Tecnologia vai afetar quase todos os empregos nos EUA – até os menos qualificados

Estudo do Brookings Institution constatou que quase 90% das profissões exigem maior domínio da tecnologia, o que pode mudar a natureza do trabalho nos próximos anos

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Por Agências
Atualização:
Uso de tecnologia no setor de almoxarifados subiu 20 pontos entre 2002 e 2016 Foto: Fabio Motta/AE

Esqueça os robôs: a real transformação que está tomando conta de quase todos os ambientes de trabalho é a “invasão” das ferramentas digitais. Desde 2002, o uso dessas ferramentas tem crescido drasticamente em 517 de 545 profissões, com um aumento impressionante entre as ocupações de baixa qualificação. O dado é proveniente de um estudo divulgado na última quarta-feira pelo Brookings Institution, grupo de pesquisa sediado em Washington, nos Estados Unidos. 

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O relatório sublinha um aumento na demanda por trabalhadores que possuam habilidades digitais e explica porque tantos profissionais estão sofrendo para ocupar vagas no mercado de trabalho. O estudo constatou uma ansiedade em relação à possibilidade da automação substituir o trabalho humano, já que novas ferramentas digitais permitem que um único profissional consiga realizar sozinho um trabalho que antigamente demandava esforço de diversos trabalhadores.

As 545 ocupações investigadas no estudo refletem 90% de todos os trabalhos disponíveis na economia norte-americana. O relatório descobriu que empregos com maior conteúdo digital tendem a pagar melhor e se concentram cada vez mais em centros tradicionais de alta tecnologia, como o Vale do Silício, Seattle e Austin, no Texas.

A pesquisa usou dados do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos para atribuir uma classificação de 0 a 100 para cada ocupação, refletindo o quanto cada uma delas requer uso de tecnologias digitais. A média geral de todas as profissões subiu de 29 em 2002 para 46 em 2016, registrando aumento de 59%.

Alguns trabalhos, principalmente os mais bem pagos, têm usado ferramentas digitais há tempos e continuam registrando aumento nesta demanda, o estudo constatou. Ao mesmo tempo, muitas profissões que usavam nenhuma ou pouca tecnologia em 2002 agora exigem de seus trabalhadores essas habilidades. 

Funcionários no setor de almoxarifado, por exemplo, viram sua pontuação média subir de 5, em 2002, para 25, em 2016. Estes trabalhadores agora empregam dispositivos portáteis para rastrear inventários e equipamentos que soam um alarme quando eles colocam uma caixa no lugar errado.

O estudo descobriu que a média de uso de tecnologia no setor de reparadores de telhados pulou de 0 para 22, enquanto a de atendentes de estacionamento subiu de 3 para 26. 

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“O que nós descobrimos é que, quanto mais digital um trabalho é, melhor o pagamento – e também menores são as chances de que seu trabalho seja substituído totalmente”, disse Mark Muro, profissional sênior na Brookings e co-autor do relatório. 

Desenvolvedores de softwares, que ocupavam o topo do ranking entre as ocupações que mais exigiam habilidades digitais em 2002 e 2016, registraram uma pequena queda na taxa, que passou de 97 para 94. Muro especula que, graças ao desenvolvimento da área, mais desenvolvedores estão trabalhando como gerentes de outros desenvolvedores, o que significa fazer um trabalho de programação menos direto. 

No outro lado da ponta, estão trabalhos como aqueles executados por Steve Engle, um operário de 53 anos que trabalha na fábrica de motores da Cummins Inc, em Seymour, Indiana. 

Uma de suas funções é inserir 56 parafusos na caixa do volante de cada motor à medida que o material se desloca pela linha, além de apertar os parafusos em uma determinada sequência. Ele agora utiliza uma ferramenta conectada à uma tela de computador, que o direciona ao parafuso certo e impede que ele aperte o errado. Com ajuda do monitor, Engle também consegue calcular quando o parafuso está suficientemente apertado. “A máquina não permite que eu cometa um erro”, diz. 

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