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Instagram alcança 700 milhões de usuários e mira realidade aumentada

Em entrevista ao 'Estado', o brasileiro Mike Krieger, que cofundou o aplicativo de compartilhamento de fotos, fala sobre a evolução do serviço, a polêmica sobre a 'cópia' do Stories e como ele quer ajudar outros empreendedores brasileiros a alcançar o sucesso

Por Claudia Tozzeto
Atualização:
Para Krieger, câmera permite que as pessoas criem seus momentos, em vez de apenas registrá-los Foto: Tiago Queiróz/Estadão

Nos últimos sete anos, o brasileiro Mike Krieger passou por uma reviravolta. Desde quando fundou o Instagram em 2010, ao lado do norte-americano Kevin Systron, ele passou anos trabalhando quase sem parar programando o aplicativo, mantendo os servidores rodando e pensando em como conseguir dinheiro para manter tudo no ar. Depois que o aplicativo foi comprado pelo Facebook por US$ 1 bilhão, em 2012, a situação ficou mais "sustentável". "Quando olho para trás penso que nós não sabíamos o que estávamos fazendo", disse o engenheiro, de 31 anos, em entrevista ao Estado durante uma breve viagem a São Paulo. "Meu papel no Instagram mudou muito desde então."

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Não foi só o papel de Krieger, hoje chefe de tecnologia do Instagram, que mudou nos últimos sete anos. A empresa se tornou uma gigante que acaba de ultrapassar a marca de 700 milhões de usuários ativos por mês. E vive seu melhor momento: nunca o aplicativo ganhou tantos usuários em tão pouco tempo. Foram 100 milhões de novos usuários a mais em pouco mais de quatro meses, graças a melhorias no processo de cadastro e, claro, a adição de novos recursos, como o compartilhamento de fotos e vídeos efêmeros, chamado de Stories. Hoje, mais de 45 milhões de brasileiros usam o Instagram todo mês e a base de usuários no País cresce em 1 milhão, em média, ao mês. "Tenho muito orgulho de ver o Instagram crescendo no Brasil", diz o executivo. Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Estado: Como o Instagram evoluiu nesses sete anos? Mike Krieger: Eu costumo olhar as primeiras fotos que eu publiquei no Instagram e o aplicativo mudou muito, mas sua razão de existir não mudou. As pessoas usam o serviço para compartilhar coisas do dia a dia, para se conectar com amigos que estão longe. Esse é o tipo de interação principal. O que mudou foi o formato: era uma foto quadradinha de baixa resolução e agora tem foto, vídeo, Stories, Direct, Live. Toda essa revolução, mas tudo ao redor da ideia principal.

O seu papel mudou dentro do Instagram? Eu olho para trás e a gente não sabia o que estava fazendo (risos). Fizemos tudo por instinto. Os primeiros anos foram uma loucura total. Hoje em dia, está mais sustentável e o meu papel mudou muito. Antes, eu programava, mantinha o servidor funcionando, trabalhava na linha de frente mesmo. Agora, penso na equipe de 250 engenheiros. Há quatro anos, eram só seis engenheiros. A empresa está crescendo e precisamos manter o mesmo nível de qualidade, o foco no usuário, mesmo com a empresa maior e agora distribuída internacionalmente. Outro desafio é entender quem são os usuários do Instagram. A gente precisa falar com as pessoas para entender com elas estão usando o aplicativo. E eu não vou saber isso se eu ficar sentado no escritório lá na Califórnia.

O Instagram nasceu de uma ideia simples, mas ganhou muitos recursos nos últimos anos. Isso não confunde os usuários? A gente quer dar mais opções para os usuários, com formatos novos, mas não quer confundir. A gente sempre se pergunta se uma nova função vai gerar um tipo de uso novo. Sabemos, por exemplo, que o Stories [recurso que permite compartilhar fotos e vídeos efêmeros] é usado para bastidores, para mostrar os momentos entre os grandes momentos. O feed principal, que a gente já tinha há muito tempo, virou um lugar para aquele momento especial. Além disso, a gente cria "pontes" entre os diversos recursos do serviço, deixando claro que é tudo parte de um mesmo ecossistema. Não é só um monte de recursos "colados" dentro de um aplicativo.

Sobre o Stories, o Facebook -- e, por consequência, o Instagram e o WhatsApp -- tem sido criticados por incorporar a função, que foi criada pelo Snapchat. Isso não prejudica a inovação? Quando eu penso nas tecnologias que surgiram no Vale do Silício, sempre existiu essa coisa de pegar um pedaço de um produto, fazer um remix, usando a sua própria ideia, sua própria rede. É o que acontece. No caso da primeira versão do Instagram, nós não fomos os primeiros a permitir o compartilhamento de fotos, a ter seguidores, nem fomos os primeiros a criar filtros. O que gerou a inovação foi a combinação desses aspectos diferentes. Então, eu vejo a inovação como uma combinação dessas coisas interessantes. 

Porque o Instagram decidiu incorporar o Stories? No Instagram, as pessoas pediam pelo Stories, sem saber muito bem o que estavam pedindo. A gente via pessoas criando duas contas, uma para compartilhar bastidores, outra para fotos. Então, eles tinham de ficar alternando entre as contas. Mas dava muito trabalho fazer isso, a pessoa tinha que manter duas identidades. A gente não começou olhando para o Stories e em como colocar o recurso no nosso produto, mas percebemos o problema. As pessoas queriam compartilhar de forma mais informal e, então, nós buscamos a melhor solução. Construímos e jogamos fora muitos protótipos.

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Durante a abertura da conferência para desenvolvedores do Facebook, Mark Zuckerberg falou sobre como a câmera do celular se tornará a plataforma para realidade aumentada. Essa estratégia faz sentido para o Instagram? A câmera é usada para muitas coisas, mas dois tipos de uso têm se destacado nos últimos anos: um é capturar o momento e outra tendência, um pouco mais nova, é criar o momento. De certa forma, os filtros que a gente oferecia na primeira versão do Instagram já faziam isso. As pessoas pensavam que uma foto não era tão interessante, mas quando elas aplicavam o filtro, criavam uma cena diferente. Mas era 2010. Agora, a realidade aumentada tornou mais evidente essa possibilidade de criar um momento. De repente, essa selfie que eu tirei não é tão interessante, mas com uma máscara virou um momento que eu quero compartilhar. O que temos feito é integrar mais tecnologia do Facebook ao Instagram para explorar mais essas ideias, como realidade aumentada e realidade virtual.

O Stories ajudou a evidenciar o potencial da realidade aumentada? O legal do Stories é que finalmente a gente tem uma câmera dentro do Instagram que as pessoas usam, porque a outra câmera que a gente tinha para postar no feed, ninguém mais usava. Agora, como o Stories, muitas pessoas estão tirando fotos com a câmera do Instagram, porque já está no formato correto, a câmera abre rápido, você pode fazer um Boomerang [recurso que permite tirar fotos na sequência, criando um vídeo em loop], que é um formato que não existe na câmera tradicional. A gente quer ter uma câmera cada vez mais potente e com mais recursos, para que as pessoas possam criar seus próprios momentos.

Como o sr. vê o atual momento das startups no Brasil? Sempre tem algum empreendedor brasileiro passando pelo Vale do Silício, e eu costumo encontrá-los para compartilhar experiências. Eu vejo que há muito interesse de investidores em startups brasileiras. Falta infraestrutura no País, como rapidez para abrir uma empresa e leis trabalhistas que funcionem para as startups. O que não falta é talento: existem ótimos designers e programadores. Não faltam boas ideias também. As peças (do ecossistema de startups) estão começando a se encaixar.

Ajudar startups brasileiras está nos seus planos? Sempre tive interesse em ajudar, mas fiquei com a cabeça o tempo todo no Instagram, durante muito tempo. Estou me envolvendo agora por meio do fundo Canary, criado pelo Julio Vasconcellos (fundador do Peixe Urbano). Sou um dos parceiros. A ideia é que, nas startups que a gente investir, possamos ter um canal aberto para dar conselhos. Eu não faço muitos investimentos, mas, quando faço, escolho empresas nas quais eu possa ajudar, por meio de experiências que eu já tive naquele ramo, por exemplo.

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