Nova rede de fotos, Dispo quer se opor à 'perfeição' do Instagram

Novo serviço rejeita filtros e manipulações de imagem, e abraça espontaneidade das velhas câmeras descartáveis

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Por Taylor Lorenz
Atualização:
O time Dispo, da direita para a esquerda: David Dobrik, Daniel Liss, Natalie Mariduena, TJ Taylor, Michael Shillingburg, Malone Hedges, Bhoka Hokanson e Regynald Augustin Foto: Dispo

O Dispo, um novo aplicativo de compartilhamento de fotos que imita a experiência com uma câmera descartável, está decolando. As pessoas estão clamando por convites para testar a versão beta. Os primeiros que o fizeram têm elogiado seus recursos de mídia social. Os investidores estão apostando alto no seu futuro.

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No aplicativo os usuários enquadram as fotos por meio de um pequeno visor retangular. Não há ferramentas de edição ou para legendar; quando a imagem “desenvolve”, ou seja, aparece no seu telefone às nove horas do dia seguinte — é o que você tem. Múltiplas pessoas podem tirar fotos no mesmo rolo, como ocorre com uma câmera descartável real numa festa.

“Quando eu ia a festas de amigos eles tinham câmeras descartáveis por toda a casa e insistiam para as pessoas tirarem fotos a noite inteira”, disse David Dobrik, uma estrela do YouTube e criador do aplicativo. “Pela manhã eles recolhiam todas as câmeras e olhavam as fotos tiradas noite anterior e se perguntavam, ‘o que aconteceu na noite passada?’”

Ele e seus amigos adoravam a chance de rever momentos fugazes e esquecidos. “Todas as manhãs era sempre como o final de “Se beber não case” , disse Dobrik, 24 anos. Ele começou a postar suas fotos numa conta no Instagram especial para isto em junho de 2019 e rapidamente arrebanhou milhões de seguidores. Outros influencers e celebridades, incluindo Tana Mongeau e Gigi Hadid, logo lançaram suas próprias contas “descartáveis” e seus fãs seguiram o exemplo.

Percebendo a tendência, Dobrik procurou recriar a experiência da câmera descartável digitalmente como um antídoto à obsessão de se conseguir a foto perfeita. “Você nunca examina a imagem, nunca checa a luz”, disse ele sobre o uso das câmeras descartáveis.

Em dezembro de 2019 ele lançou o aplicativo de fotos chamado David’s Disposable, por meio do qual as pessoas conseguiam tirar fotos retrô que “desenvolviam” da noite para o dia. Seus primeiros seguidores sugeriram que o modelo tinha um enorme potencial. Assim, em um ano o aplicativo se transformou no Dispo, uma rede social incipiente que começou um teste beta com o público em 19 de fevereiro.

Embora a versão mais recente do Dispo esteja disponível para o público há poucas semanas, ele já vem gerando um grande entusiasmo. O aplicativo já subiu de posição na loja de aplicativos da Apple. As salas de discussão do Dispo explodiram no Clubhouse. YouTubers vêm compartilhando resenhas, dicas para conseguir um maior número de convidados e aumentar seus arquivos. Assim como VSCO deu origem à "VSCO girl", Dispo produziu os "Dispo boys". Algumas fotos da Dispo chegaram até mesmo ao mercado de arte online como NFTs, ou "tokens não fungíveis".

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Os usuários beta do aplicativo elogiam sua limitação. “Acho que as fotos são mais simples”, disse Goldie Chan, 38 anos, fundadora da Warm Robots, agência de estratégia social em Los Angeles. “Os aplicativos como o Clubhouse são muito mais ruidosos, literalmente. Quando você tem à mão algo como o Dispo ou VSCO você simplesmente fotografa. Tira a foto de um momento na sua vida e esquece”.

Anyha Garcia, uma dona de casa de 31 anos que reside em Utah, começou a usar o Dispo há uma semana. Ela é fã da sua simplicidade. “Não tenho de sentar depois e editar”, disse ela. “Tiro uma foto e pronto. E posso voltar a ela mais tarde em vez de ter de recortar ou me preocupar em tirar mais 10 ou 12 fotos daquilo que estou querendo fotografar”.

As pessoas também gostaram da ênfase do aplicativo na colaboração. “Com o Instagram todo mundo se torna um fotógrafo em geral. O Dispo faz de você um fotógrafo com um objetivo”, disse Terry O’Neal, 31 anos, gerente de marca de Los Angeles que vem usando o aplicativo. Ele criou vários rolos com temas de cores e pediu a outros usuários para ajudá-lo a encontrar objetos que se enquadrem em cada tema. “Isto é que é criar uma comunidade, todos olhando para a mesma coisa através das suas próprias lentes”.

“A melhor coisa no caso do Dispo é o aspecto colaborativo”, disse Luke Yun, 31 anos, diretor de mídia social em Los Angeles. “As pessoas vêm encontrando maneiras de serem criativas juntas. É uma disputa natural para ajudar um ao outro a criar no caso dessas comunidades, algo que nunca vi antes em nenhuma rede social”.

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O Dispo já começou a se expandir internacionalmente, especialmente no Japão, onde a empresa pretende abrir um escritório. Embora conte agora com apenas oito funcionários, a rápida expansão da startup a tornou um alvo atraente para os investidores de risco.

Numa rodada de arrecadação de fundos inicial, em outubro, comandada pela Seven Seven Six, do cofundador do Reddit Alexis Ohanian, a empresa levantou US$ 20 milhões, numa valorização de US$ 200 milhões numa rodada de financiamento Série A liderada pela Spark Capital. A Dispo também tem mantido conversações com outras grandes empresas de capital de risco, incluindo a Sequoia Capital, Andreessen Horowitz e Benchmark.

Apesar de que certamente no futuro surgirão os imitadores e uma concorrência, Dobrik acha que o que o Dispo oferece é algo que os filtros de foto não conseguem copiar.

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“Quando você vê uma foto descartável sabe que ela é real e não foi produzida ou montada. Simplesmente a imagem aconteceu e foi capturada. É o que a torna tão fascinante”. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

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