Wolo TV: novo serviço quer fortalecer conteúdo na internet produzido por pessoas negras

Plataforma lançada em dezembro foca em produções com histórias regionais do Brasil e visa ampliar audiência entre negros

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Por Evandro Almeida Jr.
Atualização:
O lançamento oficial da WoloTv foi em dezembro de 2020 com a série Casa da Vó Foto: Divulgação/Casa da Vó

Wolo é uma expressão comum no oeste africano que significa “Eita”, “Vixi”, “Ó lá”. É com essa intenção de causar surpresa que a Wolo TV, um serviço de pay-per-view afro-brasileiro, chegou ao mercado. Com tantas opções de serviço de streaming, a ideia da plataforma é valorizar histórias e retratar as diferentes regionalidades do povo preto no Brasil.

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A Wolo TV foi fundada pelo brasileiro Leandro Lemos e o angolano Licínio Januário. O lançamento oficial foi em dezembro de 2020 com a série Casa da Vó estrelada por Margareth de Menezes e com participação do rapper Rincon Sapiência. O objetivo era claro: usar os músculos da indústria audiovisual brasileira para contar histórias mais diversas. 

“Eu tinha uma imagem do Brasil graças às novelas e filmes levados ao meu país. Mas, quando vim estudar aqui, vi que a realidade, especialmente do povo preto, era diferente da que era exposta nas produções. Com a Wolo TV quero mostrar quem de verdade são os negros no Brasil, seus gostos e suas risadas. E quero exportar isso também”, conta Januário. É um projeto que, aos poucos, vai se realizando. Em dois meses de lançamento, o serviço teve 35 mil acessos orgânicos em mais de 10 países - incluindo o mercado africano de língua portuguesa. 

Para turbinar a capacidade da plataforma, porém, os fundadores tiveram de colocar os pés fora do Brasil. A base da empresa fica nos Estados Unidos justamente para tentar atrair investimento estrangeiro. “É impossível e também proposital não conseguir financiamento no Brasil. Fomos em muitas portas e só recebemos não. Lá fora, eles percebem um mercado a ser explorado no Brasil, uma população negra gigante e que não tem conteúdo que a represente como ela realmente é”, diz ele. 

Por enquanto, a empresa atua no modelo depay-per-view, com a compra avulsa de conteúdo. Segundo Januário, a meta da Wolo TV é chegar a cinco milhões de usuários ainda em 2021. Para isso, além de investir na produção de conteúdo original, pretendem comprar produções feitas por terceiros. “Vejo muita coisa boa sendo produzida e o que é necessário agora é divulgação e espaço. A tecnologia audiovisual é uma ótima ferramenta para ampliarmos essas vozes,” diz. 

Com exclusividade para o Estadão, a plataforma revela que mais dois lançamentos devem chegar em março: a animação “As Aventuras de Ami” e a série “Punho Negro”, focada em uma super-heroína negra (ambas produções nacionais).

Boa hora 

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Nina da Hora, cientista da computação e voz importante no movimento negro brasileiro, diz que é chegada a hora de surgirem mais plataformas como essa, especialmente para a valorização da cultura afro-brasileira.

“Sempre sofremos pelo o que falam sobre os negros nas produções audivisuais: muitas vezes tratados com violência e nos desmerecendo profissionalmente. Em um ambiente de conversa com negros de diferentes classes e com narrativas tendo o negro no centro, a representatividade é enorme”, diz. 

O grande desafio da Wolo TV, então, seria sobreviver diante da oferta de tantas plataformas de streaming. “Ter muitos serviços de streaming ou pay-per-view é confuso e caro. Ao meu ver, no longo prazo só alguns poucos serviços permanecerão e serão aqueles que o público vai sentir afinidade e identificação”, diz Luís Bonilauri, diretor executivo de mídia e entretenimento da Accenture. A disputa, porém, deixa brecha. 

“Os players tradicionais têm uma briga muito grande, mas com isso surgem espaços para os players locais trabalharem”, diz ele. A equação, segundo ele, precisa ser solucionada com produtos de qualidade. Em outras palavras, para a Wolo seguir forte, terá de produzir muitos “wolos” nos telespectadores. 

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