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Serviços de streaming de vídeo ocupam nichos para disputar mercado em alta

De animações japonesas até filmes pornográficos, novas plataformas apostam em conteúdos específicos para atrair públicos ‘esquecidos’ pelo Netflix, em mercado que poderá movimentar mais de US$ 60 bilhões por ano em 2019

Foto do author Matheus Mans
Por Matheus Mans e Bruno Capelas
Atualização:
  Foto: DIV

Ao pensar em serviços de streaming de vídeo, é natural que o Netflix seja o primeiro nome lembrado. Afinal, a plataforma tem mais de 81 milhões de assinantes e está em quase todos os países do mundo. Há, porém, quem queira provar que é possível roubar uma fatia do mercado bilionário conquistado pelo americano Reed Hastings. Recentemente, diversos serviços que apostam na transmissão de conteúdo pela internet surgiram com a proposta de atender aos nichos deixados de lado pelo gigante Netflix.

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O empresário Manoel Ramalho sempre foi um grande fã de filmes antigos. “Saudosista por natureza”, há mais de 20 anos ele licencia filmes antigos para a TV União do Rio Grande do Norte. Ao assinar o Netflix, Ramalho percebeu um “buraco” no serviço, que em seu catálogo brasileiro só possui, segundo ele, 270 filmes anteriores à década de 90. Foi aí que nasceu o Oldflix, plataforma voltada para clássicos como A Caverna do Dragão e Ladrões de Bicicleta, com assinatura de R$ 9,90 por mês.

“Vimos que há demanda reprimida por filmes clássicos. O Netflix não atende esse público”, diz o criador do Oldflix. Sua aposta foi certeira: 48 horas após ser lançado, no fim de março, o serviço atraiu milhares de usuários. “Chegamos a ter 30 novos usuários por minuto.”

  Foto: OLIVE FILMS | NYT

O sucesso foi tão inesperado que a empresa interrompeu as assinaturas e agora se reestrutura para atender à demanda, liderada por jovens: 70% dos assinantes têm menos de 26 anos. “Ainda há espaço para crescer, porque nem atingimos nosso público-alvo, que são os maiores de 50 anos”, diz Ramalho.

Fatia. Segundo a consultoria Market & Markets, o setor de vídeo por demanda (VOD) pode valer US$ 61,4 bilhões em 2019 – e parece natural que todo o mundo queira uma fatia desse bolo, preenchendo as lacunas de serviços como o Netflix e o Amazon Prime Video – este último, não disponível no Brasil. “Sempre tem um público”, diz o analista da IDC Brasil, Samuel Rodrigues. “Às vezes, a demanda pode nem existir. O provedor de conteúdo pode fazer com que a demanda surja do nada.”

É o caso do streaming britânico Mubi, voltado apenas para filmes independentes, estrangeiros ou “de arte”, gênero pouco atendido pelo Netflix. A plataforma também tem um sistema curioso: seu catálogo tem apenas 30 títulos, e é renovado diariamente. Todo dia, um filme sai, dando lugar a outra produção, em uma curadoria apurada.

Avaliado em US$ 125 milhões, segundo dados da empresa, o Mubi tem cerca de 100 mil assinantes em mais de 200 países, mesmo não tendo legendas em vários idiomas, como o português. O serviço também tem o apoio de cineastas como Sofia Coppola e Paul Thomas Anderson, que lançou seu filme Junun exclusivamente na plataforma.

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A curadoria é um dos motivos que atraíram a arquiteta Polly Sjobon, de 34 anos, ao Mubi. “Queria ver filmes de arte e o Mubi foi perfeito”, diz Polly, que usa o serviço desde 2011. “Com poucos filmes, filtro melhor a informação e aproveito meu tempo. Minha conta no Netflix está por um triz.” Além do Mubi, Polly usa muito outro serviço de streaming: o Qello, que aposta no setor de shows e documentários musicais. No serviço, é possível assistir tanto a apresentações de Beyoncé ou Queen, bem como concertos de orquestras. Lançada em 2010, a plataforma está em 160 países e tem 3 milhões de assinantes.

Quem também vislumbra o setor de shows é a startup brasileira ClapMe, que nasceu em 2013 como uma plataforma para transmissão de shows ao vivo. No início deste ano, porém, a empresa decidiu se lançar como o “Netflix dos shows”, fechando parcerias com casas noturnas para gravar apresentações ao vivo. Parceira de artistas como Filipe Catto e Supla, a ClapMe dá a seus usuários a chance de ver apenas um show – por preços que variam entre R$ 2 e R$ 20 – ou assinar o serviço por R$ 15,90 mensais.

  Foto: DIV

“Ninguém ganha dinheiro vendendo ingresso de show online hoje. É um dinheiro que está voando, mas que nós queremos”, diz Celso Augusto Forster, cofundador da plataforma, que fica com 25% do valor arrecadado com assinaturas e ingressos dos shows – os outros três quartos são divididos igualmente por artistas, casas de shows e custos de produção.

Não é documento. Lacunas dos grandes serviços, filmes antigos e shows são conteúdos que atendem grandes públicos. Há, porém, quem trabalhe com mercados bastante específicos, como o Crunchyroll, que tem mais de 400 títulos de anime (desenhos japoneses) em seu catálogo. Nascido em 2006 como um serviço pirata nos EUA, a plataforma tem 1 milhão de usuários em 10 idiomas diferentes, e está no País desde 2013.

  Foto: REPRODUCAO

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“O Netflix tem foco abrangente demais para atingir um público específico”, diz Yuri Petnys, gerente do serviço no País. Para ele, um dos segredos do Crunchyroll é poder atender seu público com rapidez. “O mesmo anime que nós temos também chega no Netflix. Quem usa o Crunchyroll consegue assistir uma hora depois da estreia do episódio no Japão. Já quem vê no Netflix tem de esperar meses por uma nova temporada.”

As crianças também são um público-alvo dessa indústria. Enquanto o Netflix tem produções infantis como um dos focos de seu investimento de US$ 5 bilhões em produções originais, plataformas como a brasileira PlayKids fazem suas primeiras apostas. No ano passado, a empresa começou a produzir animações com o cachorrinho Lupi, mascote do app, para os 6 milhões de usuários do PlayKids.

“Temos uma interface mais lúdica que o Netflix”, afirma o CEO do PlayKids, Flavio Stecca. “Apostamos na experiência de baixar um conteúdo para depois poder ver offline. Faz diferença, já que os pequenos não tem paciência em esperar um filme carregar.”

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O mercado é tão amplo que tem espaço até para atrações para maiores de 18 anos. Em fevereiro, foi lançada a primeira plataforma para filmes pornográficos, o Safada.tv. “Produzia vídeos pornôs alternativos e não tinha para onde escoar o conteúdo”, conta Roy LP, criador do serviço. Ele se uniu a produtores independentes para lançar sua plataforma, que pode ser assinada por R$ 9,90 por mês.

Pelo lançamento recente, Roy LP ainda não consegue medir o resultado de sua empreitada, mas se vê empolgado com a iniciativa. “Todo o mundo vê filmes pornográficos nos mesmos lugares. É bom testar coisas novas.”

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