Nos vídeos do YouTube, a união faz a força

Colaboração entre youtubers ajuda canais a se destacarem na multidão, gerando aumento de audiência, visibilidade e melhor conteúdo; ego dos participantes e desconhecimento sobre o público-alvo dos youtubers podem colocar parcerias em risco

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Por Matheus Mans
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  Foto: DANIEL TEIXEIRA | ESTADAO CONTEUDO

Há dois anos, a apresentadora Raíssa Machado era conhecida pelos blogs e programas de TV. Já a modelo Flávia Pavanelli tinha 2 milhões de seguidores no Instagram. Sozinhas, elas poderiam não se destacar no YouTube. Para ganhar força, as duas se juntaram a outras oito jovens e criaram o Nosso Canal, espaço coletivo no qual discutem temas como beleza, moda e comportamento. Desde o lançamento, o canal acumula 500 mil seguidores e mais de 40 milhões de visualizações.

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A colaboração entre produtores de conteúdo no YouTube se tornou cada vez mais frequente nos últimos anos e tem se tornado peça central da estratégia de muitos youtubers. Com o crescimento no número de canais, está mais difícil se destacar da multidão – o YouTube não revela seus números, mas dados da produtora Rede Snack dizem que a plataforma passou de 200 mil canais brasileiros em 2015 para cerca de 290 mil em 2016. “É preciso achar novas formas de destaque. Colaboração é mais que uma tendência”, diz Vitor Knijnik, cofundador da Snack. 

A colaboração impacta diretamente a audiência – ponto sensível para quem quer ganhar dinheiro no YouTube. Mas há outros benefícios. “Não trocamos só seguidores, mas também experiências”, diz Raíssa Machado, do Nosso Canal. “Isso é importante para todos: público, youtubers e até para o próprio YouTube.”

Segundo especialistas, é natural que iniciativas de parcerias surgissem com a expansão da comunidade de youtubers no País. “Quando as pessoas fazem um vídeo juntas, os públicos se unem e há uma mistura de experiências. Isso potencializa o alcance”, diz a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Raquel Recuero.

Para o YouTube, quanto mais colaboração, melhor. Em São Paulo, a empresa mantém um espaço para o encontro entre produtores de conteúdo, o YouTube Space. “É um espaço para fomentar o aprendizado e aproximar a comunidade”, diz o estrategista de conteúdo do YouTube Space, Otávio Albuquerque – ou “Tavião”, como é conhecido na web. Ele é um pioneiro das colaborações no Rolê Gourmet, canal culinário que divide com o youtuber PC Siqueira.

Ganhos. Participar de um vídeo em canal de outro youtuber pode render mais seguidores do que aparecer na TV. O canal de dicas de viagem Amigo Gringo, do jornalista Seth Kugel, teve 8 mil novos inscritos nos dias após fazer uma colaboração – quatro vezes mais do que quando Kugel apareceu no Fantástico, da TV Globo. Na ocasião, o Amigo Gringo registrou crescimento de 1,5 mil inscritos após alguns dias – volume similar ao movimento normal do canal.

No Nosso Canal, a união entre as garotas gerou crescimento em sua base de fãs: segundo Raíssa, todas as integrantes viram seu número de seguidores em redes sociais crescer em pelo menos 50%. “A Flávia Pavanelli tinha um canal com 300 mil seguidores. Poucos meses depois do Nosso Canal, chegou a mais de 1 milhão. É incrível”, diz Raíssa.

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Às vezes, Davi e Golias também podem dar as mãos: foi o que aconteceu com o canal de cinema Acabou de Acabar, que cresceu de 10 mil inscritos para 75 mil fãs, depois de fazer uma parceria com o Pipocando, referência do tema no YouTube. “Quando começamos a colaboração, em 2014, o Pipocando estava com cerca de 200 mil inscritos. Hoje o Pipocando está perto dos dois milhões de inscritos. O crescimento dos dois canais é proporcional e reforça a parceria”, diz Gabriel Gaspar, do Acabou de Acabar.

Outra vantagem é a criação de um senso comunitário na plataforma. Especializado no game Minecraft, o canal TazerCraft tem hoje 5,7 milhões de inscritos – sendo o 13º no País, segundo dados do YouTube. Para os integrantes do canal, o maior benefício é a ajuda mútua (e a amizade). “Nosso lema sempre foi: sermos parceiros dos nossos amigos”, diz Tarik Pacagnan – o Pac, um dos membros do canal.

Além disso, há também o ganho de conteúdo e eficiência, mesmo quando o tema do canal de ambos os youtubers é o mesmo. É o caso das youtubers Carol Moreira, do canal que leva seu nome, e Míriam Castro, do Mikannn.“A gente consegue produzir mais. Se eu fosse escrever roteiro, gravar vídeo e produzir tudo sozinha, daria muito mais trabalho”, afirma Carol. “Youtubers não podem se ver como concorrentes. Tem que ter diversidade de opiniões, como acontece com a gente”, complementa Miriam.

Dez youtubers produzem juntas o 'Nosso Canal' Foto: Reprodução

Tiro pela culatra. Nem sempre as parcerias dão certo – especialmente se os públicos forem distintos.Foi o que aconteceu com o canal de fofocas Ok! Ok! e o produtor de conteúdo Hugo Gloss.Enquanto um tem um público um pouco mais jovem, entre 13 e 24 anos, o segundo tem um público mais velho, entre 18 e 34 anos. A colaboração não deu liga, com direito a inúmeros comentários negativos dos espectadores.

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“Parecia uma colaboração perfeita, mas não funcionou. É como colocar uma banda de chorinho para abrir o show do Ozzy Osbourne”, explica o fundador da Rede Snack Nelson Botega – e filho do apresentador Nelson Rubens.

Além disso, as colaborações são sucedidas por uma guerra entre egos. Afinal, youtubers podem se sentir mais importantes que outros participantes do vídeo – o que pode gerar intrigas. “Não acho que o Nosso Canal tenha ajudado o meu espaço particular a crescer”, diz Flávia Pavanelli, integrante do Nosso Canal, contradizendo a colega Raíssa Machado. “Eu consegui aumentar o meu canal sozinha. Não acredito que tenha influência.”

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