de MC Livinho, perder parte de sua malícia. Houve casos piores: ao navegar pelos vídeos mais populares na plataforma, sugeridos pelo algoritmo do Instagram, encontrei um vídeo na horizontal. Para vê-lo direito, foi preciso girar o aparelho – justamente aquilo que Mike Krieger, o brasileiro que criou o Instagram, achou que não fazia sentido, segundo afirmou na semana passada.

A bem da verdade, é uma plataforma ainda em busca de um formato pra chamar de seu. Até aqui, os melhores vídeos lembram, ao mesmo tempo, o início do YouTube: alguém na frente da câmera falando coisas de forma despretensiosa. Foi o que fez o youtuber Cauê Moura, por exemplo: todos os dias, acompanhei seu balanço sobre o que aconteceu na Copa do Mundo, mesmo que ele não seja um especialista no assunto.

Há outros pontos em que a IGTV precisa melhorar: alguns de seus comandos, como avançar ou retroceder nos vídeos, ou mesmo explorar menus, ainda não são intuitivos. A curadoria oferece poucas opções e, por várias vezes, comecei a ver os mesmos vídeos que já tinha assistido. É até natural, e o próprio Instagram reconhece: o aplicativo ainda vai passar por diversas atualizações até se tornar um uma experiência definitiva. O problema é se o “piloto” da série não for suficiente para conquistar o público – e às vezes, é a primeira impressão que fica.É REPÓRTER DE TECNOLOGIA DO ESTADÃO

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