Vale a pena pagar por VPN? Veja opções para se proteger na internet

Muitos dos serviços de VPN mais famosos são menos confiáveis hoje do que eram no passado, porque foram comprados por empresas maiores com históricos duvidosos

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Por Brian X. Chen
Atualização:
As pessoas que se beneficiam de uma VPN são aquelas que trabalham em áreas de alto risco e que podem ser alvos Foto: Pixabay

Por mais de uma década, os especialistas em segurança recomendaram usar uma rede privada virtual (VPN, na sigla em inglês) para proteger seu tráfego na internet de pessoas mal intencionadas tentando bisbilhotar sua vida. Mas, assim como os gadgets ficam desatualizados, o mesmo acontece com alguns conselhos sobre tecnologia.

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Estou cansado de pagar por VPN, um serviço que alega proteger sua privacidade quando você está conectado a uma rede de Wi-Fi pública em uma cafeteria, aeroporto ou hotel. A realidade é que a segurança da internet melhorou tanto nos últimos anos que os serviços de VPN, que cobram mensalidades tão caras quanto as da Netflix, oferecem proteção supérflua para a maioria das pessoas preocupadas com a privacidade, segundo alguns pesquisadores de segurança.

Muitos dos serviços de VPN mais famosos são menos confiáveis hoje do que eram no passado, porque foram comprados por empresas maiores com históricos duvidosos. Isso é a gota d'água quando se trata de usar um serviço de VPN, que intercepta nosso tráfego na Internet. Se você não pode confiar em um produto que afirma proteger sua privacidade, de que adianta tê-lo?

“Confiar nessas pessoas é realmente crucial”, disse Matthew Green, cientista da computação que estuda criptografia, a respeito dos provedores de VPN. “Não há um modo adequado de saber o que eles estão fazendo com seus dados, sobre os quais eles têm muito controle.”

Aprendi isso por experiência própria. Durante vários anos, assinei um serviço de VPN famoso chamado Private Internet Access. Em 2019, vi a notícia de que o serviço tinha sido adquirido pela Kape Technologies, empresa de segurança de Londres. O antigo nome da Kape era Crossrider, uma empresa que tinha sido criticada por pesquisadores do Google e da Universidade da Califórnia por desenvolver malware.Cancelei imediatamente minha assinatura.

Nos últimos cinco anos, a Kape também comprou vários outros serviços de VPN famosos, entre eles o CyberGhost VPN, o Zenmate e, no mês passado, o ExpressVPN, em um acordo no valor de US$ 936 milhões. Este ano, a Kape ainda comprou um grupo de sites de análise de VPN que concede as melhores avaliações aos serviços de VPN que a empresa possui.

Uma porta-voz da Kape disse que a Crossrider, que há muito deixou de operar, era uma plataforma de desenvolvimento que foi mal utilizada por aqueles que distribuíam malware. Ela disse que os sites de análise de VPN da Kape mantinham seus padrões editoriais independentes.

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“Isso meio que abre um precedente preocupante do ponto de vista do consumidor”, disse Sven Taylor, fundador do blog de tecnologia Restore Privacy. “Como o usuário comum procura na internet informações sobre o produto, será que ele vai ter conhecimento de que aquilo que está lendo pode ter sido escrito pela mesma empresa que é dona do produto final?”

Uma ressalva: as VPNs ainda são ótimas para alguns usos, como em países autoritários, onde os cidadãos usam a tecnologia para fazer parecer que estão usando a internet em outros lugares. Isso ajuda a dar a eles acesso ao conteúdo online que normalmente não podem ver.Mas, como ferramenta de privacidade convencional, não é mais uma solução ideal.

Isso me fez cair em uma confusa busca por alternativas para não pagar por uma VPN. Acabei usando algumas ferramentas da internet para criar minha própria rede privada gratuitamente, o que não foi fácil. Mas também aprendi que muitos usuários podem nem mesmo precisar mais de uma VPN.

Abaixo, explico o que você precisa saber.

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O que mudou em relação às VPNs

Há bem pouco tempo, a maioria dos sites não tinha mecanismos de segurança para impedir que pessoas mal intencionadas espionassem o que as outras estavam fazendo ao navegar na internet, o que abriu portas para o sequestro dos dados delas. Isso ajudou os serviços de VPN a se tornarem um produto de segurança indispensável. Os provedores de VPN se ofereciam para ajudar a camuflar as informações de navegação das pessoas, criando um túnel criptografado em seus servidores, através do qual passava todo o tráfego online.

Mas, nos últimos cinco anos, a internet passou por mudanças imensas. Muitos defensores da privacidade e empresas de tecnologia pressionaram os desenvolvedores para reescreverem seus sites para oferecer suporte a HTTPS, um protocolo de segurança que criptografa o tráfego e resolve a maioria dos problemas já mencionados.

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Você provavelmente já viu o símbolo do cadeado na barra de endereços de seu navegador. Um cadeado trancado indica que um site está usando HTTPS; já um aberto, significa que não está e, portanto, é mais suscetível a ataques. Hoje em dia, é raro se deparar com um site que exiba um cadeado destrancado; 95% dos 1.000 principais sites atualmente são criptografados com HTTPS, de acordo com o W3Techs, site que compila dados sobre tecnologias da web.

Isso significa que as VPNs não são mais uma ferramenta indispensável quando a maioria das pessoas navega na internet em uma rede Wi-Fi pública, disse Dan Guido, CEO da Trail of Bits, empresa de segurança cibernética.

“É muito difícil encontrar casos em que as pessoas foram prejudicadas por se conectarem no Wi-Fi do aeroporto, da cafeteria ou do hotel”, disse ele. Atualmente, acrescentou ele, as pessoas que se beneficiam de uma VPN são aquelas que trabalham em áreas de alto risco e que podem ser alvos, como jornalistas que se correspondem com fontes confidenciais e executivos de negócios que carregam segredos comerciais durante viagens ao exterior.

Alternativas Simples

Então o que fazer? Felizmente, a maioria de nós pode se proteger online com medidas básicas que, ao contrário dos serviços de VPN, são gratuitas, disse Guido.

Vale ressaltar que as pessoas devem manter o software de seus dispositivos e navegadores atualizados porque as novas atualizações incluem proteções de segurança contra as vulnerabilidades mais recentes, afirmou.

Outra medida importante é configurar suas contas online com verificação em duas etapas, o que exige duas formas de autenticação de sua identidade antes de permitir que se faça login. Essa proteção pode ajudar a impedir que invasores tenham acesso aos seus dados se conseguirem suas senhas.

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Para aqueles que ainda preferem não navegar usando uma rede Wi-Fi pública, existe uma solução fácil presente na maioria dos smartphones. Usar seu dispositivo como roteador de Wi-Fi, um recurso para compartilhar a conexão de dados de um smartphone com outros dispositivos, como seu computador, que pode ser ativado nas configurações do telefone. Muitas operadoras não cobram taxa extra para usar este recurso, embora utilizá-lo implique em uma redução na cota mensal de dados em seu plano.

Como criar sua própria VPN

Algumas pessoas (inclusive eu) ainda se beneficiam do uso de VPN, e nem todos os provedores são ruins.

O Wirecutter, site do New York Times que testa produtos, recomenda alguns que ainda são confiáveis. Mas se sua próxima VPN for comprada por uma empresa maior, você terá que verificar a confiabilidade dela outra vez. Estou cansado de apanhar, então criei meu próprio serviço de rede privada.

Recorri ao Algo VPN, uma ferramenta gratuita desenvolvida por Guido, que constrói automaticamente um serviço de VPN na nuvem, protegendo a minha atividade de navegação ao me permitir criar um túnel virtual em um servidor externo para a passagem do meu tráfego de internet.

Seguindo as instruções listadas no site do projeto Algo VPN, configurei um serviço na nuvem onde minha VPN estaria localizada na plataforma de computação em nuvem da Amazon, um provedor respeitável e amplamente confiável. Os demais passos envolveram a instalação de alguns scripts em meu computador e a digitação de comandos para gerar minha VPN.

Após cerca de uma hora, configurei uma VPN que funcionou perfeitamente. A melhor parte? Além de ser gratuita, não preciso mais me preocupar se quem oferece o serviço é confiável, pois quem opera a tecnologia sou eu. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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