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Tecnologia marca polêmicas de 2015

Falta de conhecimento sobre o tema esteve presente nas grandes questões do ano, de Uber a Donald Trump e Volkswagen

Por Agências
Atualização:

AP

 

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Os gênios do Vale do Silício são muitas vezes ridicularizados, pois teriam uma visão estreita, afetada, do mundo. Para os críticos, o pessoal de tecnologia não enxerga quem passa à sua frente. Eles agem como se os produtos que criam estejam no centro de tudo.

Mas este ano, eles estão certos. A tecnologia regeu muitos assuntos em 2015. Não só dominou o noticiário, mas com frequência ela foi rápida demais para políticos, órgãos reguladores, polícia e até mesmo a mídia entenderem suas implicações.

Este ano começamos a ver provas da nossa ignorância coletiva da era digital. Isso deveria nos levar a fazer uma promessa de ano-novo. Em 2016 vamos começar a valorizar o papel dominante da tecnologia na configuração do mundo e nos empenhar para nos tornamos mais capacitados sobre a maneira que refletimos quanto aos seus efeitos. “O ritmo da mudança tecnológica nunca foi tão rápido, de maneira que o mais importante é nos mantermos bem informados a respeito”, disse Julius Genachowski, ex-chairman da Comissão Federal de Comunicações e hoje sócio da empresa de investimentos Carlyle Group.

Parece difícil, mas felizmente não é impossível. Em primeiro lugar, para entender o problema, considere as manchetes do ano. Do terrorismo aos protestos contra os abusos da polícia, do escândalo na Volkswagen às tensões globais no campo da energia e do clima, a tecnologia foi crucial em cada notícia importante.

As notícias com frequência deixaram evidentes o fracasso em entender os efeitos da mudança. Por exemplo, candidatos presidenciais e órgãos de polícia não conseguiram explicar como impedir que terroristas utilizem redes sociais para inspirar ataques pelo globo. Quando tentaram, faltou a eles a compreensão básica digital, caso dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Hillary Clinton, que insistiram em desativar certas áreas da internet, ideia que muitos especialistas rechaçam afirmando ser algo irrealista, talvez impossível.

A imprensa, por outro lado, foi tomada de surpresa pelo aumento de movimentos impulsionados pelas redes sociais. A aposta na candidatura presidencial no caso de Donald Trump, alimentada tanto pelo seu domínio do Twitter e do Instagram, como pela cobertura da TV de notícias a cabo, repetidamente frustrou previsões de especialistas. Numa perspectiva diferente, o movimento que forçou agências de notícias a começarem a cobrir os abusos da polícia foi impelido por um exército de ativistas armados com smartphones.

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Em seguida, órgãos reguladores, cuja compreensão das implicações da tecnologia é um pouco melhor. A revelação de que muitos veículos da Volkswagen foram equipados com software para enganar os testes de emissões de gás realçou o poder do código secreto, problema para o qual os pesquisadores alertam há anos e que pode se tornar ainda mais pernicioso à medida que nossos aparelhos domésticos continuam a ser transformados em minicomputadores conectados à internet.

As autoridades também se surpreenderam com a ascensão resoluta do Uber, serviço que conecta o usuário com um motorista por meio de um aplicativo e cujo modelo de negócio está fadado a interferir em outros setores. Os tribunais têm se debatido para classificar os motoristas do Uber – são empregados, contratantes ou um novo tipo de trabalhador que recebe cachê que se enquadra em ambas as categorias? O prefeito Bill de Blasio, de Nova York, foi uma das muitas autoridades que tentaram frear o avanço do Uber, mas fracassaram diante de uma campanha bem orquestrada.

Do mesmo modo, os eleitores em San Francisco rejeitaram medida que limitaria as atividades do Airbnb, serviço de aluguel de imóveis para temporadas curtas que tem causado dores de cabeça para vizinhos e órgãos de fiscalização municipais. O prefeito de Nova York e os antagonistas do Airbnb em San Francisco descobriram uma verdade quando autoridades tentam controlar as novas empresas baseadas em aplicativos: contornando os regulamentos por meio de software, esses serviços alcançaram grande popularidade e os esforços para limitar seus efeitos têm de levar em conta seus leais seguidores.

As manchetes de 2015 realçam o fracasso coletivo para prever o alcance da tecnologia. “O que estamos observando é uma grande inquietação quanto a como a tecnologia está mudando as coisas”, disse Aneesh Chopra, que foi diretor de tecnologia do governo dos EUA entre 2009 e 2012. Mas Chopra, que hoje é vice-presidente executivo na incubadora Hunch Analytics, tem uma visão otimista da alfabetização tecnológica. Segundo ele, as iniciativas da Casa Branca e outros departamentos do governo federal são um exemplo promissor de como instituições aparentemente antiquadas podem se adaptar à tecnologia.

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“No plano federal acabamos por compreender melhor o pleno poder, potencial e limitações da tecnologia”, disse ele. “Uma pessoa envolvida com a tecnologia que examinasse algumas das iniciativas chegaria a dizer. ‘Ora, este é um governo que conhece tecnologia”. Mas a opinião de Chopra é um pouco tendenciosa, uma vez que ele elaborou muitas iniciativas às quais agora se refere.

No entanto, ele citou um exemplo que mostra uma maior sofisticação tecnológica da parte do governo: o debate sobre privacidade, segurança e tecnologias de criptografia. Desde as revelações feitas por Edward J. Snowden de escutas ilegais feitas pela Agência de Segurança Nacional, muitas empresas de tecnologia, como Apple e Google, expandiram o uso de criptografia para proteger dados dos usuários.

Brasil.  No Brasil, a situação não é diferente dos Estados Unidos. Embora o País seja conhecido por adotar novas tecnologias – em especial as sociais – com rapidez, há várias implicações que exigiram e exigirão mais entendimento da população, das empresas que atuam no mercado local e dos órgãos reguladores.

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Uma das polêmicas mais emblemáticas de 2015 no Brasil é a guerra entre motoristas do aplicativo de carona paga Uber e os taxistas. Em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, os taxistas acusam os motoristas do Uber de concorrência desleal, já que os motoristas que são chamados pelo aplicativo não precisam pagar impostos e não têm alvará de funcionamento.

Outro assunto importante, que esteve entre os principais acontecimentos do ano, foi a disputa entre operadoras de telecomunicações e serviços de mensagens instantâneas, como o WhatsApp e Viber. Empresas como Claro, Oi, Tim e Vivo viram suas receitas com voz e mensagens de texto (SMS) despencarem nos últimos meses com a adoção massiva do aplicativo por mais de 100 milhões de brasileiros.

Segundo as operadoras, esses aplicativos atuam de forma ilegal no País, já que permitem que seus usuários usem o smartphone para fazer ligações de voz. A tecnologia por trás dos apps, no entanto, é diferente da adotada pelas teles, já que as ligações são feitas por meio da internet. Segundo as empresas de telefonia, os aplicativos de mensagens instantâneas devem ser regulamentados para garantir condições iguais de competição no País.

/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINHO

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