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Você consegue jantar fora sem pegar seu celular?

Em Nova York, restaurante sugere que clientes coloquem smartphone em caixa; os resultados podem ser surpreendentes

Por Claire Ballentine
Atualização:
As simpáticas caixinhas em que os clientes do Hearth podem guardar seus celulares Foto: Jeenah Moon/NYT

Quando Marc e Kara Lyons levam sua família para um belo jantar, normalmente entregam celulares aos dois filhos para que eles joguem games e assistam vídeos no YouTube. Às vezes, os pais tomam os dispositivos de volta para verificar seus próprios e-mails e mensagens de texto.

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Mas em uma noite recente no Hearth, um restaurante de inspiração italiana no East Village, em Nova York, os garotos, de 5 e 7 anos, fizeram pinturas em papel branco com giz de cera. Já os pais falaram sobre os pontos altos de sua viagem de Nova York à sua casa em Fort Lauderdale, Flórida, para celebrar o aniversário de 40 anos de Marc.

O motivo do jantar sem tecnologia? Os celulares estavam guardados em uma pequena caixa decorativa em sua mesa. É uma iniciativa que Marco Canora, chef e dono do Hearth, iniciou em novembro para ajudar os clientes a se desconectar de seus dispositivos por um tempo.

O vício em tecnologia se tornou recentemente uma das principais preocupações do Vale do Silício. Olhar para os smartphones durante muito tempo está começando a gerar efeitos diferentes sobre nossa cognição, bem-estar e produtividade. Recentemente, o Google disse que vai ter uma série de atualizações no Android para aumentar o bem estar digital. Já a Apple, sob pressão de dois grandes investidores, disse que sua próxima versão de seu sistema operacional móvel fornecerá aos usuários estatísticas sobre o tempo gasto nos dispositivos.

Empresas que não são do setor de tecnologia também estão lidando com o problema. A FedEx pede que os funcionários deixem seus telefones pessoais em casa, enquanto executivos da Brown Parker & DeMarinis Advertising e da United Wholesale Mortgage impuseram restrições ao uso de celulares de seus funcionários para melhorar a produtividade.

Liberalismo. Alguns restaurantes, irritados quando os clientes fotografam a comida, já colocam limites no uso de celulares em suas instalações. Outros, inclusive em cidades como Chicago e San Antonio, os baniram totalmente. Já o Hearth está adotando uma abordagem mais branda: não há regras, apenas as caixas em cada mesa. Uma nota no topo diz: "Abra-me!" Dentro da caixa, há um convite para esconder o seu telefone durante a refeição.

Há dois anos, Marco Canora começou a pensar sobre como tentar conter o comportamento cada vez mais distraído de seus clientes. No início, ele considerou a possibilidade de perguntar aos convidados se eles queriam deixar seus telefones num estande, como se fosse um casaco, mas ele temia que isso pudesse gerar discussões intermináveis entre casais na frente do restaurante. E ele não queria ser responsável por telefones perdidos ou esquecidos.

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A família Lyons, durante um jantar no Hearth: forca e jogo da velha no lugar do YouTube Foto: Jeenah Moon/NYT

Sua outra ideia era pedir aos clientes pelos seus telefones, assim que eles se sentassem, mas não queria adicionar outra tarefa para seus funcionários. 

Depois de muito tempo, ele finalmente se decidiu pelas caixinhas, compradas pela gerente do restaurante, Christine Wright, em um site online de quinquilharias e antiguidades. Não há duas caixas iguais – algumas são caixas de bombons vintage, outras caixas antigas de charutos. Elas complementam a decoração extravagante do restaurante, que tem copos diferentes uns dos outros.

Os servidores ignoram as caixas, fazendo com que os hóspedes descubram a opção por conta própria. "Não acho que exista alguém que esteja chegando e sentindo que estamos sendo condescendentes com eles", disse Erik Gullberg, um garçom e bartender que trabalhou no Hearth por quatro anos. 

Poucos convidados conseguem ficar sem verificar o telefone, durante toda a refeição, disse Canora. Se o acompanhante de alguém sai para ir ao banheiro, lá se vai o telefone. “Isso realmente reforçou nossa crença de que esse é um verdadeiro vício”, disse Canora. "Você vê as pessoas sucumbirem ao seu vício a noite toda."

Mesmo que os clientes não atendam completamente à recomendação, ele disse, acha melhor do que nada. As pessoas geralmente conversam sobre o impacto da tecnologia em suas vidas.

Alguns clientes dizem que não precisam da caixa para evitar a tecnologia durante a refeição. Janie Quinn e Elissa Epstein, amigos meus que moram em Manhattan, notaram a caixa, mas não colocaram seus telefones dentro. 

“Minha bolsa funciona assim. Eu não preciso de uma caixa”, disse Quinn. Ela temia que pudesse esquecer seu telefone e sair sem ele. 

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Joy Habian, que mora em Tribeca, disse que gostaria de poder esquecer seu telefone na caixa, notando o grande papel da tecnologia em sua vida. Embora ela tente não checar seu telefone enquanto come em restaurantes, disse que só tem sucesso 75% do tempo."É apenas um hábito inconsciente", disse ela. "Não é racional ou significativo."No Hearth, ela colocou o telefone no recipiente decorativo e tentou se concentrar mais em apreciar sua refeição.

Instagram. Uma das maneiras que os clientes costumam usar seus telefones durante as refeições é postar fotos de seus alimentos no Facebook ou no Instagram, muitas vezes marcando o restaurante e fornecendo uma fonte de publicidade gratuita. As caixas do Hearth levaram menos pessoas a fazer isso.

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Alguns membros da equipe de Hearth inicialmente se preocuparam que isso prejudicaria o negócio. Em última análise, Canora decidiu que o público fiel que o Hearth conseguiu em seus 14 anos significava que não precisava depender do Instagram.

Isso não significa que a plataforma de mídia social não tenha conteúdo sobre o Hearth. "Nós vemos pessoas postando as caixas no Instagram, então eu não sei se isso é uma vitória ou uma derrota, mas eu ainda acho que é bom para nós", brincou Wright.

Ainda assim, ela disse que a maioria dos clientes não tinha ouvido falar das caixas. O restaurante ainda não recebeu reações negativas dos clientes, e a maioria oferece um feedback entusiasmado.

Marc Lyons se tornou certamente um fã da estratégia do Hearth, observando que ele e sua esposa gostaram mais de sua conversa sem a distração. Seus filhos pediram os telefones apenas uma vez e ele rapidamente descartou o pedido. Em vez disso, os meninos se divertiram com o jogo da velha. Marc também os ensinou a jogar forca. Ele está até planejando copiar a ideia de Canora. "Dissemos que deveríamos ter uma caixa em casa", disse Lyons./ TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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