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Quarentena gera disputa entre funcionários sem filhos e colegas que são pais

Enquanto as empresas lutam para descobrir a melhor forma de apoiar os funcionários durante a pandemia, alguns profissionais sem filhos dizem que se sentem desvalorizados

18/09/2020 | 05h00

  •      

 Por Daisuke Wakabayashi e Sheera Frenkel - The New York Times

Nos últimos meses, os gerentes do Facebook tiveram que encerrar as discussões em fóruns internos que acusavam alguns pais de não contribuírem com o trabalho

Aart Jan Venema/The New York Times

Nos últimos meses, os gerentes do Facebook tiveram que encerrar as discussões em fóruns internos que acusavam alguns pais de não contribuírem com o trabalho

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Quando o novo coronavírus fechou escolas e creches e transformou a paternidade americana em um pesadelo multitarefas, muitas empresas de tecnologia correram para ajudar seus funcionários. Elas usaram suas confortáveis margens de lucro para criar novos benefícios aos trabalhadores, incluindo licenças extras para os pais a fim de ajudá-los a cuidar dos filhos. Não demorou muito para que funcionários sem filhos começassem a se perguntar: e quanto a nós?

Em uma reunião recente com toda a empresa, os funcionários do Facebook argumentaram repetidamente que as políticas de trabalho criadas em resposta à covid-19 “beneficiaram principalmente os pais”. No Twitter, uma briga surgiu em um quadro de mensagens interno depois que um funcionário que não tinha filhos em casa acusou outro funcionário, que estava tirando uma licença para cuidar de um filho, de não trabalhar duro como os demais colegas de trabalho.

Quando a Salesforce anunciou que estava oferecendo aos pais seis semanas de licença remunerada, a maioria dos funcionários aplaudiu a empresa. Mas um gerente da Salesforce, que não tem permissão para falar publicamente a respeito de assuntos internos e pediu para não ser identificado, disse que dois funcionários sem filhos, refletindo um sentimento expresso em várias empresas, reclamaram que a política parecia colocar as necessidades dos pais antes das deles.

Enquanto as empresas lutam para descobrir a melhor forma de apoiar os funcionários durante a pandemia, alguns profissionais sem filhos dizem que se sentem desvalorizados e que estão sendo solicitados a arcar com uma carga de trabalho mais pesada. E os pais estão frustrados porque seus colegas de trabalho sem filhos não entendem como é difícil conciliar o trabalho com cuidar dos filhos, especialmente quando as creches estão fechadas e eles estão tentando ajudar seus filhos a estudar em casa.

A divisão é mais pronunciada em algumas empresas de tecnologia, onde os trabalhadores tendem a ser mais jovens e esperam regalias e benefícios generosos em troca de deixar seus empregos assumirem o controle de suas vidas. As empresas de tecnologia foram as primeiras a pedir aos funcionários que trabalhassem em casa no início da pandemia e a oferecer licenças generosas e folgas adicionais assim que ficou claro que as crianças iriam ter que ficar em casa também.

Liderado por pai de duas crianças, Facebook virou foco de tensão

A tensão entre aqueles que têm filhos e os que não têm foi exibida de forma mais expressiva no Facebook. Em março, o Facebook ofereceu até dez semanas de licença remunerada para os funcionários se eles tivessem que cuidar de uma criança cuja escola ou creche tivesse fechado ou de um parente mais velho cuja casa de repouso não estivesse funcionando. O Google e a Microsoft estenderam licenças remuneradas semelhantes aos funcionários que cuidam de crianças em casa ou de parentes doentes.

Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook e pai de dois filhos, também disse que a empresa não pontuaria funcionários quanto ao desempenho no trabalho no primeiro semestre de 2020 porque havia "tantas mudanças em nossas vidas e trabalho". Cada funcionário do Facebook receberia valores de bônus normalmente reservados para pontuações de desempenho muito boas, irritando alguns funcionários sem filhos que achavam que aqueles que trabalharam mais deveriam receber mais.

Quando Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, comandou uma videoconferência para toda a empresa em 20 de agosto, mais de 2 mil se registram para perguntar a ela o que mais o Facebook poderia fazer para apoiar funcionários sem filhos, já que suas outras políticas haviam beneficiado aos pais.

A pergunta tocou uma ferida. Um funcionário escreveu em comentários que acompanhavam o feed do vídeo que era “injusto” que aqueles sem filhos não pudessem tirar vantagem da mesma política de licença concedida aos pais. Outro escreveu que, embora o procedimento para tirar uma licença fosse geralmente difícil, era “fácil e simples” para os pais.

Um pai respondeu em uma nota em sua página corporativa no Facebook, visível apenas dentro da empresa, que a pergunta era “nociva” porque fazia os pais se sentirem mal avaliados e que uma licença para cuidar dos filhos dificilmente seria um problema de saúde física ou mental.

“Por favor, não faça de mim e de outros pais do Facebook a válvula de escape para sua compreensível frustração, exaustão e raiva em resposta às dificuldades que você está enfrentando devido à covid-19”, escreveu o pai. O vídeo da reunião e as capturas de tela das respostas dos funcionários em painéis de mensagens internos foram compartilhados com o The New York Times.

Sheryl disse que “discordava da premissa da questão” de que a política de licença e o congelamento das avaliações de desempenho estavam beneficiando principalmente os pais. Ela acrescentou que bônus maiores do que o normal foram dados a todos os funcionários e que todos receberam um pagamento de US$ 1 mil para comprar equipamentos para trabalhar de casa.

Nos últimos meses, os gerentes do Facebook tiveram que encerrar as discussões em fóruns internos que acusavam alguns pais de não contribuírem com o trabalho, de acordo com três integrantes da equipe do Facebook, que pediram para permanecer anônimos porque não tinham permissão para discutir questões de trabalho com repórteres.

Com seus escritórios programados para permanecerem fechados até pelo menos outubro e as escolas reiniciando suas atividades online na Califórnia, o Facebook disse em agosto que a política de licença permaneceria em vigor até junho de 2021 e que os funcionários que já haviam tirado alguma licença este ano teriam direito a mais 10 semanas no próximo ano.

Isso irritou parte dos funcionários sem filhos. Alguns escreveram abertamente a respeito de como se sentiam isolados, vivendo sozinhos e sem ver ninguém por semanas a fio. A empresa, eles disseram, parecia menos preocupada com suas necessidades.

O Facebook disse que todos os funcionários podem tirar até três dias de folga para lidar com problemas de saúde física ou mental sem um atestado médico. A empresa oferece separadamente 30 dias de licença de emergência para todos os funcionários, caso precisem cuidar de um familiar doente. Além disso, todos os profissionais do Facebook recebem um número ilimitado de dias de licença médica e pelo menos 21 dias de férias por ano.

“Demos mais apoio a todos os nossos funcionários e incentivamos todos a terem discussões abertas em relação aos desafios que estão enfrentando”, disse Liz Bourgeois, porta-voz da empresa. “Em muitos locais de trabalho, tentar esconder as dificuldades adicionais de cuidar ou bem-estar é mais um fardo que as pessoas têm de carregar, e não queremos que seja o caso no Facebook.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

 

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