Saiba como o Facebook está investindo na 'visão artificial'
Em meio ao uso ilícito de dados, rede social dá impulso a sua tecnologia de reconhecimento facial; uso do recurso é criticado na Europa e Estados Unidos por risco de monitoramento e por violar a privacidade das pessoas
Por Natasha Singer
Atualização:
Quando o Facebook lançou a tecnologia de reconhecimento facial na União Europeia neste ano, defendeu que o mecanismo ajuda a proteger a identidade na internet. “Um estranho, usando sua foto, poderia se passar por você”, afirmou a empresa. Ao reativar a tecnologia – seis anos depois de ter parado de oferecê-la sob críticas de autoridades de privacidade –, porém, o Facebook assume um enorme risco para sua reputação.
PUBLICIDADE
A empresa tenta emplacar o uso da tecnologia num momento em que suas práticas de coleta de dados estão sob elevado nível de atenção nos Estados Unidos e na Europa. O motivo é o escândalo do uso ilícito de dados de 87 milhões de usuários pela consultoria britânica Cambridge Analytica. Mais de uma dezena de grupos de privacidade, autoridades e consumidores argumentam que o uso de reconhecimento facial pela empresa viola a privacidade das pessoas.
A situação também coloca a rede social no centro de um debate mais amplo e intensivo sobre como essa poderosa tecnologia deve ser tratada. Ela pode ser usada para identificar remotamente as pessoas pelo nome sem seu conhecimento ou consentimento. Especialistas em liberdades civis alertam que isso poderia permitir um sistema de vigilância em massa.
Banco de imagens. O reconhecimento facial funciona digitalizando rostos de pessoas sem nome em fotos ou vídeos e, em seguida, combinando os códigos de seus padrões faciais com os de um banco de dados de pessoas com seus nomes. O Facebook defende que os usuários têm controle sobre esse processo, mas críticos dizem que ninguém pode efetivamente controlar o recurso, pois o Facebook escaneia os rostos em fotos mesmo quando a configuração está desligada.
“O Facebook tenta explicar suas práticas de maneiras que o fazem parecer o mocinho, e que eles estão de alguma forma protegendo sua privacidade”, disse Jennifer Lynch, advogada sênior da Electronic Frontier Foundation (EFF), principal grupo de privacidade online. “Mas não dá para entender o fato de eles estarem digitalizando todas as fotos.”
A história do Facebook em 30 fotos
1 / 22A história do Facebook em 30 fotos
Prólogo
Em 28 de outubro de 2003, Mark Zuckerberg lança o Facemash, um predecessor do Facebook. Usando fotos do sistema de alunos de Harvard, o site pedia aos... Foto: ReproduçãoMais
Início
Em 4 de fevereiro de 2004, quatro estudantes de Harvard fundam uma rede social voltada para estudantes da universidade,o Thefacebook: Mark Zuckerberg,... Foto: DivulgaçãoMais
Investimentos
Em junho de 2004, a rede social já havia se expandido para outras universidades e recebeu seu primeiro investimento, feito pelo investidor Peter Thiel... Foto: NYTMais
Plágio
Em 2004, os ex-colegas de Mark Zuckerberg em Harvard, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss entram com uma ação judicial contra o Facebook, alegando qu... Foto: NYTMais
1 milhão de amigos
Com Sean Parker na presidência, o Facebook conquista 1 milhão de usuários em 30 de dezembro de 2004. Meses depois, a empresa transfere sua sede para u... Foto: NYTMais
'Não, não, não'
Em março de 2006, o Yahoo oferece US$ 1 bilhão para comprar o Facebook, mas Mark Zuckerberg rejeita a proposta. Foto: NYT
Feed de notícias
Em setembro de 2006, o Facebook lança o News Feed (Feed de Notícias, em português): uma página que se atualizava automaticamente através de um algorit... Foto: ReproduçãoMais
Para menores
Inicialmente voltado para universitários de faculdades de renome nos Estados Unidos, o Facebook se abre, em setembro de 2006,para qualquer usuário a p... Foto: ReutersMais
Abertura
Em 2007, buscando superar rivais como o MySpace, o Facebook abre sua plataforma de dados (API, na sigla em inglês) para desenvolvedores criarem aplica... Foto: ReutersMais
Microsoft
Em outubro de 2007, a Microsoft adquire 1,4% das ações do Facebook, o que faz a empresa ser avaliada em US$ 15 bilhões. Foto: Reuters
Tchau, Myspace
Maior rede social do mundo até 2009, o MySpace é destronado da liderança pelo Facebook em maio daquele ano: segundo números da ComScore, a rede social... Foto: EstadãoMais
Fazenda Feliz
Lançado pela Zynga em 2010, FarmVille se torna o primeiro grande game a ser jogado dentro do Facebook. O jogo tinha um objetivo simples: o usuário ass... Foto: ReproduçãoMais
Curtida
Em junho de 2010, a empresa lança uma de suas marcas registradas: o botão de "Like" – aqui no Brasil, o like é chamado de curtida. Em Portugal, ele é ... Foto: ReutersMais
A Rede Social
Estreia em outubro de 2010 o filmeA Rede Social, que conta a história dos primeiros anos do Facebook. O filme, dirigido por David Fincher (Seven)e com... Foto: ReproduçãoMais
Mensageiro
Em 9 de agosto de 2011, o Facebook lança o Facebook Messenger: inicialmente um substituto para o chat interno que havia na rede social, o Messenger se... Foto: ReutersMais
Linha do tempo
Em setembro de 2011, o Facebook introduz a Linha do Tempo (Timeline), uma função que alterava os perfis dos usuários: no lugar de informações detalhad... Foto: ReproduçãoMais
Abertura de capital
Em 18 de maio de 2012, o Facebook realiza sua abertura de capital na bolsa de valores Nasdaq, em Nova York: com preços iniciais de US$ 38, as ações da... Foto: ReutersMais
'Bota no Insta'
Criado pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, a rede social de fotografias Instagram é comprada pelo Facebook por US$ 1 bilhão e... Foto: NYTMais
Internet.org
Em parceria com seis empresas (Samsung, Ericsson, MediaTek, Nokia, Opera e Qualcomm), Mark Zuckerberg lança o Internet.org em agosto de 2013. A intenç... Foto: ReutersMais
Zap Zap
Em fevereiro de 2014, o Facebook anunciou a aquisição do WhatsApp, um dos principais aplicativos de mensagem da atualidade, por US$ 21,8 bilhões (em v... Foto: ReutersMais
Reações
O velho botão de curtir ganhou novos companheiros em abril de 2016: desde então, as pessoas podem reagir às publicações dos amigos com "Amei", "Haha" ... Foto: ReutersMais
Feed de Notícias
Criticado pela disseminação de notícias falsas, o Facebook decidiu reagir em janeiro de 2018: naquele mês, a empresa disse que iria alterar seu algori... Foto: ReutersMais
Rochelle Nadhiri, porta-voz do Facebook, diz que o sistema da rede social analisa os rostos para verificar se eles combinam com aqueles que têm suas configurações de reconhecimento facial ativadas. Se o sistema não consegue encontrar uma correspondência, não identifica a face desconhecida e imediatamente apaga os dados faciais.
Privacidade. Na União Europeia, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) exige que as empresas obtenham consentimento explícito e “livremente dado” antes de coletar informações sensíveis, como dados faciais. Há especialistas que afirmam que o Facebook tenta influenciar as pessoas a aceitar.
Publicidade
“O Facebook, de alguma forma, ameaça que, se eu não aceitar o reconhecimento facial, estarei em perigo”, afirma Viviane Reding, ex-comissária de Justiça da Comissão Europeia. “Isso vai completamente contra a lei europeia, pois tenta manipular o consentimento.”
Na Irlanda, onde fica a sede internacional do Facebook, a Comissão de Proteção de Dados informou que órgãos “impuseram uma série de consultas específicas ao Facebook em relação a essa tecnologia”. As respostas da companhia estão atualmente sob análise.
Nos Estados Unidos, o Facebook enfrenta uma ação coletiva em que cidadãos alegam que a prática viola uma lei de privacidade do Estado de Illinois. Se a empresa for condenada, a indenização pode chegar a bilhões de dólares. Em maio, um tribunal concedeu ao Facebook uma solicitação para adiar a audiência sobre o caso. “Esse processo não tem mérito e vamos nos defender vigorosamente”, disse a conselheira do Facebook, Nikki Sokol.
O Facebook não é o único gigante da tecnologia a adotar o reconhecimento facial. Nos últimos anos, Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft também registraram patentes de aplicação com a tecnologia. /TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO