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John McAfee, criador do antivírus, é encontrado morto em prisão

Investigado por homicídio e ex-candidato à presidência dos EUA, empresário teve uma vida de altos e baixos

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Por Bruna Arimathea , Guilherme Guerra e Maria Isabel Miqueletto
Atualização:
John McAfee, pioneiro dos softwares antivírus Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Um dos mais controversos personagens do mundo da tecnologia está morto. O pioneiro dos programas de antivírus John McAfee foi encontrado sem vida nesta quarta-feira, 23, em uma prisão em Barcelona, na Espanha - a informação foi confirmada pelo Departamento de Justiça catalão. Criador do software que leva seu sobrenome, o empresário, de 75 anos de idade, estava na penitenciária Brians 2, em Sant Esteve de Sesrovires.

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As autoridades espanholas acreditam que o empresário se matou após a decisão judicial da última segunda-feira, 21, que autorizava a extradição de McAfee para os Estados Unidos, onde iria cumprir pena pelo crime de evasão fiscal. 

“A comitiva judicial viajou até a prisão e está investigando as causas da morte. Tudo indica que pode ser uma morte por suicídio”, afirmou o comunicado. Segundo as autoridades, McAfee foi encontrado enforcado. Uma autópsia está em andamento para confirmar a causa do óbito.

Prisão

Procurado pela Interpol com código vermelho (o mais alto da polícia internacional), McAfee foi preso em outubro de 2020 quando estava prestes a embarcar em um voo para Istambul com um passaporte britânico. As forças policiais haviam encontrado o empresário depois que ele publicou uma foto nas redes sociais que teria denunciado sua localização.

Autoridades dos EUA afirmam que McAfee sonegou impostos e não informou ganhos de milhões de dólares por meio da promoção de criptomoedas e trabalho de consultoria e venda de direitos sobre a história de sua vida para um documentário. O órgão de regulação do mercado de capitais dos Estados Unidos, a SEC, o acusa de ter levantado US$ 23,1 milhões em compensações por ter feito recomendações enganosas sobre criptomoedas, com metade sendo bitcoin e outra, de ether.

Na época de sua prisão, uma fonte da área judicial disse que McAfee foi apresentado a um juiz por meio de videoconferência e enviado à prisão onde iria aguardar a extradição para os EUA. A decisão aconteceu na última segunda-feira, 21 e foi divulgada nesta nesta quarta-feira, quando um juiz espanhol decidiu pela extradição do empresário para os Estados Unidos. 

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Além de fundador da empresa de cibersegurança que leva seu sobrenome, John McAfee foi investigado por envolvimento com assassinato e se candidatou à presidência dos Estados Unidos Foto: Darrin Zammit Lupi/Reuters - 1/11/2018

A decisão da justiça espanhola ainda poderia ter tido apelação pela defesa de McAfee, mas, poucas horas depois de emitida a ordem, o empresário foi encontrado por policiais, já morto, na prisão.

Em entrevista ao jornal espanhol El Diario, McAfee descreveu como era sua rotina na penitenciária em Barcelona: “A vida nas prisões espanholas é como o (hotel) Hilton, comparada ao surrealismo abjeto e à desumanização das prisões americanas. Aqui eles me tratam como um ser humano em vez de um número.”

Antivírus McAfee

Foi há mais de três décadas que a carreira do excêntrico empresário tomou outro rumo. Ele se envolveu em um projeto de reconhecimento de voz na empresa de defesa Lockheed Martin. No novo emprego, teve contato com um código de informática que desconhecia: um vírus. Ficou tão curioso com a novidade, que resolveu criar uma forma de limpar os computadores depois de infectados, algo inédito até aquele momento.

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Assim nasceu a McAfee Associates, que passou a desenvolverprogramas que detectam e eliminam vírus do computador dos usuários. O modelo de negócio da companhia consistia em primeiro dar o antivírus e, em seguida, cobrar pelo serviço técnico ou para instalá-lo nas empresas.

Na década de 1990, a invenção já era usada por várias empresas – e fortuna do empresário estava avaliada em US$ 100 milhões de dólares. Em 1993, o empresário decidiu fazer uma oferta pública de ações na Bolsa de Valores americana. Em 1994, pediu demissão da empresa e, 1997, a McAfee foi comprada pela Network Associates, após união com a Network General. , o empresário decidiu fazer uma oferta pública na Bolsa de Valores e, em 1997, tornou-se a Network Associates (NAI), após união com a Network General.

Em 2010, a empresa foi vendida para a Intel por US$ 7,7 bilhões, até então a maior aquisição da companhia de chips. A partir daí, McAfee perdeu qualquer envolvimento com a companhia que criou. Em 2014, a fabricante mudou o nome da empresa de cibersegurança para Intel Security, em uma tentativa de se afastar do histórico polêmico do fundador.

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Hoje, o fundo de private equity TPG é quem administra a empresa de cibersegurança. 

Altos e baixos

O patrimônio do executivo vinha caindo desde então, saindo de um pico de US$ 100 milhões. De acordo com o jornal americano The News York Times, a fortuna dele era de US$ 4 milhões em 2009.

Nos dez anos seguintes, John McAfee esquivou-se das acusações de que teria matado o vizinho, tentou se candidatar à presidência dos Estados Unidos e, por fim, dedicou-se às criptomoedas até ser preso na Espanha.

Em 2012, o empresário foi considerado desaparecido pelo governo de Belize, onde morava até então e onde era procurado pelas autoridades para ser interrogado sobre a morte do vizinho, Gregory Faull. Algumas semanas mais tarde, entrou ilegalmente no país vizinho Guatemala, onde foi expulso do país pelas autoridades de imigração, rumo aos Estados Unidos.

A localização dele foi revelada por acidente - e de maneira bastante parecida com a da sua última prisão, em outubro passado. McAfee foi descoberto após uma reportagem do site americano Vice, que tinha um repórter e um fotógrafo fisicamente acompanhando McAfee na fuga de Belize. O texto trazia uma foto tirada pelo fotógrafo Robert King, e o arquivo continha metadados sobre onde a imagem havia sido feita. Um usuário no Twitter detectou as informações, e logo as autoridades perceberam que McAfee estava na Guatemala.      

Toda a trajetória errática pela América Central do ex-executivo foi mostrada no documentário Gringo: a perigosa vida de John McAfee, lançado em 2016. Nele, McAfee aparece como um homem explosivo e paranóico rodeado por armas e uma milícia pessoal, além de ser suspeito de assassinato, estupro e prostituição infantil.

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Ainda em 2016, McAfee surgiu na cena política americana ao tentar se candidatar à presidência dos EUA como libertário, mas o executivo foi preterido pelo partido, que indicou o colega Gary Johnson. Nesse mesmo ano, o ex-presidente Donald Trump seria eleito no país.

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