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No Brasil, ética na computação ainda tenta passar da teoria à prática

Com poucas diretrizes sobre como tratar tema na área de computação, professores seguem múltiplas abordagens

Por Bruno Capelas
Atualização:
Carro sem motorista tem dilemas éticos Foto: Caitlin O Hara/The New York Times

No Brasil, a discussão sobre ética nas Ciências da Computação ainda está um pouco atrás dos Estados Unidos. O tema foi incluído na diretriz curricular do Ministério da Educação para os cursos dessa área em 2016, mas não há uma orientação específica sobre como o assunto deve ser tratado, levando a múltiplas abordagens pelo País.

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“Hoje, não basta que o profissional seja responsável, mas ele também precisa se preocupar com os efeitos de seu trabalho”, diz Wagner Meira Júnior, chefe do departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na maior parte dos cursos, o tema é parte de disciplinas obrigatórias – em universidades públicas, há oferta de aulas optativas para quem quiser se aprofundar mais. É comum também que o tema seja tratado em conjunto com legislação. 

É o caso da Universidade da Região de Joinville (Univille), de Santa Catarina, que tem uma cadeira obrigatória com o tema dada no final do curso. “Assim, é possível fazer a contraposição entre práticas legais, mas que não são éticas, e vice-versa”, diz a professora Vanessa Collere. “Como os alunos já têm vivência acadêmica e profissional, eles entendem bem o potencial da tecnologia, mas precisam aprimorar os limites do que podem fazer.”

Para a docente, a discussão apoiada no que acontece no mercado de trabalho também serve para despertar a atenção dos alunos – aulas baseadas em textos filosóficos não costumam engajar os estudantes.

O mesmo acontece na UFMG, onde ética é ensinada por professores de Computação. “É difícil encontrar quem domine as duas áreas e, discutido na teoria, o tema pode ficar árido para alguns alunos”, diz Meira Júnior. “Normalmente, o ensino de ética fica com os decanos da faculdade, capazes de sensibilizar e mobilizar os estudantes.” Já a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) atualmente discute a criação de uma disciplina específica sobre ética na computação, como ocorre nos EUA.

Há ainda quem acredite que a ética deveria se tornar um critério de avaliação: um algoritmo criado por um aluno não só tem de funcionar, mas também deve ser transparente. “É uma forma de reconhecer o diálogo entre usuário e desenvolvedor”, defende Pablo Cerdeira, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS). 

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