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5 mudanças drásticas planejadas para a nova fase do Uber

Presidente executivo da empresa, Travis Kalanick, renunciou ao cargo em definitivo; entenda o que deve mudar na empresa nos próximos meses

Por Claudia Tozzeto
Atualização:
Travis Kalanick, fundador e CEO do Uber, pediu licença por tempo indeterminado da companhia Foto: Reuters

O aplicativo de carona paga Uber tem passado por mudanças importantes, que culminaram na renúncia de Travis Kalanick ao cargo de presidente executivo, anunciada ontem. A saída dramática de Kalanick, que foi afastado sob forte pressão dos investidores do Uber, é apenas uma das profundas mudanças que a empresa deverá passar nos próximos meses para sair de uma grave crise. Desde o afastamento do executivo, na semana passada, um conselho executivo é responsável por gerir o Uber. A empresa já iniciou a busca por um novo presidente executivo e mantém a seleção de um novo diretor de operações.

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Em paralelo a isso, recomendações listadas após uma ampla investigação na empresa conduzida pelo escritório de advocacia do ex-advogado-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, serão colocadas em prática nos próximos meses. O trabalho incluiu mais de 200 entrevistas com funcionários do Uber, contribuições anônimas de funcionários e também análise de cerca de 3 milhões de documentos. O relatório final de Holder foi divulgado na semana passada. Confira, a seguir, as cinco principais mudanças que devem acontecer no Uber nos próximos meses:

1. Liderança compartilhada

Com a saída de Travis Kalanick, o Uber terá de arranjar um novo presidente executivo. A empresa também está em buscaum chefe de operações -- a vaga está aberta desde março, mas a empresa ainda não conseguiu encontrar um candidato para assumir o posto. De acordo com o relatório da investigação, esse profissional será parceiro do presidente executivo e deve ser uma pessoa com experiência em supervisionar empresas com estruturas complexas e que tenha conhecimento em diversidade, ou seja, em liderar times compostos por profissionais de etnias e gêneros diferentes.

A empresa também deve definir métricas claras de desempenho para o time executivo. A melhoria da diversidade e inclusão, dois aspectos que devem se tornar pilares da nova fase do Uber, deverão ser monitorados por métricas, que serão consideradas na avaliação desses executivos. Aspectos como satisfação dos empregados e compliance também serão adotados na avaliação de desempenho.

Em relação à diversidade, o atual chefe de diversidade, Bernard Coleman, ganhará mais poder dentro do Uber. Segundo o relatório, ele deverá reportar diretamente o presidente executivo e ao diretor de operações da empresa. Além disso, um dos executivos do alto escalão do Uber terá a tarefa de monitorar se as recomendações serão amplamente adotadas pela empresa, com métricas. Ele terá autoridade total sobre a condução do processo de mudança. O executivo que ficará a cargo da tarefa ainda não foi definido.

2. Conselho mais atuante

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Outras recomendações dizem respeito à composição e função do conselho de administração. Segundo o relatório, o conselho deve ser reestruturado nos próximos meses para incluir mais membros independentes. Além disso, um comitê pode ser criado para supervisionar se o Uber está melhorando seus indicadores relacionados a compliance, diversidade e ética.

3. Reformulação dos valores

A lista de 14 valores do Uber -- que se tornou símbolo da cultura agressiva da empresa no mercado -- será reformulada, segundo as recomendações do conselho e dos funcionários. "É vital que eles reflitam comportamentos mais inclusivos e positivos", diz Holder, no relatório. Novamente, a importância da diversidade para a empresa deve ser um dos pontos reforçados na reforma. Além disso, valores que já foram usados por funcionários para justifical mal comportamento serão retirados da lista, bem como valores que são redundantes. Na prática, a lista deve diminuir nos próximos meses.

O relatório cita, especificamente, quatro valores "problemáticos" para a nova fase da empresa: Let Builders Build (Deixe os construtores construírem, em tradução livre), Always be hustlin (termo para determinação ou fazer algo com energia, mas que também é, pelo Dicionário de Cambridge, uma gíria que remete a faltar com a ética ou cometer atos ilícitos para ganhar dinheiro), Toe stepping (que se refere a interferir em assuntos que são de responsabilidade de outra pessoa) e Principle confrontation (que tem sido usado pelo próprio Kalanick para justificar os confrontos do Uber com o governo em diversas cidades do mundo). Segundo as recomendações, todos os executivos em posições de liderança terão de "abraçar" os novos valores e comunicá-los aos funcionários.

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4. Gestão de pessoas mais forte

De acordo com o relatório, a área de recursos humanos do Uber precisa ter o apoio dos executivos na liderança do aplicativo para que a área seja vista como uma autoridade dentro da empresa. Além disso, os profissionais desse setor deverão receber treinamento para entender como tratar denúncias sobre discriminação ou assédio. Com relação à diversidade, é preciso que o responsável pelo RH do Uber divulgue estatísticas sobre o assunto na empresa anualmente, com metas de melhoria.

Alguns processos, que são básicos na maioria das empresas, foram destacados por Holder no relatório. A partir de agora, o Uber precisará limitar o consumo de álcool em reuniões e jantares corporativos. A empresa também deverá proibir relacionamentos íntimos ou amorosos entre profissionais, quando eles estão em níveis hierarquicos diferentes na mesma linha de comando.

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5. Inclusão de profissionais

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Outra recomendação que será adotada nos próximos meses será a de recrutar mais candidatos negros e hispânicos, além de mulheres, nos processos de seleção do Uber. De acordo com o relatório, uma mulher e um representante de uma minoria sempre deverão estar contemplados no processo de seleção para uma vaga. O relatório também recomenda que o Uber adote um processo de análise "cega" de currículos, para evitar que os líderes privilegiem uma determinada etinia ou gênero nas contratações.

A empresa também deverá atualizar sua política contra discriminação e assédio, inclusive para contemplar casos em que funcionários do Uber sejam vítimas de funcionários de outras empresas. A empresa também deverá adotar políticas de trabalho mais flexíveis, com opções de trabalho remoto, por exemplo, para permitir que profissionais que tenham filhos pequenos possam trabalhar na empresa. A companhia também vai adotar uma política de promover jantares e outros eventos no período noturno mais cedo, de modo que os funcionários possam voltar para casa e ficar com suas famílias.

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