Inteligência artificial pode ganhar espaço na transmissão de jogos de futebol

Tecnologia pode ser usada para levar partidas para TV e internet, mas dinamismo do jogo é desafio

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Por Bruna Arimathea
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A empresa israelense Pixellot usa inteligência artificial para substituir o cinegrafista na gravação de partidas de futebol Foto: Reprodução/Pixellot

Não é só na prevenção de lesões e na contratações que a inteligência artificial (IA) pode marcar gols no futebol. Dentro de campo, um segmento que tem ganhado atenção da tecnologia é a transmissão de partidas, que busca por métodos de automação levar para as telas eventos que emissoras não podem estar ‘in loco’ para produzir.

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A Pixellot, empresa israelense de IA, é uma das grandes apostas do mercado para levar um sistema automatizado para estádios e quadras, com transmissão feita por câmeras que atuam sem a operação humana. A partir de algoritmos, o sistema é capaz de identificar a bola, os jogadores e a área do campo em que o lance acontece. Assim, ela produz cortes, zooms e acompanha o movimento do jogo sem a ajuda de um cinegrafista, por exemplo. 

Segundo Márcia Cintra, diretora da Pixellot no Brasil, o recurso já esteve em testes com a TV Globo em 2019 – a tecnologia foi usada no Maracanã. As negociações foram paralisadas, porém, por conta da pandemia — as câmeras seriam utilizadas em jogos de futsal já em 2020. Em contato com a reportagem, a emissora confirmou o teste com o equipamento.

“Não pretendemos substituir a produção de um clássico ou de um jogo de seleção brasileira, substituir pessoas. Porém, outros jogos – uma série C, por exemplo –, onde não há a estrutura de transmissão, interessam”, diz Márcia ao Estadão

Com o aumento dos serviços de streaming que oferecem transmissões de partidas de futebol, cresce também o interesse em ter um equipamento guiado por IA – principalmente em campeonatos menores. 

Além disso, a implementação da tecnologia pode ocorrer pelos próprios clubes de futebol. Segundo Márcia, o interesse não só na comercialização do sinal, mas na própria análise da comissão técnica, é uma justificativa plausível para adotar a tecnologia. 

“Com essa tecnologia o técnico não precisa nem sair de casa, ele assiste o jogo e faz a análise de performance dos garotos pela transmissão. O Barcelona, por exemplo, tem academias espalhadas pelo mundo e todas elas com tecnologia de IA. Todo mundo consegue assistir o que se passa nessas quadras, desde treino até campeonatos oficiais. Mas no Brasil tudo ainda está muito embrionário”.

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Para Paulo Sérgio Silva Rodrigues, professor de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI, ainda há barreiras a serem dribladas para que a IA se torne um titular no futebol. Isso porque a tecnologia ainda não está totalmente adaptada à dinâmica do jogo. Na Escócia, por exemplo, uma transmissão foi prejudicada depois de uma câmera detectar um bandeirinha – ou melhor a sua careca – e confundir a imagem com a bola do jogo. Resultado: os telespectadores acompanharam a movimentação do auxiliar e não dos jogadores. 

“Sabemos que essa tecnologia é limitada ainda, sobretudo em cenas muito dinâmicas e com muitos detalhes. Assim, é fácil esses algoritmos errarem. Mas eles estão evoluindo rapidamente. Quanto mais a tecnologia avança, mais detalhes específicos dos objetos da cena (jogadores, bola, até a plateia em geral) são analisados e informações mais precisas e completas serão geradas”.

Ainda assim, Rodrigues acredita que o futuro reserva boas cotas para a presença da IA nas transmissões de futebol. 

“Acredito que será bem rápida a chegada desse tipo de tecnologia para o público em geral. Essas ideias e soluções estão disponíveis para qualquer um. Então muitas startups podem logo competir entre si e até mesmo com as grandes empresas, o que pode fazer o preço cair”, diz Rodrigues. 

*é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani 

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