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Conheça Sua Música e Palco MP3, os rivais brasileiros do Spotify

Com mais de 10 milhões de usuários e foco em ritmos populares como forró, sertanejo e funk, serviços são ‘sensações escondidas’ da web brasileira’

Por Bruno Capelas
Atualização:
Rodrigo Amar, do Sua Música: 13 milhões de usuários por mês, com 60% do público no Nordeste Foto: Gabriela Biló/Estadão

Não importa se “o nome dela é Jenifer” ou se você ficou “parado no bailão”: há uma boa chance de que o hit do carnaval que se aproxima tenha aparecido primeiro no Sua Música, plataforma de música que é uma das sensações escondidas da internet brasileira. Fundado em 2011, o serviço – site e app para iOS e Android – tem hoje 13 milhões de usuários ativos por mês, interessados em ouvir as últimas novidades do forró, arrocha, sertanejo e outros ritmos populares do País

De lá, já saíram nomes que dominam hoje as paradas nacionais, como Wesley Safadão e a dupla Henrique & Juliano. E mais: tudo de graça. “Antigamente, o artista pagava jabá para estar no rádio ou distribuía uns CDs promocionais pelo interior”, conta o presidente executivo da plataforma, o advogado carioca Rodrigo Amar. “Somos a versão do século 21.”

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No lugar de caminhões rodando praças e bares, agora temos a internet e a capacidade de captar dados sobre execuções e hábitos dos ouvintes – informações que viram armas na mão da startup para faturar com publicidade. “Consigo dizer para o artista que ele tem fãs em Quixeramobim (CE) e que preferem cerveja a uísque”, diz Amar, de 33 anos. “Posso saber quais cantores estão começando a ganhar tração e organizar um festival ou investir em sua carreira.” 

Após trabalhar com propriedade intelectual e fazer mestrado no Canadá, ele voltou ao Brasil em 2013 querendo empreender. Decidiu, com dois sócios, comprar o Sua Música depois de ver um show do Aviões do Forró, em Ipojuca (PE), com 20 mil pessoas no público em uma quinta-feira. “Vimos ali que havia outro Brasil pulsando, um mercado ativo de segunda a segunda. É diferente do que há no Sudeste.”

Fundado em 2011 pelo empresário de bandas Eder Rocha, o Sua Música tinha na época 80 mil usuários e um visual amador, digno de blog. Hoje, a empresa dá lucro e tem uma equipe de 30 pessoas, divididas entre escritórios no Rio, São Paulo, Fortaleza e Recife. Um terço do time cuida de tecnologia, com tarefas como fazer o app rodar bem em conexões instáveis nos rincões do País. 

Show ou disco? Mais de 14 mil artistas estão cadastrados gratuitamente no Sua Música. Com um perfil, cada cantor pode colocar canções para download ou streaming, além de distribuir vídeos e conversar com os fãs. Aos mais avançados na carreira, também é possível comprar espaços de destaque na primeira página do serviço. Amar diz que a plataforma é aberta a todos, mas defende seu foco. “Hoje, 60% do nosso público é do Nordeste. Não vamos atrás do artista cool pop de barba ruiva desenhada. Queremos pagode, axé, arrocha, funk.” 

Se não tem de pagar para estar no Sua Música, por outro lado, o artista abre mão de algo caro à indústria musical: o pagamento por reprodução de cada gravação. Enquanto Spotify e YouTube são alvos de críticas por pagarem frações de centavos para cada execução, para Amar esse é um tema superado. 

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“Os artistas perceberam que precisavam ficar famosos e que a grana vem mesmo dos shows. Eles precisam se divulgar.” Para 2019, a empresa tem planos arrojados: organizar um prêmio para seus artistas, realizar clipes (no YouTube, o canal do Sua Música tem 900 mil inscritos) e, quem sabe, um festival próprio. Além disso, estreitar laços com marcas – já fez campanhas no Nordeste para Coca-Cola e o Ministério da Saúde. 

Reinventando a roda. O que o Sua Música faz não é algo novo: ser um veículo que usa a internet para divulgar novos artistas. Além das redes sociais, na década passada diversas plataformas fizeram algo parecido. É o caso do Myspace, que catapultou Mallu Magalhães, ou do TramaVirtual, que ajudou bandas como Fresno e Forfun, a alcançar o público pela web. Ambos, porém naufragaram. 

“O Sua Música não está inventando a roda”, diz Alexandre Matias, curador de música do Centro Cultural São Paulo (CCSP). “Eles fazem o mesmo que as rádios desde os anos 20, com um recorte específico, focando no Nordeste e no público CDE.” A grande diferença é que o Sua Música chegou na hora certa – quando os smartphones se popularizaram no País e houve finalmente público para sustentar o negócio. 

Ana Karolina, gerente de conteúdo do Cifra Club, Lafaiete Júnior, gerente de conteúdo do Palco MP3, eRosi Benini, gerente de conteúdo do Letras Foto: Studio Sol

A empresa não está sozinha na batalha pelos ouvidos dos usuários: um de seus concorrentes é o Palco MP3, da empresa mineira Studio Sol. Criada em 2003, contemporânea de Myspace e TramaVirtual, a plataforma tem estilo mais eclético: além dos ritmos populares, também tem MPB, rock, rap e pop. Assim, tem mais artistas que o Sua Música: são 115 mil perfis. 

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“Temos o privilégio de ver nomes que estouram no Brasil começar aqui”, diz Lafaiete Junior, gerente de conteúdo do Palco Mp3. “O Aldair Playboy que fez sucesso em 2018 com ‘Amor Falso’, está no Palco há uns cinco anos.” Com 10 milhões de usuários, o Palco MP3 surgiu como um apêndice de outro site do grupo, o Cifra Club, surgido em 1996 – o endereço é a busca nº1 da internet brasileira para músicos amadores, com mais de 450 mil cifras para violão publicadas. 

O grupo tem ainda um terceiro braço, o Letras.mus.br, que tem 55 milhões de usuários mensais. Juntos, os três serviços se mantêm com publicidade e têm uma equipe de 130 pessoas, todas na capital mineira. “O ecossistema da Studio Sol dá a eles uma força muito grande, porque ele reúne a música, a letra e como o cara pode tocar”, diz Juliano Polimeno, da plataforma de inteligência musical Playax. 

Competição. Sua Música e Palco MP3 têm sido chamados de “Spotify à brasileira” ou “streaming do arrocha”. Para os especialistas ouvidos pelo Estado, eles têm diferenças significativas para outros serviços. A primeira é o modelo de negócios: enquanto as plataformas estrangeiras combinam assinaturas e anunciantes, os brasileiros focam 100% na publicidade. Além disso, no Sua Música e no Palco MP3, não há intermediários – é o próprio artista que publica sua música. Outro aspecto importante é o download da música de graça: “Apesar de já terem internet, as pessoas baixam os arquivos, porque se preocupam em não gastar seus planos de dados”, ressalta Polimeno. 

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Para Amar, o Spotify está longe de ser rival. “Eles são uma empresa de música. Nós somos uma empresa de mídia e ganhamos dinheiro com audiência”, diz. “É o nosso diferencial: falamos com muita gente.” Já Polimeno, da Playax, vê a preferência dos usuários pelo lado oposto. “Quando o artista ganha relevância, ele não fica só no Sua Música, mas vai para outras plataformas. É um serviço refém da confiança do público e do artista, que vai aonde o povo está.”

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