A difícil matemática das ações da Microsoft

Papéis da dona do Windows tiveram alta recente graças à recompra de ações

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Por Redação Link
Atualização:

AP

 

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A Microsoft vai de vento em popa. No final do mês passado, a empresa realizou uma façanha não observada desde que Bill Gates era seu presidente executivo: o preço das suas ações registraram novas altas.

Essa proeza estava demorando – o último grande aumento dos papéis foi em 27 de dezembro de 1999 – a ponto de a Microsoft atrair mais comentários sarcásticos do que alguma comemoração. “Se vocês permaneceram com eles nos últimos 16 anos, congratulações por finalmente entrarem no preto”, escreveu o Bespoke Investment Group para seus clientes

Embora o Windows e o Office, as duas grandes galinhas dos ovos de ouro da Microsoft, tenham registrado lucros e seu novo presidente executivo, Satya Nadella, venha tentando uma reviravolta na companhia, há boas razões para ser cético quanto às altas registradas. Em primeiro lugar, as valorizações atuais não são reais: o pico de US$ 53,66 em 1999 equivaleria a US$ 76,56 nos dias de hoje, em números ajustados pela inflação. E embora essa alta tenha se repetido na semana passada, elas ainda estão sendo negociadas abaixo dos US$ 55.

Em dólares reais, a Microsoft ainda tem um longo caminho a percorrer. Em segundo lugar, para alcançar o atual preço das suas ações, a empresa realizou recompras de suas ações, uma forma de engenharia financeira que não só é popular como também controversa. Não há nada intrinsecamente errado com recompras de papéis, disse Aswath Damodaran, professor de finanças na Universidade de Nova York. “Tudo depende da companhia, do momento e da maneira como isto é feito”, disse ele.

A Microsoft tem usado bem as recompras, embora essa necessidade de realizar tais operações mostre alguns dados incômodos sobre a companhia e sua atual situação. “Aplaudo a Microsoft por ser realista”, afirmou o professor. “As empresas de tecnologia vivem anos de cão. Ter 10 anos de idade no setor é como ter 70 anos no caso de uma empresa como a Procter & Gamble”, continuou Damodaran.

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A Microsoft começou a mostrar sua idade no final dos anos 90 e aos poucos acumulou autoconhecimento. “É como um senhor de 60 anos que está tranquilo consigo mesmo e começou a se cuidar.” Basicamente, disse ele, a Microsoft tem usado somas substanciais de dinheiro para mudar seu perfil no mercado acionário por meio de um enxugamento. Em dezembro de 1999 sua capitalização de mercado era superior a US$ 600 bilhões. Hoje é de só US$ 430 bilhões.

Há anos, a Microsoft vem recomprando sistematicamente suas ações, reduzindo o total em circulação no mercado. Howard Silverblatt, analista sênior de índices da S&P Dow Jones Indices, produziu uma tabela com os números. No decorrer de 10 anos até junho, a companhia gastou US$ 123,6 bilhões na recompra de ações. É um valor bem maior do que qualquer aplicação similar feita por alguma outra empresa – embora a Apple, com US$ 90,2 bilhões, esteja perto.

Qualquer companhia que reduza o número de suas ações por meio de recompras gera grandes benefícios. Se as receitas continuam as mesmas, mas o número de ações cai, então as receitas por ação aumentam, como mágica. Isso ajuda os executivos cujas remunerações estão ligadas às metas de ganhos por ação, que repentinamente se tornam mais fáceis de atingir.

Antes de a comissão de valores mobiliários liberar as regras para recompras em 1982, os dividendos eram o recurso mais utilizado para canalizar o dinheiro para os acionistas. Mas hoje a recompra é mais popular porque é um instrumento mais flexível para os diretores financeiros.

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“Os investidores sempre esperam que os dividendos sejam permanentes, como os cupons de juros de títulos – embora, legalmente, os dividendos possam ser cancelados – e eles ficam chocados quando isto ocorre”, disse Silverblatt. Já reduzir gradualmente o ritmo de recompras é algo mais facilmente aceito pelos mercados, acrescentou.

Além disso, as recompras ajudam a aumentar o valor das ações, embora isto seja difícil de provar, disse o economista Edward Yardeni. O efeito das recompras sobre os ganhos por ação é pura matemática, e é “muito insignificante se você entende isto porque as receitas da companhia não mudam, apesar de, ao que parece, elas impactam efeito sobre os mercados”. E também, ao comprar ações nos momentos oportunos, as empresas podem oferecer suas próprias ações a um valor mais alto.

A Microsoft tem usado muito o recurso, disse Damodaran. Em julho, ela realizou uma baixa contábil do valor da sua desastrosa aquisição da Nokia por US$ 7,5 bilhões. “A Microsoft não usou bem o dinheiro dessa forma”, disse ele. “Os executivos com frequência não usam. É muito melhor simplesmente devolver o dinheiro para os acionistas.”

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/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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