Japão bate EUA e China e tem supercomputador mais rápido do mundo

Nos últimos anos, americanos e chineses têm duelado pelo posto, que pode levar a grandes avanços científicos; ‘azarão’, japonês Fugaku apareceu em topo de ranking divulgado nesta segunda-feira, 22

PUBLICIDADE

Por Don Clark
Atualização:
O Fugaku, no Japão, já está sendo usado em pesquisas contra o novo coronavírus Foto: STR/Jiji Press/AFP

A China e os Estados Unidos estão envolvidos há anos em uma disputa para desenvolver os computadores mais poderosos do mundo. Mas ao menos por agora, é uma máquina japonesa que merece o troféu de supercomputador mais rápido do mundo. Instalado na cidade de Kobe pelo instituto Riken e patrocinado pelo governo japonês, o supercomputador Fugaku ficou em primeiro lugar em uma classificação semestral de velocidade computacional divulgada na segunda feira. 

PUBLICIDADE

A máquina japonesa realizou 2,8 vezes mais cálculos do que um sistema da IBM no Laboratório Nacional de Oak Ridge, no Tennessee – o antigo líder da lista Top500, que o Fugaku desbancou para o segundo lugar. Outro sistema da IBM, no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, caiu do segundo para o terceiro lugar na classificação, enquanto sistemas chineses caíram da terceira e quarta posições para a quarta e a quinta, respectivamente.

Os supercomputadores se tornaram símbolo de competitividade técnica e econômica. Os sistemas, tão grandes que ocupam uma sala inteira, são usadas em complexas tarefas militares e científicas, que incluem decifrar códigos, rodar simulações da mudança climática e de novos projetos de carros, armas, aeronaves e medicamentos. O Riken disse que o Fugaku já é usado no estudo, diagnóstico e tratamento da covid-19.

O Japão continua sendo um participante relativamente menor no ramo dos supercomputadores. A China tinha 226 sistemas na mais recente lista Top500; o total de sistemas dos EUA foi de 114, mas estes respondem por uma potência computacional agregada maior.

Mas o Japão tem um longo histórico de projetos de computação avançados. Um exemplo conhecido é o Supercomputador K, seu antecessor no Riken, que ficou com o primeiro lugar da Top500 em 2011 antes de ser superado no ano seguinte por um sistema do Laboratório Livermore. “O antecessor era simplesmente incrível", disse o analista Steve Conway, veterano do mercado de supercomputadores e conselheiro sênior da Hyperion Research. “O público espera que esse novo sistema também seja do mais alto nível.”

Horst Simon, que estudou o Fugaku enquanto vice-diretor de pesquisas do Laboratório Nacional Lawrence, em Berkeley, na Califórnia, descreveu-o como produto “muito notável, muito admirável”. Mas a conquista de supercomputador mais rápido do mundo pode durar pouco diante dos prováveis avanços nos próximos sistemas do Departamento de Energia, em Oak Ridge e Livermore, e nos projetos chineses, disse ele.

O Fugaku, nome dado ao Monte Fuji, exigiu gastos consideráveis. O orçamento de seis anos para o sistema e o desenvolvimento das tecnologias relacionadas chegou a cerca de US$ 1 bilhão, sendo que os maiores sistemas americanos planejados chegam a US$ 600 milhões.

Publicidade

A máquina pode causar impacto também por causa de seus chips de computador. A Fujitsu, parceira do Riken no desenvolvimento do Fugaku, optou por projetar processadores usando a mesma tecnologia no coração de bilhões de smartphones. Foram licenciados projetos da ARM, empresa há muito sediada na Grã-Bretanha e atualmente pertencente ao conglomerado japonês SoftBank.

Em comparação, a maioria dos supercomputadores usa microprocessadores que evoluíram a partir a partir dos chips que a Intel e a AMD ofereciam para PCs. As máquinas mais poderosas foram aceleradas com chips mais especializados, como os processadores gráficos da Nvidia usados para jogos eletrônicos e, mais recentemente, para a inteligência artificial.

Faz anos que os licenciados da ARM tentam criar seu espaço nas centrais de dados, sem muito sucesso. Mas o serviço de nuvem operado pela Amazon começou a promover agressivamente ofertas com base na arquitetura ARM.

PUBLICIDADE

Christopher Bergey, vice-presidente sênior do ramo de infraestrutura da ARM, prevê mais lucros no segmento da computação de alto desempenho. Para começar, a fabricante de supercomputadores Cray, adquirida recentemente pela Hewlett Packard Enterprise, planeja vender sistemas adaptados a partir dos chips ARM da Fujitsu. O Fugaku “é o resultado de quase 10 anos de investimento e trabalho", disse Bergey. “É um momento muito animador.”

A lista Top500, preparada por pesquisadores nos EUA e na Alemanha, é lançada para coincidir com um evento de supercomputação realizado habitualmente em Frankfurt, Alemanha, adaptado este ano para o formato virtual por causa da pandemia do coronavírus. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.