PUBLICIDADE

No YouTube, ‘Computação Sem Caô’ descomplica algoritmo e programação

Apresentado pela estudante Ana Carolina da Hora, canal relaciona situações cotidianas a termos da tecnologia

Por Julliana Martins
Atualização:
Ana Carolina da Hora apresenta oComputação Sem Caô, no YouTube Foto: Ana Carolina da Hora/Acervo

A presença das novas tecnologias no cotidiano está cada vez mais nítida, mas, às vezes parece difícil entender o que de fato elas fazem – afinal, como funciona um algoritmo de localização como o do Waze? O que é o sistema binário, usado pelos computadores? E o que faz um profissional da área de computação? São essas algumas das perguntas que a estudante de Ciência da Computação Ana Carolina da Hora busca responder em seu canal no YouTube, o Computação Sem Caô. Nos vídeos, a estudante explica algoritmos e relaciona conceitos tecnológicos a situações cotidianas usando ferramentas bem analógicas: papel e caneta.

PUBLICIDADE

“O objetivo é mostrar como algoritmos influenciam no nosso dia a dia. Queria que as pessoas vissem a importância do pensamento lógico e percebessem que o computador é só uma ferramenta”, diz Ana Carolina, de 24 anos, ao Estado. “É por isso que eu uso papel e caneta: para mostrar que não precisa ter dinheiro ou equipamento para entender sobre o assunto”, afirma a estudante, que também faz vídeos sobre questões sociais – um bom exemplo é o que ela conta como é ser uma mulher negra em uma área predominantemente masculina. 

O Computação Sem Caô é realizado pelo Olabi, um laboratório de inovação e tecnologia que fica no Rio de Janeiro, e foi contemplado em 2018 pelo edital de divulgação científica Serrapilheira Camp, do Serrapilheira, instituto de incentivo às ciências liderado por João Moreira Salles. É um trabalho de difusão científica – e para explicar conceitos, Ana Carolina envolve até a família: já trouxe a avó como ajudante para explicar a tecnologia de transmissão de áudio e vídeo pelo Skype. Com uma linguagem jovem, ela diz não querer ser especialista, mas se colocar no papel de alguém que aprende enquanto ensina. 

Algoritmo vira receita de cozinha

Não é algo fácil. “Minha preocupação é com quem está à margem da sociedade, porque eu sou dessa margem. Quero que todos tenham um mínimo de conhecimento para viver em um mundo de inteligência artificial e automação”, explica a carioca, moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. 

Filha e neta de professoras da área de humanas, a paixão de Ana Carolina pela matemática e surpreendeu a família. Segundo a jovem, a decisão veio ainda na adolescência: ela trocou a tradicional festa de 15 anos por um ingresso para um evento de computação. Aos 16, ganhou seu primeiro kit de Arduino, um computador simples e customizável, usado na área de tecnologia para testes e conceitos. 

Às vezes, era difícil, porém, explicar o que estava fazendo para os familiares. “Eu chegava em casa empolgada, mas minha vó não entendia como eu tinha montado um robô”, conta Ana Carolina, que hoje está no último ano de Ciência da Computação na PUC-Rio, onde tem bolsa de estudos. “Comecei a tentar a traduzir as receitas dela em algoritmos, por exemplo. Deu certo: hoje em dia minha avó até vê vídeos no YouTube, não só do meu canal.” No ano passado, Ana Carolina foi escolhida para participar de um evento na sede da Apple, na Califórnia. “Foi como se eu estivesse na Disney, só que a Disney da computação”, conta. 

Publicidade

Inclusão é outra marca do projeto

Além de expandir o raciocínio tecnológico, o projeto se debruça ainda sobre as questões de igualdade de raça e gênero no universo científico. De acordo com a apresentadora, essas pautas são inseridas nos conteúdos de forma sutil porque fazem parte das suas experiências no percurso da profissão. A ideia não é que ela esteja ali para representar a comunidade negra e feminina, mas estimular que pessoas iguais à ela se interessem pela ciência e comecem a ocupar esses espaços. 

“Chegou um momento em que eu percebi que precisava parar de bater de frente com o sistema pela inclusão de mulheres negras. Eu precisava 'hackear' o sistema", diz. Por outro lado, ela tem consciência de seu papel na inclusão. “Não quero mudar o mundo sozinha, é demais para uma menina de apenas 24 anos”, diz. “Nessa jornada, quero que tenha mais gente comigo, mais gente como eu”. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.